Netanyahu admite erro em ataque a refugiados em Rafah; ‘acidente trágico’
Sob uma crescente condenação internacional, o primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, disse nesta segunda-feira, 27, que a morte de dezenas de civis num campo para refugiados internos em Rafah após um bombardeio israelense foi “um acidente trágico”. O bombardeio na noite de domingo, 26, deixou 45 mortos, segundo o Ministério da Saúde da Faixa de Gaza, controlado pelo grupo terrorista Hamas. O Conselho de Segurança da ONU se reunirá nesta terça, 28, para discutir o assunto.
As declarações de Netanyahu foram dadas à Knesset (Parlamento) apenas três dias depois de o Tribunal Internacional de Justiça ter determinado que Israel suspendesse imediatamente sua ofensiva em Rafah, no extremo sul de Gaza. Diplomatas pretendiam reiniciar as negociações esta semana para um acordo de cessar-fogo e libertação de reféns. Não estava claro ontem se seguiriam em frente.
Netanyahu disse no discurso ao Parlamento israelense que o Exército tentou minimizar as mortes de civis pedindo aos habitantes que se retirassem de partes de Rafah. “Mas apesar do nosso esforço supremo para não prejudicar civis não envolvidos, ocorreu um trágico acidente na noite passada (domingo)”, disse. Ele acusou o Hamas de se esconder entre a população e que dois líderes do grupo foram mortos na ação.
Os militares nomearam os alvos do ataque como Yassin Rabia, o comandante da liderança do Hamas na Cisjordânia ocupada, e Khaled Nagar, um alto funcionário da mesma ala do grupo. O Hamas não confirmou as mortes.
Vários vídeos do local após o ataque, verificados pelo New York Times, mostraram incêndios durante a noite enquanto as pessoas retiravam corpos carbonizados dos escombros, para fora do campo. Pelo menos 249 pessoas ficaram feridas.
Uma autoridade israelense, falando sob condição de anonimato para discutir um assunto delicado, disse ontem que uma investigação inicial dos militares concluiu que o ataque pode ter desencadeado inesperadamente uma substância inflamável no local. Testemunhas descreveram incêndios intensos.
Duas autoridades israelenses disseram que o ataque ocorreu fora da zona humanitária designada que deveria oferecer refúgio seguro aos residentes instruídos a se retirar da cidade, contestando a afirmação do Comitê Internacional de Resgate de que estava dentro da zona segura.
Investigação
Líderes mundiais pediram uma investigação sobre o ataque e intensificaram a pressão para que Israel ponha fim à campanha militar no sul.
O presidente da França, Emmanuel Macron, disse que estava indignado e pediu respeito ao direito internacional e um cessar-fogo imediato. “Não há áreas seguras em Rafah para civis palestinos”, disse.
O enviado das Nações Unidas para o Médio Oriente, Tor Wennesland, apelou a Israel para realizar uma investigação “completa e transparente”.
Num comunicado, um porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca reconheceu que o ataque matou dois terroristas responsáveis pelos ataques de 7 de outubro contra Israel e que o país “tem o direito de perseguir o Hamas”. “Mas, como já deixamos claro, Israel deve tomar todas as precauções possíveis para proteger os civis”, disse Eduardo Maia Silva, porta-voz do conselho.
Inflexão
Em outros momentos, no passado, episódios como o de domingo geraram pressão internacional suficiente sobre Israel para pôr fim a conflitos. Durante uma operação contra o Hezbollah no sul do Líbano, em 1996, as forças israelenses bombardearam um complexo da ONU no vilarejo de Qana, matando mais de uma centena de civis refugiados ali. Isso levou a um apelo do Conselho de Segurança da ONU por um cessar-fogo imediato e um entendimento mediado pelos EUA que pôs fim às hostilidades uma semana depois.
Em 2006, durante outro conflito com o Hezbollah, o ponto de inflexão ocorreu quando as forças israelenses bombardearam um edifício residencial de vários andares em Qana, matando cerca de 28 pessoas. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.