Novo ‘Aranhaverso’ submete seus heróis a regras ousadas
Ninguém esperava, em 2019, que Homem-Aranha no Aranhaverso fosse virar um fenômeno da cultura pop. A animação, de traços coloridos e até ousados demais para o universo dos super-heróis nos cinemas, foi celebrada pela crítica e pelo público, alcançando US$ 400 milhões de bilheteria e vencendo o Oscar de melhor animação. Uma trajetória irretocável, que chega ao segundo filme com Homem-Aranha: Através do Aranhaverso.
Já em cartaz, a sequência traz Miles Morales, queridinho do público que consegue ser ainda mais divertido e interessante do que Peter Parker, já crescido. Ele viu sua vida se transformar com a picada de aranha que lhe deu poderes e, agora, tenta conciliar isso com a consciência de que há um universo paralelo com Gwen, a Mulher-Aranha que conquistou o coração do rapaz de Nova York.
É uma continuação natural da história, mas que mostra como nem a Sony Pictures esperava tal sucesso – muito menos os roteiristas Phil Lord e Christopher Miller. Afinal, contrariando expectativas, Através do Aranhaverso é um interlúdio. É um filme-intervalo entre o primeiro longa-metragem e o terceiro, Beyond the Spider-Verse (algo como “Além do Aranhaverso”, em tradução livre e literal). Tem começo, mas não tem um fim – como o recente Velozes e Furiosos 10.
Aqui, os diretores Joaquim dos Santos (da série Avatar: A Lenda de Aang), Kemp Powers (de Soul) e Justin K. Thompson trabalham ao longo de 140 minutos para criar as regras desse multiverso de Aranhas e, principalmente, inserir Miles Morales e Gwen Stacy em normas que, antes, não estavam necessariamente estabelecidas. Afinal, o primeiro filme tem a preocupação de ser bom. Este novo, enquanto isso, quer expandir ainda mais o universo.
Para isso, muito do que funcionou em Homem-Aranha no Aranhaverso é deixado de lado. Morales, que agora precisa enfrentar os desafios do multiverso, não pode apenas perambular pelas ruas de Nova York pensando em Gwen. Agora precisa agir como adulto. É uma espécie de Loki, a série da Marvel, mas com toda a roupagem da animação da Sony.
NOVA SÉRIE
Pode parecer ruim por um lado, minimizando a inocência do primeiro longa, mas também traz a certeza de que essa história de Miles Morales ainda tem espaço. Ao site Collider, Lord e Miller confirmaram que estão trabalhando na criação de uma série de Homem-Aranha Noir, com a voz de Nicolas Cage – que poderá estar envolvido na produção, com atores reais.
É um universo lucrativo e a Sony Pictures não deve largar o osso, ainda mais com tantos outros filmes sendo desenvolvidos ao redor do Homem-Aranha (como Venom 3, Kraven, o Caçador, Madame Teia, El Muerto e mais) que podem usar Aranhaverso como trampolim.
Também ao Collider, Miller e Lord confirmaram que Homem-Aranha: Através do Aranhaverso era para ser uma única história, mas acabaram por dividi-la em duas, confirmando o terceiro filme da franquia. “Percebemos que estávamos tentando juntar dois filmes em um. E percebemos que o que se tornou esse filme era seu próprio filme completo, tinha começo, meio e fim. Miles começa de uma maneira e fecha o círculo, é uma pessoa diferente que cresceu e tem uma atitude completamente diversa no final”, explicou a dupla ao site.
De fato, os personagens podem até ter um arco, mas não há fim nem a história é vibrante. Como aconteceu em Harry Potter e as Relíquias da Morte ou, ainda, em Jogos Vorazes: A Esperança, um capítulo final quebrado em dois guarda muito mais ação para a segunda parte do que para a primeira. A parte inicial acaba servindo para estabelecer ideias e novos personagens e a segunda encerra a trama com o conflito. Assim, o vilão Mancha acaba ficando em segundo plano, enquanto vilões inesperados surgem no terceiro ato, deixando o desenvolvimento para depois. Fica a sensação desconfortável de conversa interrompida.
BELO VISUAL
No entanto, não dá para ignorar: o visual do filme continua sendo algo de cair o queixo. Depois de Gato de Botas 2 surpreender no comecinho do ano com uma estética claramente inspirada em Aranhaverso, Homem-Aranha: Através do Aranhaverso dobra a aposta e faz algo mais ousado. Cada personagem tem uma estética – e isso, em um filme que explora mais esses universos, é levado aos mundos dos heróis.
O mundo de Gwen, por exemplo, parece saído de uma aquarela. Um abutre no começo do filme parece ter os traços de Da Vinci. E por aí vai. Segundo a Sony Pictures, mais de mil artistas participaram do longa. Algo sem precedentes que, mesmo com uma história esquecível, coloca o filme em outro patamar. Dá para fazer coisas incríveis com desenhos.
“Algumas pessoas não gostam que o trabalho seja lixado e não tenha arestas. Para nós, as bordas são a parte alegre disso. Do ponto de vista da animação, em nossa carreira, tentamos levar a animação dos estúdios americanos a lugares mais radicais. É uma oportunidade de mostrar como as possibilidades são ilimitadas”, resume Lord para a IndieWire. “E essa história implora por isso.”
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.