• Não há adeus nas estrelas

  • 27/08/2018 13:25

    A morte da cantora Aretha Franklin em 16/08, com 76 anos, tendo como causa o câncer no pâncreas, levou-me a pensar mais uma vez sobre a nossa passagem por este planeta. Todos sabem que não estamos aqui em viagem turística. Não somos frutos do acaso. Temos uma missão a cumprir. Porém a luta para mudar a rota do destino com as próprias mãos é árdua. E, para conter as dores que a realidade impõe, temos a arte como aliada, age como bálsamo, como trincheira, como razão de viver.

    Aretha Louise Franklin, a Rainha do Soul, nasceu em 25 de março de 1942, em Memphis, Tennessee. Teve uma adolescência conturbada: aos 10 anos, perdeu a mãe.  Teve o primeiro filho aos 12 anos. Com 15 anos, teve o segundo. Ainda criança, começou a cantar, em companhia do pai, pastor da Igreja Batista. 

    O reconhecimento do seu talento logo se destacou. Gravou o primeiro álbum gospel com 14 anos. Com 18 anos, assinou o primeiro contrato com uma gravadora. O pai foi o seu primeiro empresário.  Aos 19 anos, contra a vontade dele, casou com Ted White, pai do seu terceiro filho. Esse casamento, marcado pela violência doméstica, durou 8 anos. O quarto filho nasceu de um relacionamento com Ken Cunningham. Em 1978, casou com o ator Glynn Turman. 

    Fiz esse pequeno relato biográfico de Aretha com o propósito de dizer que não se trata apenas de uma cantora negra que fez sucesso por ter uma bela voz. É preciso destacar a luta de uma mulher que superou obstáculos, enfrentou barreiras, mas conquistou o seu espaço, apesar das inseguranças e instabilidades emocionais pelas quais todos nós passamos. 

    O que considero como “vencer na vida” não consiste na obtenção da fama. Mas na superação das diversidades que a realidade nos coloca. Muitos já obtiveram fama, mas não venceram a luta travada dentro de si e sucumbiram diante dos percalços do dia a dia. Se ela não fosse uma mulher tão determinada, talvez não chegasse aonde chegou:  vendeu mais de 75 milhões de discos, ganhou 18 Grammys, além de mais três prêmios honorários pelo conjunto da obra, composta por 42 álbuns de estúdio, 6 álbuns ao vivo e 131 singles. Foi considerada pela revista Rolling Stone como a maior cantora de todos os tempos.

    Meus primeiros contatos com as músicas de Aretha foram nos bailes na década de 70, no Rio. “Say a little prayer” é a que mais mantenho na lembrança, por questões pessoais que a nostalgia não deixa esquecer. Sei que “Respect” foi a que marcou a carreira dela, personificou a luta contra o racismo, o posicionamento em defesa das mulheres e o apoio a Luther King. Os bailes a que me refiro eram na periferia, mas tocavam James Brown, Marvin Gaye, Billy Paul, Donna Summer, Stevie Wonder. Por essa herança, tenho dificuldade de ouvir hoje o funk. Prefiro a sensualidade de antes a erotização de agora. O amor não se deve banalizar.

    Nessa época, o clima político aqui não era agradável. Era mais fácil gostar dos Beatles e dos Rolling Stone, porque bastava entrar na onda do “iê-iê-iê”. A chamada soul music nacional apontava para os Panteras Negras, lutava-se também pela igualdade de direitos. As músicas tocadas dentro desse estilo eram de Tim Maia, Cassiano, Carlos Dafé, Lady Zu, Gerson King Combo. E não há como esquecer de Br-3, com Tony Tornado. A Banda Black Rio veio com swing nos metais. Lembrar é eternizar…

     Quando posso, falo que não há como dizer adeus às estrelas, pois elas sempre estarão no céu a brilhar. No luar do sertão, está Luiz Gonzaga. Apesar de ter curtido o citado estilo musical, não perdi as raízes nordestinas.

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