• MP-RJ mira em mulher de Capitão Adriano e PMs por lavagem de dinheiro e agiotagem

  • 22/03/2021 11:29
    Por Pepita Ortega e Wilson Tosta / Estadão

    O Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro deflagrou nesta segunda-feira, 22, a Operação Gárgula para investigar suposta organização criminosa responsável pela movimentação financeira e lavagem de dinheiro do miliciano Adriano da Nóbrega, morto em fevereiro de 2020 pela PM da Bahia. A ofensiva busca cumprir mandados de prisão preventiva contra a mulher de Adriano, Julia Emilia Mello Lotufo, o soldado da PM Rodrigo Bitencourt Fernandes Pereira do Rego e Daniel Haddad Bittencourt Fernandes Leal.

    Promotores e agentes da Coordenação de Segurança a Inteligência do MP fluminense cumprem ainda 27 mandados de busca e apreensão em diversos endereços do Rio, Niterói e Guapimirim. A Justiça do Rio também determinou o sequestro do Haras Fazenda Modelo e de automóveis, além do bloqueio de R$ 8,4 milhões, correspondentes ao valor constatado em movimentações dos investigados.

    Ao todo, nove pessoas foram denunciadas junto à 1ª Vara Criminal Especializada da Capital por crimes de associação criminosa, agiotagem e lavagem de dinheiro, indicou o MP do Rio. Os acusados são integrantes da rede de apoio de Capitão Adriano, responsáveis por lavar o dinheiro obtido pelo miliciano.

    Segundo a denúncia, integravam tal rede de apoio os três alvos das preventivas – Rodrigo Bitencourt, Julia Emilia e Daniel – e o sargento da PM Luiz Carlos Felipe Martins (vulgo Orelha). Este último também teve a prisão decretada, mas foi morto no último sábado, 20, em Realengo, “em circunstâncias ainda a serem esclarecidas”.

    Também foram denunciados, com medidas cautelares diversas de prisão deferidas pela Justiça, Carla Chaves Fontan, Carolina Mandin Nicolau, Jefferson Renato Candido da Conceição (vulgo “Sapo”), David de Mello Lotufo e Lucas Mello Lotufo.

    Segundo a Promotoria, a ação é um desdobramento da Operação Intocáveis, que mirou em integrantes da milícia de Rio das Pedras, liderada por Adriano da Nóbrega. O miliciano, que é apontado como um dos fundadores do Escritório do Crime, também está no centro das investigações do caso das supostas “rachadinhas” no gabinete de Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) à época em que o filho do presidente Jair Bolsonaro era deputado estadual no Rio.

    Em setembro de 2005, Adriano recebeu a Medalha Tiradentes da Assembleia Legislativa, por iniciativa do então deputado e hoje senador Flávio Bolsonaro. A ex-mulher e a mãe de Adriano, um ex-policial militar que se envolveu com o crime e era conhecido como Capitão Adriano, eram funcionárias em cargos de confiança no gabinete de Flávio no Legislativo fluminense. Era lá que, segundo o MP, funcionava um esquema de desvio de dinheiro de salários, pela contratação de servidores “fantasmas”.

    Como funcionava o esquema

    A denúncia do MP do Rio indica que entre 2017 e fevereiro de 2020, Rodrigo Bittencourt, Julia Lotufo, Carolina Nicolau, Daniel Haddad, Carla Fontan e Luiz Carlos Martins, sob as ordens de Adriano, atuaram na “concessão de empréstimos a juros exorbitantes a terceiros (até de 22%), utilizando-se de empresas de fachada. O dinheiro investido para esses empréstimos era oriundo dos lucros auferidos pelo miliciano com as práticas criminosas da organização paramilitar em atuação na comunidade de Rio das Pedras e adjacências, além de seu envolvimento na contravenção”, explicou a Promotoria em nota.

    O Ministério Público do Rio detalhou o esquema sob suspeita, indicando que uma das empresas utilizadas na lavagem de dinheiro de Capitão Adriano era a Cred Tech Negócios Financeiros Ltda. A companhia tinha como sócios o PM Rodrigo Bittencourt e Carolina Mandin. Segundo as investigações, a suposta empresa de fachada movimentou R$ 3.624.531,00 entre 1º de agosto de 2019 e 28 de abril de 2020.

    Já Jefferson da Conceição e Daniel Haddad Leal teriam atuado como “laranjas” no esquema de lavagem de dinheiro, indica a Promotoria do Rio. Os bens dos devedores da Cred Tech eram confiscados por eles e passados para seus nomes, apontam os investigadores.

    Daniel foi alvo de busca e apreensão em fevereiro de 2020 quando foi apreendido em seu poder R$ 124.600,00 pertencentes à organização criminosa. A Cred Tech foi mantida após a morte de Adriano, mas não foram identificadas operações financeiras suspeitas após o dia 9 de fevereiro de 2020.

    O homem de confiança e a viúva

    Luiz Carlos Felipe Martins, morto no último sábado, é descrito na denúncia como “homem de confiança” de Adriano. Segundo os investigadores, ele auxiliava o miliciano na administração dos valores que seriam disponibilizados a título de empréstimos. Ele também era responsável por levar valores a familiares e prestadores de serviços de Adriano e pelo pagamento das despesas pessoais do miliciano com aluguel, carros e cartões de crédito. A ação penal será extinta em relação a ele, informou o MP.

    Já Julia Lotufo, mulher de Adriano, é apontada pela Promotoria como responsável pela contabilidade e gestão financeira do miliciano. O MP-RJ diz ainda que Rodrigo, Daniel e Luiz Felipe se reportavam a ela para prestar contas sobre os valores pertencentes a Adriano – que eram investidos a título de empréstimos ou para a constituição de outra empresa usada na lavagem, a Lucho Comércio de bebidas, cujos sócios eram Rodrigo Bittencourt e Carla Fontan.

    Ainda segundo a Promotoria, alguns meses depois da morte de Adriano, Rodrigo e Carla transferiram todo o capital social da Lucho Comércio de bebidas a Lucas Lotufo e David Lotufo, irmãos de Julia. “A alteração contratual evidencia, segundo os investigadores, que a denunciada Julia permaneceu agindo com o intuito de ocultar e administrar o patrimônio de Adriano, beneficiando-se diretamente do proveito dos crimes por ele praticados”, avalia a Promotoria.

    A investigação identificou ainda que Julia, assim como Luiz Carlos Felipe, supostamente atuaram na dilapidação do patrimônio de Adriano com a venda imediata de ativos de alta liquidez.

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