• Mudança no estilo de vida pela proteção dos animais

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  • 01/09/2019 22:00

    Há quatro anos, a confeiteira Márcia Balter leu um livro que mudou sua percepção sobre os animais. “Parece que caiu uma ficha quando comecei a perceber que os animais também têm sentimentos”, disse. O livro se chama “O Evangelho dos animais”. “A partir dele, comecei a pesquisar e vi muitos profissionais sérios falando sobre o sofrimento dos animais. Falando sobre veganismo e das consequências da alimentação onívora, não só para o meio ambiente, mas para o nosso corpo”, contou.

    Há mais de vinte anos no ramo dos doces, Márcia mudou completamente sua alimentação e estilo de vida para o veganismo. No início não foi fácil, principalmente porque, além dela, em casa moravam o esposo, a filha e o neto. “Eu queria que todos vissem como era importante, e tive muita resistência familiar. Mas hoje entendo que cada um tem seu tempo e todos respeitam a minha opção pelo veganismo”.

    Cada vez se fala mais sobre alimentação vegana e vegetariana e, segundo profissionais de nutrição, há cada vez mais pacientes nos consultórios buscando esse estilo de vida. “Tenho notado um aumento de pessoas que estão procurando se alimentar de maneira mais consciente, especialmente quando descobrem como os animais que são criados para o abate são tratados. Outro ponto é, quando em consulta, relato uma maior perda de peso com uma alimentação vegana. Que ocorre de maneira saudável, sem faltar nada para o organismo”, explica a nutricionista Mayara de Simas Mesquita, especialista em nutrição vegana.

    Márcia conta que no início foi difícil também pela falta de opções no cardápio que encontrava nos restaurantes. “Na rua, o lanche era só batata frita. E acabava comendo alimentos pobres em nutrientes que eu pensava serem veganos, porque não pensava no que tinha por trás desses produtos”. Com ajuda profissional, Márcia conta que começou a fazer substituições inteligentes e mais ricas em nutrientes. E hoje, além da alimentação simples do dia-adia, nos pratos de confeitaria consegue a substituição de quase 90% dos produtos que utilizava por produtos de vegetal.

    “As pessoas não tem costume de ler rótulos. Em muitos casos são alimentos que a princípio não parecem ser de origem animal, mas que no seu processo de produção envolve a exploração dos animais”, disse Márcia. Mais do que a escolha do produto, é a escolha a partir de como ele é produzido.

    Há muitas dúvidas sobre o veganismo e vegetarianismo, principalmente, em relação as necessidades nutricionais do nosso corpo. “Existem muitos estudos publicados a respeito da saúde dos vegetarianos. De todos os nutrientes, apenas a vitamina B12 não será encontrada na dieta vegetariana estrita (vegana), mas a deficiência dessa vitamina também é muito vista nas pessoas que comem alimentos de origem animal, porque a presença dela está muito mais relacionada à sua ‘reciclagem’ pelo organismo do que pela sua ingestão. Os demais nutrientes poderão ser obtidos com abundância e boa biodisponibilidade na alimentação vegana”, explica a nutricionista.

    Segundo a especialista, a substituição de alimentos de origem animal pelos de origem vegetal costuma alterar a proporção de macronutrientes a dieta, mas ela se mantém dentro das proporções sugeridas pelas DRIs (Dietary Reference Intakes). Os estudos apontam alguns benefícios na adoção de uma alimentação vegana comparada a alimentação onívora. Entre elas estão, a redução de 31% das mortes por infarto em homens, e 20% em mulheres. O índice de mortalidade por doenças cardíacas é menor nos vegetarianos. Os níveis sanguíneos de colesterol chegam a ser 35% menores em veganos. A pressão arterial também é comprovadamente menor. Além de risco de diabetes ser 50% menor, há a redução da incidência de obesidade, um problema mundialmente preocupante, é clara entre os vegetarianos, explica Mayara.

    “Não precisa tirar os alimentos de origem animal de uma vez só, pode começar pela ‘segunda sem carne’. Comece tirando a carne pelo menos uma vez por semana do prato. Depois estenda para frango e em seguida peixes. E com isso, vá tirando aos poucos. Quando for ver já tirou tudo e começará a se sentir muito melhor, com maior disposição, melhora absurda no funcionamento do intestino, nos pensamentos, etc”, orienta a nutricionista.

    Márcia hoje não aceita mais encomendas. Mas em casa experimenta, inventa e adapta suas receitas ao novo estilo de vida. “É um processo de desconstrução. São suas escolhas. No consumo de carne manipulamos toda aquela energia do animal que foi abatido. A tristeza, raiva, todo o sofrimento do animal fica naquilo que comemos. As pessoas pensam no consumo no curto e médio prazo, mas não no longo prazo”, completa a confeiteira.

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