• Nas imagens de Fernanda Iunes, um planeta de castas, cores e contrastes

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  • 21/10/2022 08:30
    Por Antonio Gonçalves Filho / Estadão

    Ainda que a fotógrafa paulistana Fernanda Aidar Iunes defina sua exposição Seu Olhar Melhora o Meu como uma mostra de caráter “familiar”, privado, o que se vê em suas fotos revela um olhar atento para a realidade social dos países que visitou.

    Não sem razão, essas imagens são marcadas pela tradição humanista dos fotógrafos que se tornaram suas referências, entre eles o francês Henri Cartier-Bresson (1908-2004) e o americano Steve McCurry, da National Geographic, que criou uma das imagens icônicas do século 20, o da menina afegã de olhos verdes que correu mundo.

    Entre o “momento decisivo” de Cartier-Bresson – o instantâneo registrado para a posteridade – e o olhar viajante de McCurry, Fernanda Aidar Iunes criou imagens de impacto semelhante, como a do menino indiano de Uidapur, em 2011, que, timidamente, oferece uma folhinha à fotógrafa longe dos palácios do Rajastão e próximo a uma realidade que os turistas preferem ignorar, o da pobreza de milhões de indianos.

    A exposição, que vai só até o dia 24, em A Estufa (Rua Wizard, 53, na Vila Madalena) reúne imagens registradas em diversos países, entre eles a Índia, África do Sul, o Butão e Israel. São fotos que destacam o forte cromatismo das roupas indianas em contraste com a realidade árida, monocromática, de um país de extremos, de palácios suntuosos e casebres miseráveis.

    Em Varanasi, no norte da Índia, considerada o centro espiritual do país, a fotógrafa registrou, por exemplo, três crianças com roupas multicoloridas caminhando, abraçadas, numa das ruas sinuosas da cidade. No Butão, no extremo oeste do Himalaia, novamente três crianças chamaram a atenção de Fernanda Aidar Iunes, em 2010, numa foto em que um monge budista caminha à frente dos pequenos.

    CASTAS

    No ano seguinte, em Délhi, na Índia, ela explorou o choque de castas de forma virtual, ao registrar a imagem de um modesto cavaleiro passando diante de uma pintura mural. Nela, uma caravana pintada no estilo Rajasthan afirma a opulência da nobreza indiana.

    Por vezes, à maneira de Cartier-Bresson, ela sintetiza numa única expressão a angústia de deserdados sociais, como a mulher negra da África do Sul captada por sua câmera em Kapama, em 2007, lugar de peregrinação de turistas interessados em safáris. A sutileza da imagem começa com o contraste entre o lenço estampado supercolorido e as roupas sóbrias da mulher. A festa cromática, sugere a foto, ajuda a superar dificuldades advindas do racismo no mundo.

    As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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