• Nise admite à CPI não saber que estudo pró-cloroquina havia sido descontinuado

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  • 01/06/2021 21:18
    Por Paula Reverbel / Estadão

    A médica Nise Yamaguchi, uma das principais defensoras da cloroquina como tratamento para pacientes de covid-19, admitiu à CPI que não sabia que o estudo citado por ela para indicar o uso do remédio como política pública havia sido descontinuado em dezembro.

    “Esse estudo começou em abril de 2020 e foi encerrado em dezembro de 2020, encerrado por não demonstrar evidências suficientes. Isso pode ser encontrado em vários documentos e foi formalmente comunicado aos órgãos americanos salvo engano em 12 de dezembro de 2020”, afirmou o senador Alessandro Vieira. “Nós não conseguimos encontrar nenhum outro tipo de estudo na Fundação Henry Ford”, acrescentou.

    “Essa informação eu não tinha”, respondeu a médica.

    “Pois é. Ela é de dezembro do ano passado”, replicou o senador. Ele passou em seguida a defender o Instituto de Medicina Tropical do Amazonas, que bolsonaristas rotineiramente acusam – citando informações falsas – de ter usado pessoas como cobaias, aplicado dosagens não recomendadas de cloroquina com o fim de descredibilizar o medicamento, resultando em morte.

    Alguns minutos antes, a dra. Nise havia tentado refutar o estudo em questão, sugerindo que essa pesquisa era responsável pela decisão – da qual ela discorda – dos Estados Unidos e do Canadá de abandonarem a cloroquina. Ela tinha sido indagada sobre o fato de que vários países do mundo, como Israel e nações da União Europeia, desistiram de contar com a substância que ela defende.

    Em seu depoimento à CPI, no último dia 25, a secretária de Gestão do Trabalho e da Educação em Saúde, Mayra Pinheiro, também tentou desacreditar o Instituto de Medicina Tropical do Amazonas. Ela chegou a falar que 22 pessoas que morreram por terem recebido uma dosagem quatro vezes maior do que a recomendada pelo Ministério da Saúde – informação que não é verdade. A dosagem superior do estudo não era quatro vezes maior que o que é preconizado pelo ministério. Além disso, nem todas as 22 pessoas que faleceram haviam recebido a dosagem mais alta. Por fim, os óbitos não foram atestados como decorrentes do uso da droga, mas por síndrome respiratória aguda ou septicemia, consequências da covid. Os resultados – de que não se deveria usar dosagem alta para casos graves – foram publicados na revista científica Jama, da Associação Médica Americana, em abril de 2020.

    “Da mesma forma como é também do final do ano, começo do ano, a informação de que o estudo feito pelo Instituto de Medicina Tropical do Amazonas, em nenhum fórum onde ele foi questionado, houve apontamento de irregularidade ou crime. E a gente está vendo aqui diariamente acusações reproduzindo informações que já são sabidamente falsas”, afirmou Vieira ao rebater Nise. Foram arquivados os procedimentos abertos para investigar a pesquisa no Conselho Regional de Medicina e no Ministério Público Federal.

    Nesse momento, o presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), também saiu em defesa dos pesquisadores Amazonas e condenou os seus detratores.

    “Qualquer acusação contra os profissionais do Instituto de Medicina Tropical e da Fiocruz do Amazonas é de uma irresponsabilidade tamanha. Fora o conhecimento técnico-científico que eles têm, de um respeito grande, não creio que alguém faria um teste simplesmente para matar pessoas só para dizer que a cloroquina não serviria. Isso é uma brincadeira que se levantou de uma forma tão vil, tão cruel, contra pais de família, contra profissionais”, afirmou o presidente da CPI.

    “Continuam perseguidos (os pesquisadores), ameaçados por gangues travestidos de pessoas honestas e do bem, como se fossem pessoas que irão para o céu quando forem a óbito. Não vão, vão todos para o inferno porque só conseguem fazer o mal, um mal muito grande propagando mentiras e inverdades contra famílias de bem e profissionais que são respeitados no mundo todo”, concluiu Aziz.

    Um pouco antes, Vieira afirmou que a depoente estava ignorando estudos sérios e tentando valorizar pesquisas que foram encerradas. Ele pediu que a médica citasse levantamentos de um alto padrão de qualidade – com revisão sistemática, produzidos por instituições sérias e publicados em revistas científicas reconhecidas – na qual ela estaria se alicerçando para defender cloroquina. A médica revirou papeis que havia levado consigo à CPI, mas não soube citar uma publicação. Apenas mencionou o estudo (descontinuado) da Fundação Henry Ford. Ficou de enviar mais referências à CPI.

    Em abril do ano passado, quando a médica passou a defender a cloroquina, ainda não havia evidências definitivas sobre a eficácia da droga, apenas a ausência de provas de que ela funcionava para pacientes com covid-19. Atualmente, porém, os medicamentos do chamado “tratamento precoce” tiveram a sua ineficácia comprovada, de acordo com a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).

    A Organização Mundial da Saúde (OSM) também emitiu nota em março alertando que “evidências de alta certeza” – ou seja, que dificilmente mudarão em novos estudos rigorosos – apontam que a hidroxicloroquina “não teve efeito significativo sobre a morte e admissão no hospital”. As pesquisas envolveram a participação de milhares de pessoas.

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