Na 5ª eleição em 4 anos, Netanyahu tenta retomar o governo de Israel
Imerso em uma crise política, Israel realiza, nesta terça-feira (01), sua quinta eleição em quatro anos. Com um avanço da extrema direita consolidado nas pesquisas e a possibilidade do sumiço de partidos tradicionais, o país continua dividido, o que pode selar o retorno de um velho conhecido ao cargo de premiê: Binyamin Netanyahu.
À frente do governo por 15 anos, sendo 12 consecutivos, entre 2009 e 2021, Netanyahu transformou o debate em uma discussão sobre ele, abafando as disputas ideológicas entre direita e esquerda, liberais e conservadores e, até certo ponto, entre judeus e árabes, resumindo a política de Israel a dois blocos: um anti-Bibi e outro pró-Bibi – como ele é conhecido.
A estrutura desta polarização está na base do turbilhão dos últimos anos e ficou à mostra em 2021, quando o ex-premiê foi sacado do poder por uma coalizão de partidos que pouco tinham em comum, a não ser a aversão a Netanyahu.
‘O mago’
Quando governou pela primeira vez, entre 1996 e 1999, o jovem líder do Likud não chamava a atenção pelo extremismo. A guinada populista, dizem especialistas, ocorreu a partir de 2009, quando ele passou a demonstrar um pragmatismo inabalável e uma habilidade política acima da média para garantir a maioria no Parlamento e se manter no poder a qualquer custo. Essa capacidade rendeu-lhe o apelido de “Mago”.
A “mágica”, que frequentemente envolve viradas de mesa e traições, lhe rendeu inimigos e um passivo que agora cobra um preço do ex-premiê. As últimas pesquisas indicam que seu partido, o Likud, deve ser o partido mais votado, mas analistas dizem que, com a margem atual, Bibi pode não conseguir formar um gabinete.
“Netanyahu se tornou a única liderança do Likud, minando as figuras de destaque e traindo aliados com quem fez acordos para chegar ao poder, o que gerou ressentimentos que reduziram suas possibilidades de aliança”, explicou Karina Calandrin, doutora em relações internacionais do Instituto Brasil-Israel (IBI).
A lista dos traídos inclui importantes nomes, como o atual premiê, Yair Lapid, que foi ministro de Bibi entre 2013 e 2014, o ex-general Benny Gantz, que formou governo com ele, em 2019, e Avigdor Lieberman, ex-ministro da Defesa. Somados, os partidos dos três devem obter 40 cadeiras no Parlamento, todas de oposição a Netanyahu.
Saída
Com poucas chances de garantir maioria por meio de alianças com partidos de direita e centro-direita, a opção foi radicalizar. Durante a campanha, Netanyahu apoiou uma parceria com o Partido Religioso Sionista, unindo siglas inspiradas pelo movimento kahanista, frequentemente apontado como um tipo de neofascismo judaico. A expectativa é que a coalizão religiosa chefiada pelo extremista Itamar Ben-Gvir seja a terceira força da eleição.
“Ele fará alianças com qualquer um para chegar ao poder. Isso é típico de líderes populistas. No caso dele, vai ajudá-lo com alguns problemas legais”, disse ao Estadão Henri Barkey, professor da Universidade de Leigh, na Pensilvânia, em referência aos escândalos de corrupção em que ele está envolvido.
No sistema parlamentarista de Israel, tão importante quanto a capacidade de negociar uma maioria é conquistar uma margem de segurança que permita manter o gabinete em caso de turbulência, algo que ninguém faz desde 2019.
“Embora com algumas coalizões diferentes e um avanço marcante da extrema direita pró-Bibi, o cenário é similar ao anterior”, escreveu a cientista política Dahlia Scheindlin, em análise para o jornal israelense Haaretz. “O que essas tendências nos dizem? Bem, a mesma coisa que antes.”
(Com agências internacionais)