• Nasa realiza primeira reunião pública sobre óvnis e divulga as principais conclusões

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  • 01/06/2023 12:28
    Por Redação / Estadão

    A Agência Aeroespacial dos Estados Unidos (Nasa) realizou sua primeira reunião pública sobre fenômenos anômalos não identificados (“UAPs”, em inglês), os populares óvnis ou UFOs, na quarta-feira, 31. A agência espacial transmitiu a audiência de quatro horas em suas redes sociais e, durante o encontro, enfatizou que ainda não há evidências suficientes para afirmar que há vida fora da Terra.

    A equipe da conferência foi formada por 16 cientistas e outros especialistas selecionados pela Nasa, como o astronauta aposentado Scott Kelly, o primeiro norte-americano a passar quase um ano no espaço. A reunião foi realizada na sede da Nasa, em Washington, e o público participou remotamente, enviando centenas de perguntas.

    “Quero enfatizar isso alto e claro: não há nenhuma evidência convincente de vida extraterrestre associada a objetos voadores não identificados”, disse Dan Evans, cientista da Nasa. Os pesquisadores também destacaram que precisam de mais e melhores dados para entender a natureza dos óvnis que são detectados.

    O grupo de estudos de “Fenômenos Aéreos Não Identificados” foi criado em junho do ano passado, com o objetivo de “avançar na compreensão científica” sobre os avistamentos. O Departamento de Defesa americano também criou um escritório em meados de 2022 para analisar e coletar dados sobre encontros com óvnis e fenômenos aéreos. De acordo com um relatório do Pentágono publicado em janeiro, o número de avistamentos aumentou desde 2021.

    A agência espacial deixou de chamar as aparições de objetos voadores não identificados para chamá-los de “fenômenos anômalos não identificados”, pois afirmam que as aparições podem ser “qualquer coisa em nossos céus, água ou espaço”. A mudança visa fornecer uma linguagem mais inclusiva sobre os tipos de relatórios apresentados ao governo federal dos EUA.

    De acordo com o astrofísico David Spergel, presidente do painel e diretor da Fundação Simons, o grupo está estudando quais informações não classificadas sobre o assunto estão disponíveis e quanto mais é necessário para entender o que está acontecendo no céu. A publicação do relatório final está prevista para o final de julho, mas o encontro já antecipou alguns dos principais pontos.

    Falta de dados

    Em entrevista coletiva, os especialistas da Nasa disseram que, atualmente, não há informações suficientes e de alta qualidade sobre os óvnis. “Essa falta de dados de alta qualidade torna impossível tirar conclusões científicas sobre a natureza desses fenômenos”, disse Nicola Fox, gerente do programa científico da agência. Fox explicou que os dados que o painel vem estudando não são confidenciais e provêm de “instituições governamentais civis”, do setor privado e de “outras fontes”.

    “Uma das lições que tiramos é a necessidade de mais dados de alta qualidade e de dados medidos com instrumentos bem calibrados, múltiplas observações e a necessidade de uma conservação de dados de alta qualidade”, acrescentou David Spergel.

    O contexto em que os fenômenos são avistados também contribui para a inutilização das informações, disse Fox, principalmente porque há entidades que podem “imitá-los ou eclipsá-los completamente”, como equipamentos aéreos militares.

    Ilusão de ótica?

    Ilusões de ótica podem explicar alguns desses fenômenos, disse o astronauta Scott Kelly, ex-piloto de caça da Marinha. Ele se lembrou de um voo do caça Tomcat perto de Virginia Beach alguns anos atrás, durante o qual seu oficial de interceptação de radar, que estava no banco de trás, estava convencido de que havia passado por um óvni. “Acontece que era Bart Simpson, um balão”, disse Kelly. “E na minha experiência, os sensores têm os mesmos problemas que o olho humano.”

    De acordo com o painel, muitos vídeos feitos por militares de UAP parecem curiosos em um primeiro momento, mas surgem explicações comuns. Um vídeo divulgado no passado mostrava três pontos que pareciam se mover para frente e para trás. Pesquisas posteriores descobriram que os pontos eram três aviões a cerca de 60 quilômetros de distância esperando para pousar em um aeroporto.

    O clima ou “fenômenos ionosféricos, como a aurora boreal”, também podem complicar os dados, de acordo com Nicola Fox. Além disso, em muitos casos podem ser, simplesmente, drones, balões e lixo soprando ao vento.

    Assédio e estigma

    A postura da Nasa no passado era “desacreditar” tais avistamentos, o que reforçava o estigma sobre a busca por vida extraterrestre. Mesmo que, durante a conferência, os cientistas se comprometeram em estar dizendo a verdade quando afirmaram que ainda não há evidências científicas, as centenas de perguntas enviadas pelo público com antecedência duvidaram disso e se desviaram para as teorias da conspiração, acusando os membros do painel de mentir ou encobrir provas de extraterrestres.

    O cientista Dan Evans ainda mencionou que a transmissão da reunião gerou um número considerável de insultos, bem como ciberbullying contra vários membros do painel. O assédio prejudica o processo científico e reforça o estigma em torno do assunto, disse Evans, acrescentando que a equipe de segurança da Nasa está cuidando disso. “É precisamente essa abordagem muito rigorosa e baseada em evidências que torna possível separar o fato da ficção”, disse

    “O assédio só leva a uma maior estigmatização do campo UAP, dificultando significativamente o progresso científico e desencorajando outros a estudar este importante assunto”, complementou Fox.

    Nem tudo tem explicação

    David Spergel observou a origem de UAPs permanece obscura e que “muitos desses eventos podem não estar sendo relatados”. Entretanto, Spergel, que é astrofísico, esclareceu que, mesmo com acesso a dados melhores, “não há garantia de que todos os avistamentos possam ser explicados”.

    Ao longo de 27 anos foram reunidos mais de 800 eventos, dos quais entre 2% e 5% são considerados possivelmente inexplicáveis, explicou a jornalista científica Nadia Drake, participante do estudo. Estes são definidos como “qualquer coisa que não seja facilmente compreensível pelo operador ou pelo sensor” ou “que está fazendo algo estranho”.

    Um exemplo de fenômeno inexplicável é um globo metálico voador avistado por um drone MQ-9 em um lugar não revelado do Oriente Médio, afirmou Sean Kirkpatrick, diretor do escritório de Resolução de Anomalias em Todos os Domínios do Pentágono, ao reproduzir um vídeo exibido pela primeira vez ao Congresso dos EUA no mês passado. (Com agências internacionais).

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