Museu Imperial: oito décadas de história e integração com a cidade
Neste mês, o Museu Imperial comemora 80 anos da sua criação. Ao longo desses anos, o acervo que preserva a história da Família Imperial e do Brasil, se mistura à história dos visitantes. Todos os anos, o museu recebe mais de 200 mil pessoas no seu acervo permanente, além de atividades culturais, exposições temporárias, setores técnicos abertos para pesquisa e, claro, o belo jardim do imperador D. Pedro II.
O Museu Imperial foi criado em 29 de março de 1940, mas sua inauguração foi três anos depois, quando a primeira exposição, com cerca de 20 peças, foi montada. Uma equipe contratada pelo presidente Getúlio Vargas fez uma pesquisa para identificar os cômodos, itens e montar o primeiro circuito de exposição permanente. O primeiro diretor e fundador foi Alcindo Sodré, que fez um trabalho cuidadoso para criar um movimento favorável ao projeto de criação do Museu.
“Alcindo Sodré convidava pessoas ilustres para visitar este primeiro acervo, antes da inauguração, para criar uma atmosfera para a criação do museu. Artistas, o próprio presidente Getúlio Vargas, Stefan Zweig e Clarice Lispector, que era jornalista na época”, conta Maurício Vicente Ferreira Júnior, diretor do museu.
Ao longo dos anos, o Museu foi adquirindo novas peças para seu acervo e, como Alcindo Sodré previu, criou uma atmosfera próxima do que foi vivenciado pela Família Imperial enquanto passou por Petrópolis. O uso do Palácio principal é muito bem recomendado, como explica Maurício. O espaço segue fundos documentais muito importantes: o primeiro é o livro da mordomia. “São livros de despesas, que consta quem foi contratado pela Família Imperial. Então nós sabemos quem trabalhou lá, e conseguimos por meio das descrições dispor a montagem do saguão, por exemplo”, contou.
Outro fundo importante era o inventário do superintendente da Família Imperial. “Ele entrava todo ano no palácio e ia fazendo o inventário daquilo que ele via. Seguindo o mesmo percurso, foi possível identificar todos os cômodos. Identificar o conteúdo de cada cômodo e identificar as alterações que cada cômodo sofreu. O Palácio é muito bem documentado”, explicou Maurício.
A sala de jantar, por exemplo, está justamente onde ficava na época do império. Muitos itens são vindos de outros imóveis, como o Palácio de São Cristóvão, no Rio de Janeiro, mas que têm o uso preservado no Palácio Imperial. Na sua inauguração, o Museu Imperial todo funcionava dentro do Palácio principal. Arquivo histórico, biblioteca, comunicação, todos os setores técnicos funcionavam no mesmo espaço. Ao longo das décadas, os outros prédios foram sendo construídos, os setores foram retirados do Palácio e o prédio foi ganhando mais espaço para exposição.
O museu recebe constantemente novos itens, por meio de transferências, compras e doações. Na sua criação, mais de 15 instituições fizeram a doação e transferência de peças. Hoje, são cerca de 300 mil documentos, 60 mil livros, 8 mil objetos que compõem seu acervo.
O diretor do Museu Imperial, Maurício Vicente Ferreira Júnior, destaca as inúmeras atividades, além da exposição permanente, que tormam o espaço atrativo no dia a dia da cidade. Foto: Bruno Avellar/Tribuna de Petrópolis.
“Ao longo desses 80 anos, as atividades dos museus cresceram muito. Antigamente, o museu era apenas um lugar que você visitava, via as peças e ia embora. Acabou. Hoje não. Conheço pessoas que caminham aqui no jardim. Pessoas que nem entram no palácio. Gente que vem aqui no gramado para ouvir música, namorar, participar das atividades oferecidas pelo museu, como o espetáculo Sarau Imperial, Som e Luz, as atividades infantis na Biblioteca Rocambole”, disse Maurício.
A história dos petropolitanos se mistura à história da instituição
Mais do que a construção de uma memória coletiva do país, o Museu Imperial vem, ao longo desses 80 anos, criando memórias afetivas nos petropolitanos. Assim como muitos guardam com carinho as visitas escolares, com pantufas escorregadias, dentro do Palácio Imperial, o diretor do Museu, Maurício Vicente também tem a história cruzada com a história do Museu.
A primeira memória do historiador e pesquisador Maurício Vicente é registrada em uma fotografia tirada aos 6 meses de idade com seus pais, Maurício Vicente Ferreira e Leonice Souza Lima Ferreira, nos jardins do Museu, em 1962. Anos mais tarde, em 1983, Maurício ingressou no Museu Imperial como estagiário, foi funcionário da biblioteca, da museologia, chefiou a museologia e há 11 anos ocupa o cargo de diretor do museu.
Foto de Maurício, futuro diretor do museu, aos seis meses de idade, com seus pais no jardim no palácio. Foto: Arquivo Pessoal/Maurício Vicente Ferreira Júnior
“É um privilégio participar dessa comemoração. Essas datas redondas nos ajudam a pensar na instituição, a pensar no futuro da instituição. Não apenas refletir no que foi construído neste período para a sociedade. O museu preserva itens de interesse da sociedade, mas precisa ser trabalhado e oferecido de uma forma palatável, de uma forma inteligível junto com a população, não adianta só preservar. É fundamental comunicar com as pessoas para que elas possam se ver como parte dessa história e valorizar esse acervo”, disse.
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Como parte das comemorações dos 80 anos do Museu Imperial, nos dias 30 e 31 de março, das 19h às 21h, acontecerá, no Cineteatro da instituição, o seminário “80 Anos de Criação do Museu Imperial: Contextos”, com curadoria de Alessandra Bettencourt Figueiredo Fraguas e Leandro Garcia Rodrigues, ambos da Área de Pesquisa do MI. O evento é gratuito e tem como público-alvo museólogos, historiadores, cientistas sociais, turismólogos, educadores, graduandos e pós-graduandos nas áreas de interesse, profissionais ligados a atividades museológicas e guias de turismo. Serão disponibilizadas 130 vagas, as inscrições podem ser feitas até o dia 20 de março no site do Museu Imperial
No dia 30 de março, às 17h, terá uma mesa-redonda com o tema o contexto político, com a doutora em História e Bens Culturais, Luciana Pessanha Fagundes, que fará a palestra “Memórias da realeza nos dilemas da república brasileira: releituras de D. Pedro II e seu reinado (1889-1943)”. Em seguida, Maria de Fátima Moraes Argon da Matta, historiadora, arquivista do Museu Imperial (1980-2018), Presidente do Instituto Histórico de Petrópolis e membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Rio de Janeiro, abordará o tema “O centenário de nascimento de D. Pedro II: memória e legado”.
Já no dia 31 será discutido o contexto cultural. Às 19h, Helena Maria Bomeny Garchet, Doutora em Sociologia, Professora Titular de Sociologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, fará a conferência “Uma política para o patrimônio na gestão Gustavo Capanema (1934-1945)”. Em seguida, Myrian Sepúlveda dos Santos, Doutora em Sociologia, Professora Titular da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, proferirá palestra intitulada “Museu Imperial: A Construção do Império pela República”. As inscrições podem ser realizadas online através deste link.
Também está sendo promovida a Exposição comemorativa do bicentenário do nascimento de d. Maria da Glória, rainha d. Maria II de Portugal. A exposição aberta no dia 10 de dezembro vai até o dia 21 de abril de 2020.