
O Ministério Público Federal (MPF) fez um requerimento de informações ao Serviço Autônomo do Hospital Alcides Carneiro (Sehac) sobre denúncias de falta de medicamentos nas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) de Petrópolis. O documento, assinado pela procuradora da República Vanessa Seguezzi, no início de julho, foi respondido pelo Sehac, que apontou a falta de ao menos quatro produtos, dentre eles, soro fisiológico 250 mL e um antibiótico importante para infecções respiratórias e urinárias.
Na última semana, a reportagem da Tribuna também teve acesso a mensagens encaminhadas em grupos de WhatsApp para funcionários, que mostram uma extensa listagem de medicamentos em falta ou com estoque crítico na UPA de Itaipava e no Pronto-Socorro do Alto da Serra. Em um dos comunicados, os profissionais são orientados a “usarem com moderação” os remédios que tinham acabado de chegar.
Medicamentos em falta nas UPAs
Na resposta ao MPF, o Sehac informou como a primeira falta do ano nas UPAs o soro fisiológico 250 mL, entre os dias 20 e 27 de fevereiro. O medicamento teria sido substituído por versões maiores, de 500 mL e 1 L, no tratamento dos pacientes.
Em março, dos dias 3 a 13, foi informada a falta de hidróxido de ferro (frasco-ampola), um antianêmico. Segundo o Sehac, o problema, neste caso, foi causado por falta do medicamento no mercado. Sem substituto direto, foram realizados empréstimos com hospitais de outras regiões.
Dos dias 17 a 30 de abril, foi relatada a falta de amoxicilina 1 g + clavulanato de potássio 200 mg (uso intravenoso). Três médicos ouvidos pela reportagem explicam que o medicamento é utilizado para tratar infecções bacterianas, seja respiratória, de pele ou urinária. A combinação ajuda a ampliar a efetividade da ação do remédio contra cepas bacterianas que resistiram ao clavulanato. Neste caso, o Sehac diz que os tratamentos foram realizados com outros fármacos disponíveis.
Já em maio, entre os dias 6 e 20, foi registrada a falta de metilprednisolona 125 mg e 500 mg (uso intravenoso). Segundo os médicos ouvidos, o uso mais comum do medicamento é no tratamento de reações alérgicas, crises asmáticas, doenças autoimunes, entre outros.
Funcionários são orientados para “uso com moderação”
A Tribuna também teve acesso a mensagens de WhatsApp encaminhadas a funcionários da UPA de Itaipava, que mostram uma extensa lista de medicamentos em falta ou com estoque crítico no mês de maio. É o caso, por exemplo, de bromoprida ampola (usada para enjoos e vômitos), Buscopan Composto ampola (cólicas e dores intensas), soro fisiológico 500 mL e propranolol 40 mg (usado no controle da frequência cardíaca).
Outro medicamento que também esteve em falta na UPA de Itaipava é o budesonida 0,25 mg/mL 2mL. “É uma medicação essencial para tirar criança e adulto da crise de asma. Quando falta, é um problema sério”, relatou um dos profissionais ouvidos pela reportagem.
A reportagem ainda recebeu relatos da falta de penicilina (antibiótico utilizado para diversos tratamentos, como infecções respiratórias e doenças sexualmente transmissíveis) e de metformina 850 mg (usada no tratamento do diabetes tipo 2) no Pronto-Socorro do Alto da Serra, na última semana. Outros medicamentos também estavam em falta.
Ainda no Pronto-Socorro, os profissionais receberam uma orientação para “usarem com moderação” os medicamentos que tinham acabado de chegar, como o Buscopan Composto.
Audiência vai debater finanças do Sehac
Na próxima quinta-feira (04), uma audiência será realizada na 4ª Vara Cível de Petrópolis para debater as dívidas do município com o Sehac, que atualmente administra o Hospital Alcides Carneiro (HAC) e as UPAs. A ação judicial começou em 2018 e, no ano seguinte, R$ 9 milhões foram tirados do PAC Encostas para socorrer ao serviço autônomo e, em última manifestação, o Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) informou que não havia notícias de devolução.
Uma das justificativas utilizadas pela promotora de Justiça, Vanessa Katz, para solicitar a audiência foi justamente a notícia da falta de medicamentos. Em última manifestação, no mês de julho, Katz escreveu que “na gestão atual, tem surgido notícias de desabastecimento do Hospital Alcides Carneiro e das UPAs, fato que já levou, inclusive à requisição de informações por parte do MPF.” Com isso, considerou “imperiosa” a realização da nova audiência, para debater a “saúde financeira” do Sehac.
O que diz a Prefeitura
Em resposta à reportagem, a Secretaria de Saúde informou que é de conhecimento público que o município de Petrópolis enfrenta um momento difícil financeiramente. No entanto, negou que haja desabastecimento nas UPAs e em outras unidades de saúde (veja a nota na íntegra ao final da matéria).
Leia, na íntegra, a nota da Secretaria de Saúde:
“A Secretaria de Saúde informa que é de conhecimento público que o município de Petrópolis enfrenta um momento difícil financeiramente, no entanto, não há desabastecimento nas UPAs e em outras unidades de saúde. As equipes têm sido orientadas a administrar os insumos com responsabilidade e, quando acontece de faltar um medicamento, os funcionários fazem a substituição por um similar que não afete o tratamento do paciente.
Sobre a retirada de R$ 9 milhões do PAC Encostas para socorrer o Sehac, a recomposição foi feita em 2020 e o MPRJ agora apenas fez um questionamento que já foi esclarecido.”
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