• Neguinho da Beija-Flor anuncia último carnaval em 2025 em carta de despedida

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  • 21/nov 11:37
    Por Sabrina Legramandi / Estadão

    Luiz Antônio Feliciano Marcondes, o Neguinho da Beija-Flor, anunciou que atuará como intérprete na avenida pela última vez no carnaval de 2025. O anúncio foi dado pelo artista em uma entrevista concedida ao RJ1, programa da Rede Globo, e confirmado pela Beija-Flor por meio de uma publicação no Instagram nesta quarta-feira, 20.

    O intérprete anunciou que, a partir de agora, se dedicará à carreira como cantor. Ele permaneceu na escola de samba por 50 anos. “Chegou a hora. Tenho que dar oportunidade a quem quer ser um Neguinho da Beija-Flor”, disse ele, emocionado, durante a entrevista ao RJ1.

    Luiz Antônio chegou à Beija-Flor no dia 11 de junho de 1975. À época, seu nome artístico era “Neguinho da Vala” – foi Anísio Abraão David, presidente de honra da escola de samba, quem sugeriu “Neguinho da Beija-Flor”. No próximo ano, a escola, campeã por 14 vezes no carnaval do Rio de Janeiro, dedica um enredo ao carnavalesco Laíla, amigo do intérprete.

    A Beija-Flor prestou uma homenagem à voz que por tantos anos comandou os desfiles da escola. “Sua voz ecoou em cada verso que cantamos, em cada vitória que celebramos e em cada nota 10 que nos fez vibrar. […] Neguinho é, e sempre será, a essência da Beija-Flor. Não há Beija-Flor sem ele. Sua história está gravada em nossas cores, nossos sambas e nossos corações.”

    Neguinho da Beija-Flor também compartilhou, com a Rede Globo, uma carta se despedindo do carnaval. “Por você, venci o câncer, cantando na avenida ainda sob tratamento. Tenho fé que me curei graças a Deus e ao abençoado remédio do carnaval. Nunca esquecerei como a comunidade me recebeu, na volta aos ensaios, em nossa quadra sagrada. O aplauso e a montanha de carinho estão para sempre tatuados na memória”, diz ele em um trecho.

    Leia a carta de despedida do carnaval de Neguinho da Beija-Flor na íntegra:

    “À minha amada Beija-Flor

    O desfile de 2025 marcará minha despedida como intérprete de seus hinos na Passarela do Samba. No próximo carnaval, escreverei, com a comunidade nilopolitana, o ponto final da trajetória cinquentenária, tempo de muita felicidade e alegria. Vamos atravessar a Passarela do Samba pela derradeira vez, eu com a minha voz e o orgulho de sempre, sustentando a força e a magia de nossa comunidade que brilha no altar dos bambas. Será mais um momento de nosso amor eterno.

    Lembro emocionado, querida escola, do início dessa história, quando cheguei jovenzinho para participar da disputa de samba, no inesquecível Sonhar com rei dá leão. Joãosinho Trinta, também recém-chegado, criara o enredo sobre o jogo do bicho e eu, então Neguinho da Vala, sonhava entrar para a ala de compositores. O saudoso carnavalesco permitiu que eu tentasse – e deu certo. Com o samba composto por mim, fomos campeões.

    De lá para cá, você ganhou 14 carnavais, e me concedeu o privilégio de estar presente em todos. Fomos tricampeões duas vezes, levamos o Cristo mendigo coberto pela censura, na imagem mais conhecida do carnaval. E o mais importante: inserimos a Beija-Flor de Nilópolis na história da maior festa popular do Brasil. Em lugar de protagonista.

    Consolidou-se a Maravilhosa e Soberana, como está no nosso hino-exaltação, Deusa da Passarela, que tive a honra de compor. E virou seu merecido apelido no planeta carnaval.

    Por você, venci o câncer, cantando na avenida ainda sob tratamento. Tenho fé que me curei graças a Deus e ao abençoado remédio do carnaval. Nunca esquecerei como a comunidade me recebeu, na volta aos ensaios, em nossa quadra sagrada. O aplauso e a montanha de carinho estão para sempre tatuados na memória.

    Por isso e muito mais, jamais cogitei receber salário da Beija-Flor. Nunca assinei contrato nem me submeti a qualquer burocracia. Nossa relação é única e dispensa protocolos. Costumo repetir que se alguém deve algo, sou eu a você, minha escola. Tenho muito orgulho de carregá-la em meu nome oficial, o da carteira de identidade: Luiz Antonio Feliciano Neguinho da Beija-Flor Marcondes.

    Guardo como um tesouro a primeira carteira de integrante da ala de compositores. Está lá a data, 11 de junho de 1975, do começo de tudo. Dos companheiros originais, ainda estão aqui o patrono Anísio Abrahão David e a querida Pinah. Começamos juntos a aventura de conduzir uma pequenina escola da Baixada Fluminense ao panteão das gigantes de nossa cultura popular. E chegamos lá, com a participação de muitos outros sambistas que vieram depois e seguirão rumo ao futuro.

    Chegou a minha hora. Em 2025, cantarei a exaltação de meu parceiro Laíla – a quem conheci ainda antes do primeiro carnaval, na lendária roda de samba do Bola Preta -, como epílogo dessa odisseia que durou meio século de folia e felicidade. Superou muito meus melhores sonhos. E continuarei lhe amando. Você pode contar comigo por toda a eternidade.

    Obrigado por tudo, minha escola, minha vida, meu amor.

    Olha a Beija-Flor aí, gente!”

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