• Musical ‘West Side Story’ ainda é um espetáculo revolucionário

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  • 07/07/2022 08:00
    Por Ubiratan Brasil / Estadão

    Quando as cortinas do Winter Garden Theater, em Nova York, se abriram, naquele 26 de setembro de 1957, a história do musical mudou radicalmente. Ao atualizar a tragédia de Romeu e Julieta para o conflito entre gangues em um bairro de periferia, West Side Story quebrou paradigmas, graças à exuberante trilha sonora de Leonard Bernstein, à coreografia de Jerome Robbins (tudo começa com um estalar de dedos), às letras do então pouco conhecido Stephen Sondheim e, finalmente, à trama reelaborada por Arthur Laurents. “É um dos clássicos mais complexos da história do teatro”, observa Charles Möeller, que dirige a montagem que estreia na sexta, 8, no Teatro São Pedro.

    Um dos mais completos encenadores da cena musical brasileira, Möeller assina, ao lado de Claudio Botelho, a direção artística do espetáculo. É um grande desafio na carreira da dupla, que acaba de completar seu espetáculo de número 52. “Só me sinto seguro agora, com mais maturidade artística para enfrentar todos os desafios impostos pela peça, que são muitos”, comenta Möeller. “Esse musical traz canções, letras, danças e uma teatralidade que – em poderosa e vívida associação – mudou tudo dentro do palco, dentro das telas de cinema e, principalmente, dentro das cabeças dos milhões de espectadores que, desde 1957, são tocados pela beleza e pungência dessa história ao longo dos anos”, completa Botelho.

    Versão moderna de Romeu e Julieta, metáfora sobre a ameaça que os imigrantes significam para um país rico, a eterna briga pela conquista do território, West Side Story ainda provoca leituras diversas, mas em um detalhe todos são unânimes: quando foi montada, surpreendeu não só pelos temas, mas por apresentar uma ação que passava para a dança de forma natural, como se a coreografia fosse extensão dos movimentos dos atores. “O projeto nasceu com Robbins, que pretendia dar novo significado para a dança, como importante elemento na narração da história”, conta Möeller.

    SUBÚRBIO

    A trama é ambientada no subúrbio de Nova York, onde duas gangues rivais, os Jets (os nascidos americanos) e os Sharks (imigrantes porto-riquenhos), lutam pelo domínio do bairro. Em meio a tanta incompreensão, Tony, um dos fundadores dos Jets, se apaixona por Maria, a irmã de Bernardo, comandante dos Sharks. O amor impossível é fadado ao fracasso – uma paixão irrealizável por causa do racismo e da xenofobia americanos.

    “Uma trama que continua atual”, observa o ator Beto Sargentelli, que vive Tony de uma forma inspirada – seu eclético alcance vocal atinge as difíceis notas criadas por Bernstein. “Respeitamos a montagem clássica, mas de olho no contemporâneo.” De fato, a concepção de Möeller buscou uma limpeza, tanto na interpretação como na ocupação do palco, o que aumenta o impacto provocado pelo musical. “Não há exageros nas atuações, fugimos do caricato.”

    A postura em cena é decisiva. Para viver Maria, Giulia Nadruz exibe uma série de recursos que permitem ao espectador acompanhar a transformação de uma adolescente inocente em uma mulher marcada pelo desgosto. “A realidade impõe essa mudança brutal, daí a importância de entender a história dessa personagem”, comenta a atriz, que tem um dos duetos mais importantes do musical com Anita, namorada de seu irmão Bernardo, quando questionam as atitudes de Tony.

    LATINA

    “Anita é a mensageira da história, algo muito comum nas peças de Shakespeare”, observa sua intérprete, Ingrid Gaigher. “Ela também humaniza a presença de uma mulher latina que, até então, era a vilã das histórias.”

    O papel, de fato, era importante para seus criadores. “Chita Rivera foi a primeira a viver a personagem e, apesar de dançar e interpretar, não conseguia alcançar as notas criadas por Bernstein. Pois ele ensaiava com ela, no piano, insistindo até Chita conseguir”, comenta Möeller.

    Se explica a superior qualidade de West Side Story, tal perfeccionismo também era motivo de brigas entre seus criadores. “Enquanto Bernstein criava melodias sofisticadas, que dificultavam a atuação do elenco, Laurents e Sondheim povoavam as falas e canções de palavras que, embora poéticas, exigiam muito esforço para se encaixarem na música. Finalmente, a dança, a maravilhosa coreografia de Robbins que dá significado à dramaturgia – basta ver o Prólogo, que conta uma história apenas por movimentos”, lembra Möeller.

    Em West Side Story, os números musicais ajudam a também definir o caráter dos personagens – e, nessa versão, que tem a direção musical de Cláudio Cruz, a coreografia segue exatamente a original. Daí a comprovada importância dos papéis considerados secundários. “A força do grupo nivela o espetáculo, em que cada um é uma peça importante”, comenta Andre Torquato, desenvolto como Riff, principal amigo de Tony. “É como uma engrenagem, em que cada ação, cada movimento importa”, destaca Guilherme Logullo, intérprete de Bernardo. Um esforço de equipe para garantir o estilo clássico do musical, cujo final, ao contrário da peça de Shakespeare (afinal, Maria não morre, ao contrário de Julieta), é mais amargo e mais condizente com o mundo moderno.

    West Side Story

    Teatro São Pedro.

    R. Barra Funda, 171. Tel. 3221-7326. 4ª, 15h. 3ª, 5ª, 6ª e sáb., 20h.

    Dom., 19h. R$ 30 / R$ 80.

    Estreia 8/7. Até 7/8

    As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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