Notícias do Corpo: A vitória é de todos
No dia 31 de dezembro milhares de pessoas de todos as idades, classes sociais, raça, credo, preferências sexuais, biotipo, grau de instrução, partiram em busca de seus ideais e desafios na corrida de São Silvestre em São Paulo. A corrida de rua talvez seja o único esporte em que todos os pecados capitais não são exacerbados e onde todos torcem por todos. Ali todos têm que lutar pelos seus ideais suando a camisa gastando a sola do tênis. Não dá para pagar propina para chegar na frente.
Certamente cada um entre os que cruzaram a linha de chegada tem uma história para contar e tem mesmo que contar, tirar fotos e tudo que tem direito. Foram meses enfrentando frio, calor, dor, por vezes vontade de não treinar, por vezes piadinhas sem graça. Muitos tiveram que “bater de frente” com familiares e/ou até cônjuge que não corre, não entende essa determinação e esse vício bom de correr. Por outro lado muitas amizades se fortaleceram ainda mais no sofrimento. Todos venceram os seus medos e seus fantasmas. Mesmo os que não cruzaram a linha de chegada e por diversos motivos tenham desistido mesmo antes de ir não podem se sentir derrotados.
Eu sei que a frustração é grande. Sei que dói mais na alma do que no corpo. Sei que não adianta os amigos enviarem mensagens de solidariedade porque a dor da alma é maior do que tudo mas, como tudo na vida também passa e fica a lição dos prováveis erros cometidos e dos imprevistos que acontecem. Geralmente quem passa por essa situação numa segunda tentativa volta muito melhor. O que há de louvável nisso é o espírito de luta que sem essa qualidade o mundo não teria evoluído tanto. Talvez ainda estivéssemos na pré-história. É isso que move o mundo.
Para os que cruzaram a linha de chegada eu deixo os meus parabéns e os que não cruzaram um parabéns duplo porque demonstraram tanta garra, tanta determinação como qualquer um que lá estava com seus sonhos e desafios. Tem o mesmo valor dos campeões da prova. Enquanto lá estavam mais da metade da população estava deitada no sofá com suas enormes barrigas já pensando na comilança e bebedeira do primeiro domingo do ano, dando um mau exemplo para suas proles. Para quem não conseguiu eu deixo os versos de Raul Seixas: “Não diga que a vitória está perdida, se é de batalhas que se vive a vida”. “Você tem dois pés para cruzar a ponte” Tente outra vez!