• Nascida no bairro Mosela, em Petrópolis, Camila Morgado retorna à sua cidade natal para o espetáculo “A Falecida” no Festival Sesc de Inverno

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  • Por Aghata Paredes

    O Festival Sesc de Inverno em Petrópolis teve início nesta sexta-feira (12) e se estenderá até 28 de julho, com uma programação diversificada que inclui apresentações e diversas atividades no Centro Cultural Sesc Quitandinha e no Parque de Itaipava.

    Um dos destaques da programação acontece neste domingo (14), às 18h, no Centro Cultural Sesc Quitandinha. A atriz petropolitana Camila Morgado, nascida e criada no bairro Mosela, protagoniza o espetáculo “A Falecida”, no qual interpreta Zulmira – uma mulher consumida pela culpa e que busca a redenção através de um velório luxuoso.

    A montagem do clássico escrito pelo grande Nelson Rodrigues estreou nacionalmente no dia 18 de agosto no Sesc Santo Amaro, em São Paulo, onde realizou uma temporada de dois meses com grande sucesso de crítica e público. Em 2024, o espetáculo fez sua estreia na cidade do Rio de Janeiro, no Teatro Copacabana Palace, com uma temporada de 23 de fevereiro a 7 de abril. A montagem recebeu cinco indicações ao Prêmio FITA 2023, conquistando os prêmios de Melhor Atriz Coadjuvante para Stela Freitas e Melhor Espetáculo pelo Júri Popular. 

    Seja nos palcos de teatro, seja na TV ou no cinema, Camila Morgado demonstra talento, comprometimento e dedicação, sendo motivo de orgulho e inspiração para muitos petropolitanos. Este ano, ela se destaca ao interpretar Zulmira, a protagonista de “A Falecida”, com maestria no teatro, enquanto na TV encarna Iolanda, conhecida como Dona Patroa, no remake da novela “Renascer” da TV Globo.

    Foto: Reprodução/Globo

    Em março de 2024, Camila Morgado concedeu uma entrevista exclusiva à Tribuna de Petrópolis, por ocasião do 181º aniversário da cidade, relembrando sua conexão com a cidade onde nasceu. Confira na íntegra:

    Aghata: Camila, qual é a sua história com a cidade de Petrópolis? Onde morava e estudava (bairro/escola)? Foi em Petrópolis que a sua paixão pelo teatro despertou? Como foi isso? Ainda hoje, entre uma folga e outra, você costuma visitar a sua cidade natal?

    Camila: Bom, eu nasci em Petrópolis, minha casa lá era no bairro da Mosela, é ainda lá que minha mãe mora. Eu estudei no Colégio São José, que fica ali na rua Montecaseiros, que hoje em dia nem é mais o Colégio São José. Foi em Petrópolis que eu comecei a me decidir pelo teatro, o meu primeiro momento foi aos 14 anos, quando eu pedi para fazer um curso ao meu pai, e ele me inscreveu. Acontece que eu era muito tímida, acho que por isso fiquei um tempo breve e depois saí. Foi só quando eu terminei o segundo grau que decidi voltar ao teatro, fiz mais uns cursos em Petrópolis e ali tive certeza de que era isso mesmo que eu queria fazer. E aí, logo em seguida, já fui para o Rio para começar a estudar e finalmente me formar em Artes Cênicas. Eu ainda vou muito a Petrópolis, porque a minha mãe mora lá, a maior parte da minha família mora em Petrópolis, alguns na Mosela, outros no Bingen. Então vou sempre que posso. Normalmente vou uma vez por mês, às vezes umas duas ou três vezes por mês.

    Foto: Arquivo Pessoal/Camila Morgado

    A: Você ganhou notoriedade em diversos papéis na TV, no cinema e no teatro, alguns deles eu diria que bem intensos. A lista é longa: A Casa das Sete Mulheres (2003), na Globo; Olga (2004), cinebiografia de Olga Benário Prestes; América (2005); Viver a Vida (2009); Avenida Brasil (2012); O Rebu (2014); A Lei do Amor (2016), Malhação: Vidas Brasileiras (2018) e Pantanal (2022). Na pandemia, presenteou o público com a personagem Janete, uma mulher vítima da violência do marido, em Bom Dia, Verônica (2020), na Netflix; e Dona Patroa, em Renascer (2024). Também voltou aos palcos de teatro em A Falecida, em temporada no Rio de Janeiro (23 de fevereiro a 07 de abril). Quando foi que você percebeu que ser atriz era um desejo genuíno? Durante a sua carreira, quais papéis foram mais marcantes para você? Pode comentar um pouquinho sobre isso?

    C: Eu percebi o meu desejo por ser atriz muito rápido, assim que comecei a fazer cursos em Petrópolis e no Rio de Janeiro, e senti que era aquilo que gostaria de fazer, porque me sentia muito feliz e preenchida com aquilo tudo. Era como se um mundo novo tivesse se aberto para mim. Os papéis que a gente faz durante a carreira são sempre muito marcantes, e é difícil escolher, porque todos os personagens nos ensinam e nos ampliam muito. Mas eu não posso deixar de citar A Casa das Sete Mulheres e Olga, porque foram os meus primeiros papéis no audiovisual, eu estava vindo do teatro, eu era bem jovem e aquilo era muito difícil de fazer para mim. E eu acabei emendando esses dois papéis e trabalhei intensamente todos os dias, aprendendo a fazer coisas que eu nem imaginava que um dia eu fosse fazer. Foi um momento muito lindo da minha vida, porque as pessoas passaram a me conhecer de uma forma bem maior. E na estreia, por exemplo, da Casa das Sete Mulheres, eu me lembro que a minha mãe não conseguiu assistir o primeiro episódio, porque o telefone lá de casa não parava de tocar, todos falando que estavam acompanhando a filha dela na TV.

    A: Recentemente, em outra entrevista, um ator [Renato Prieto] comentou que uma das funções da arte, na perspectiva dele, é a de apresentar outras possibilidades para o público. O que representa para você retornar aos palcos de teatro depois de 11 anos de hiato? Pode contar um pouquinho sobre como você iniciou no teatro e como foi a transição para a TV? Foi algo que você já imaginava fazer?

    C: Eu acabei emendando um trabalho no outro no audiovisual, e eu nem me dei conta que já haviam se passado 11 anos sem fazer teatro, que é um lugar que eu adoro estar. Bom, eu fiz a minha formação no Rio de Janeiro, na CAL (Casa das Artes de Laranjeiras), em seguida eu fui convidada para fazer parte de um centro de pesquisa lá em São Paulo, que era do Antunes Filho, e depois eu fiquei muito tempo trabalhando na companhia do Gerald Thomas. Conheci o Gerald porque ele dirigiu minha formatura na CAL. A escola estava fazendo 15 anos, então eles fizeram uma comemoração e chamaram o Gerald Thomas para dirigir a peça de formatura, e eu estava me formando justamente neste ano. Quando eu estava em São Paulo, estudando no Centro de Pesquisa do Antunes, o CPT, o Gerald retornou ao Brasil e formou novamente a companhia, e me convidou para fazer parte. Fiquei na Companhia com ele por quatro anos, e nessa época eu nem imaginava que eu fosse fazer TV, porque eu estava sempre envolvida com uma peça. A gente emendava uma peça na outra. E acabou que um dia, uma produtora de TV, que é a Frida, me viu em um espetáculo e me chamou para fazer um teste para o audiovisual e aí sim eu acabei entrando.

    A: Em Bom Dia, Verônica (2020), sua personagem colocou uma lupa sobre a questão da violência contra a mulher. Em 2020, o mundo vivia uma pandemia. E a gente sabe que o número de casos aumentou significativamente nesse período, fora os casos não denunciados. Além disso, muitas mulheres têm dificuldade de enxergar a situação de violência vivida diariamente. Você chegou a receber relatos de mulheres que viveram algum tipo de violência e a identificaram a partir da sua personagem? Como foi isso? Em Renascer (2024), Dona Patroa também é uma personagem submissa ao marido, mas que vai se libertar dessas amarras…Como você se sente ao interpretar mulheres que passam por isso? Como mulher, o que isso representa para você?

    C: Bom, eu gosto muito quando a gente faz personagens que podem ajudar as pessoas de alguma forma, e no caso da Janete eu vi isso muito claramente, porque ela deu luz para muitos tipos de violência, violência moral, psicológica, física, foi um papel muito forte e de extrema importância para aquelas pessoas que vivem a opressão. Esse personagem me ensinou muito, porque eu tive o privilégio de me informar com pessoas que já trabalham com casos como esses, e elas me ensinaram muito sobre os tipos de violência e todo o processo que a vítima passa até se dar conta do que que está realmente acontecendo. Bom, foi muito intenso fazer a Janete porque, dentro do set mesmo, muitas mulheres vinham dividir suas experiências comigo e muitas descobriram ali que sofriam esse tipo de violência.

    Camila Morgado interpreta Janete em “Bom dia, Verônica”

    A: Quais são os principais desafios na sua profissão? De que forma você lida com eles?

    C: Acho que um dos principais desafios é o fato de sempre mergulhar em diferentes personagens e criações a cada novo trabalho. Toda vez que começo um projeto, me deparo com uma equipe nova, uma dramaturgia diversa e, principalmente, um inédito mundo que a personagem traz, junto com a disciplina, que precisa sempre estar presente em cada trabalho. Além disso, existe o fato de que fazer arte no Brasil já é por si só um grande desafio.

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