• No norte de Mato Grosso, ‘deserto’ abriga uma área do tamanho da Irlanda

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  • 17/09/2022 15:02
    Por André Shalders, enviado especial, Cecília do Lago e Augusto Conconi / Estadão

    Os “desertos” políticos vão além das regiões conhecidas como bolsões de pobreza e se estendem por todos os Estados. Além do Piauí, no norte de Mato Grosso, 12 municípios esquecidos pelo Congresso, na região do Baixo Araguaia, abrigam 123,8 mil brasileiros que moram em uma área do tamanho da Irlanda (69 mil km²). Em 2018, eles votaram em peso num único candidato a deputado, que não se elegeu.

    Gaspar Lazzari (PSD) obteve quase a metade (46%) de todos os votos nessas 12 cidades. Resultado: as prefeituras ali receberam 18,5% a menos em emendas parlamentares do que a média das cidades de mesmo tamanho, em Mato Grosso.

    A “punição” se repete por todo o Brasil. Desde 2019, o Congresso pagou menos emendas – sejam individuais, de bancada, de comissão e de relator (o orçamento secreto) – para municípios sem representantes. Em conjunto, as prefeituras dessas cidades, em todo o País, receberam R$ 421,06 por habitante, enquanto outras, de mesmo tamanho, levaram R$ 432,56 por morador.

    BASE

    Em Goiás, as cidades do “deserto” se concentram na região central do Estado. Uma delas é Itapuranga, a cinco horas de carro de Brasília. Tradicionalmente, o município é base de políticos tucanos e do PP: em 2018, os mais votados ali foram os ex-deputados Jean Carlo (PSDB) e Balestra (PP). Juntos, tiveram quase metade dos sufrágios, mas não se elegeram.

    Para completar, Itapuranga elegeu um prefeito do PT, em 2020, após anos de dirigentes de direita. Diante disso, a prefeitura da cidade, de 25,5 mil habitantes, recebeu só R$ 652 mil de orçamento secreto – ou R$ 25,51 por morador, 67% a menos que a média nacional, de R$ 78,28.

    O centro de Itapuranga tem aspecto bem tratado, com ruas sem buracos. Na praça central, crianças brincam sobre a grama recém-aparada. Mesmo assim, há problemas, principalmente na saúde. “Meu neto (bebê) teve uma infecção no pulmão. Tivemos que ir a Faina (cidade de 7 mil habitantes, a 46 minutos de carro) para ele ser atendido direito. Checaram ouvido, garganta, tudo. Foi bem melhor”, disse a trabalhadora rural Cléia do Socorro Vieira, de 37 anos. “Se precisar de um raio X com laudo, aqui não tem. O atendimento é péssimo.”

    As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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