• Novas tecnologias ajudam terrorismo a ampliar seu alcance

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  • 13/09/2021 17:01
    Por Fernanda Simas / Estadão

    Logo após o 11 de Setembro, o Ocidente, em especial o governo americano, se viu diante de um novo inimigo: Osama Bin Laden. Ao longo de 20 anos, a Al-Qaeda perdeu força, Bin Laden foi morto, mas a disseminação da ideologia jihadista continua forte, principalmente com o uso de redes sociais e celulares. Os grupos terroristas continuam se espalhando, principalmente em países da África e da Ásia, e derrotá-los não é tarefa simples.

    “Os ataques do 11 de Setembro mostraram aos grupos terroristas o que era possível fazer e, por muitos anos depois, eles tentaram replicar isso. Eventualmente, concluíram que repetir o 11 de Setembro não seria fácil, mas a inspiração continua”, disse ao Estadão Graeme Wood, professor de ciência política em Yale e autor do livro A Guerra do fim dos tempos: o Estado Islâmico e o mundo que ele quer.

    Se algo mudou desde então, é que o Taleban retomou o poder no Afeganistão após a retirada das tropas dos EUA, mas a proteção dada pelo grupo a organizações terroristas se tornou mais difícil. “Embora a ocupação americana (no Afeganistão) seja tratada como um fracasso, ela conseguiu algo importante. Antes, o Taleban não hesitava em encorajar a Al-Qaeda, que planejava ataques contra os EUA. Agora, o Taleban sabe que deve ser cauteloso sobre isso ou os EUA vão retaliar. A chance de outra invasão é baixa, mas a reação seria mais séria do que ter alguns mísseis atirados contra eles”, disse Wood.

    “O foco da Al-Qaeda, inicialmente, era afastar o Ocidente, em especial os EUA, do mundo muçulmano. Por isso uma série de atentados contra os EUA, com o 11 de Setembro sendo o ponto máximo. Depois disso, ela passou a ser o grande alvo e perdeu bastante capacidade de articulação, mas ainda tem presença em vários países”, disse o coordenador do Núcleo de Estudos e Negócios do Oriente Médio da ESPM, Gunther Rudzit. “Hoje, a Al-Qaeda continua muito presente, principalmente na região do Magreb.”

    Segundo Rudzit, um integrante da Al-Qaeda ainda é preocupante para governos ocidentais. Ayman al-Zawahiri fez parte da formação inicial do grupo, foi braço direito de Bin Laden e é o cérebro por trás da rede terrorista.

    “Ele continua solto e, por isso, continua representando o simbolismo de uma resistência ao ‘Grande Satã’, como eles se referem aos EUA. O foco da Guerra ao Terror desapareceu, a Al-Qaeda perdeu capacidade, surgiu o Estado Islâmico. Mas, considerando que (Abu Bakr) al-Baghdadi morreu, o Zawahiri continua sendo uma liderança importante. Os líderes desses grupos são reconhecidos no mundo muçulmano, ainda têm importância para servir de catalisadores e recrutadores.”

    O terrorismo no Oriente Médio, desde os ataques do 11 de Setembro, cresceu e se disseminou de forma metastática, como mostra Lawrence Wright, pesquisador do Centro de Direito e Segurança da Universidade de Nova York e autor de O vulto das duas torres: A Al-Qaeda e o caminho até o 11/9 e Anos de Terror. Segundo Wright, a Al-Qaeda se dividiu em diversas frentes e tem afiliadas no norte da África, na Europa e no Iraque, “cada braço com seu nível de autonomia, mas seguindo as normas ditadas pelos fundadores (do grupo)”.

    “Na época da Al-Qaeda, já existiam algumas células (na África), mas com ascensão do Estado Islâmico e disseminação da tecnologia, com internet, redes sociais e celulares, essas células conseguiram se propagar mais facilmente. Enquanto o Ocidente estava olhando para o Oriente Médio clássico, essas regiões começaram a ver tal propagação”, afirmou Rudzit.

    Radicalismo

    Wood afirma que o surgimento do EI foi possível pela existência de um território devastado pela guerra e sua propagação tem base no apelo religioso e até emocional. “A destruição da Síria durante a guerra civil e o fracasso do Iraque e de seu governo após a invasão americana, de 2003, foram fatores determinantes para a ascensão do Estado Islâmico. Após isso, a Síria se tornou um território livre para os jihadistas. Atualmente, o EI está ganhando força, mas nada parecido ao que tinha em 2015”, avalia.

    Com a ascensão do EI, os ataques terroristas ganharam outro patamar. Sequestros e assassinatos de jornalistas e trabalhadores de organizações humanitárias ocidentais em países do mundo muçulmano se tornaram mais comuns.

    Rudzit explica que o EI aprimorou o que a Al-Qaeda começou e deixou os governos ocidentais não mais em uma “guerra ao terror”, mas em um “estado de alerta permanente”. “Eles usam vídeos e até jogos online para se comunicar com possíveis recrutados. Eles conseguem propagar a ideologia jihadista bastante fundamentalista nos países muçulmanos em especial, mas também no Ocidente. A forma de ação que eles têm hoje é quase impossível de se eliminar.”

    As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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