Na infraestrutura, aportes seguem abaixo do ideal
Apesar das turbulências políticas e da perspectiva de baixo crescimento econômico a partir de 2022, os investimentos em infraestrutura no País deverão crescer este ano, nas projeções da Inter.B Consultoria. No total, os aportes em estradas, ferrovias, usinas de geração de eletricidade, linhas de transmissão e em saneamento básico, entre outros segmentos, deverão somar R$ 136 bilhões, ante os R$ 118 bilhões investidos em 2020.
Se confirmada a estimativa, atualizada em julho, os investimentos subirão de 1,58% do PIB em 2020 para 1,62% em 2021, na primeira alta como proporção da atividade econômica desde 2014. Mesmo assim, o nível ainda é muito abaixo do necessário para melhorar a combalida infraestrutura nacional. Nas contas da Inter.B, o Brasil precisaria investir 4,12% do PIB em infraestrutura a cada ano.
Segundo Cláudio Frischtak, presidente da Inter.B, a melhora dos projetos das concessões de infraestrutura e o aumento do fluxo de recursos para o financiamento no mercado financeiro favorecem os investimentos das empresas que atuam no setor, apesar da crise política.
Semana passada, Felipe Pinto, sócio da Pátria Investimentos, gestora que se tornou importante ator do setor ao amealhar bilhões em fundos para investir em concessões, disse, em evento público, que “os ruídos não ajudam a infraestrutura”, mas frisou que o investidor do setor olha para o longo prazo. No mesmo tom, o presidente da operadora de concessões CCR, Mauro Caduro, afirmou, em outro evento online, que o ambiente é favorável a investimentos em infraestrutura, mesmo com a crise política.
Frequentemente, especialistas em infraestrutura destacam que segurança jurídica, boa regulação por parte do Estado e bons projetos de concessão são essenciais para atrair investimentos privados no setor. Segundo Frischtak, isso é verdade, mas, quase sempre, esses elementos são condições “necessárias”, e não “suficientes”.
Uma das consequências disso é que os leilões de concessões têm atraído investidores que já atuam no Brasil, acostumados com suas particularidades e incertezas. Os bilionários projetos de saneamento licitados recentemente, em Alagoas e no Rio, foram arrematados pelas principais operadoras do País, como BRK Ambiental, Aegea e Iguá Saneamento. O projeto do Amapá foi leiloado na semana passada e escolheu a Equatorial Energia, estreante nos serviços de água e esgoto, mas tradicional na infraestrutura.
Conforme Frischtak, isso é positivo e pode elevar investimentos num ano, mas não a ponto de atingir o nível de 4% do PIB considerado necessário ou de ter força para puxar a retomada da economia. Além disso, Matheus Ferreira, economista da Tendências Consultoria, lembra que importantes leilões previstos para os próximos meses só deverão começar a tirar obras do papel, a ponto de impactar a atividade econômica, no fim de 2022 e no início de 2023.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.