Natural, ma non troppo
No último dia 20, o jornal Tribuna de Petrópolis publicou uma matéria intitulada “Parque Natural pode ganhar novas trilhas”. Comecei a ler e, cada vez mais fui ficando impressionado com o teor da mesma. Senti que, neste caso, não caberia o slogan “Rir é o melhor remédio” da Seleções do Reader's Digest, pois a situação é séria. Me lembrei dos meus tempos no BNH em que em reunião procurei passar a ideia de que a tipologia habitacional a ser implantada deveria ser discutida antecipadamente com os representantes das comunidades atendidas. Após três ou quatro reuniões, fui voto ganho.
No meu entender, como labutante na área ambiental há mais de trinta anos, não cabe ao parque ter em seu interior restaurante, trilhas numerosas ou longas e, pasmem, a sede da Secretaria do Meio Ambiente. Todas essas atividades, sem dúvida, estarão contra os objetivos de criação do parque e podem ser substituídas por: pequena cafeteria com instalações e artigos para apoio aos frequentadores, na área já edificada e ocupada por uma casa em ruinas; manutenção das atuais trilhas; e, pequena casa, no mesmo local, para informações técnicas e turísticas, que poderia ser um protótipo de um modelo ecológico, inclusive com certificação.
Deveria ser pensado, para o parque, um modelo de planejamento em que o projeto executivo das melhorias seria uma das variáveis, entre várias, e o plano de manejo das espécies outra. A exemplo da família imperial que criou o hoje Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do RJ: “A sua origem remonta à transferência da corte portuguesa para o Brasil, entre 1808 e 1821. Por decreto real de 13 de junho de 1808, o Príncipe-regente dom João de Bragança (futuro rei dom João VI), em nome de sua mãe incapacitada – a Rainha Dona Maria I -, "Manda tomar posse do engenho e terras denominadas da Lagoa Rodrigo de Freitas”, para criar naquele espaço o Jardim de Aclimação. Com a proclamação da república brasileira (1889), no ano seguinte (1890), passou a ser denominado como Jardim Botânico. A partir de então, receberia diversos visitantes ilustres, como Albert Einstein (maio de 1925) e a rainha Isabel II do Reino Unido (novembro de 1968), entre outros, transformando-se em cartão-postal da cidade. O Jardim Botânico do Rio de Janeiro encontra-se tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional desde 1937. Em 1991, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura considerou-o como Reserva da Biosfera”(fonte: Wikipédia).
Considerando-se as devidas proporções, o nosso parque natural deve adotar as mesmas características, não sendo uma má ideia uma parceria entre ambos. Com relação à área ambiental, outra matéria que foi editada e divulgada no último dia 27 na Tribuna intitulada “Prefeitura pede que Inea faça limpeza do lago de Nogueira” me parece não ter respaldo nas competências do Inea (vide Resolução do Conama 237/1997), sendo mais procedente o serviço ser executado pela Comdep com a supervisão da própria Secretaria do Meio Ambiente. Uma atitude muito importante e mesmo fundamental à boa administração, objeto de vários artigos anteriores, é o planejamento estratégico. As operações “tapa buracos” tem por base a falta de planejamento. Só com o devido planejamento estas situações deixarão de existir, economizando, inclusive, verbas do governo. Existe um provérbio italiano que diz: non e mai troppo tarde – nunca é demasiado tarde! Assim não é tarde para colocarmos a casa em ordem e chegarmos ao progresso. Voltando ao italiano: ma non troppo significa, mas não muito.
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