Caxambu: técnicos encontram lixão em encosta, queimadas e ocupação em áreas atingidas pelas chuvas
Entre os principais problemas destacados, estão o despejo irregular de lixo e queimadas
O Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ) e membros da Rede Ser.ra realizaram uma vistoria técnica no Caxambu para avaliar as principais necessidades da comunidade e ouvir dos moradores quais são as prioridades no atendimento ao bairro após as chuvas de fevereiro e março. Entre os problemas apontados, estão a lentidão nas obras, o despejo irregular de lixo e queimadas. De acordo com o MPRJ, o próximo passo é levar o poder público à localidade para definir quais soluções serão tomadas.
O encontro aconteceu no local conhecido como “parte alta” do Caxambu, próximo a um dos acessos ao Morro dos Anjos, em um campo aberto onde é possível avistar parte da comunidade e também todo o vale que corta o Bela Vista e o Bairro Esperança. A procuradora de Justiça do MP, Denise Tarin, explicou que a visita desta quinta-feira marca o primeiro passo no atendimento à comunidade.
“A intenção é fazer. O primeiro é responder à uma demanda da comunidade, porque tem áreas que foram afetadas e nitidamente o poder público ainda não chegou. Há uma via pública (de frente para o Morro dos Anjos), onde sequer há uma sinalização daquela erosão. O primeiro ponto foi avaliar, por meio do olhar da comunidade, as vulnerabilidades geológicas do Caxambu, especialmente no Morro dos Anjos”, disse Denise Tarin, destacando que outras comunidades devem receber visitas técnicas.
“Isso está sendo uma dinâmica. Vamos à Vila Felipe, à Rua do Túnel, porque a comunidade está sentindo essa necessidade da escuta. Essas visitas vão seguir um cronograma, mas também vamos voltar aos locais já visitados. O próximo passo (no Caxambu) é trazer o poder público para saber como vai gerenciar sobre tudo o que foi visto para que inclua as intervenções aqui”, ressaltou a procuradora do MP.
A procuradora e membros do Rede Ser.ra especializados em geologia, arquitetura, engenharia agrônoma e membros do Nudec, se reuniram com moradores e líderes comunitários do Caxambu para ouvir as principais demandas e conhecer parte dos locais considerados mais sensíveis.
Ainda no campo onde o encontro foi marcado, os presentes demonstraram preocupação com a quantidade de lixo e entulho despejados irregularmente no próprio terreno, onde eventos culturais são realizados e crianças brincam aos fins de semana.
O grupo também apontou um grande morro que recentemente passou por uma queimada, há cerca de duas semanas. Parte do fogo, inclusive, chegou perto de residências, situação que, de acordo com os próprios moradores, acontece anualmente e tem sido cada vez pior.
Foi relatada ainda a criação de uma espécie de “lixão” irregular na localidade, onde uma grande quantidade de detritos é queimada diariamente. Caminhões estariam subindo a localidade durante a noite para fazer o despejo irregularmente. Durante a visita técnica, inclusive, lixo começou a ser queimado no local.
Já no Morro dos Anjos, a falta de saneamento básico e estrutura mínima para os moradores, como ligações de água, foi apontada. Há pessoas vivendo em casas com parte da estrutura atingida por árvores e em barrancos cedendo, além do caminho que dá acesso à servidão, com a calçada cedendo em alguns trechos e esgoto descendo a céu aberto, na entrada das casas.
A necessidade de regularização fundiária plena está entre as prioridades para a comunidade. O geólogo Celso Ponte, membro da Rede Ser.ra, destacou que o Caxambu pode ser considerado uma região muito vulnerável.
“Temos muitas pessoas em risco aqui. O objetivo dessa primeira visita é de estudarmos o que precisa ser feito, pois é uma região muito vulnerável. No Morro dos Anjos, muito trabalho também precisa ser feito para garantir a segurança dessas famílias”, disse o geólogo.
Para Raquel Neves, moradora do “parte baixa” do Caxambu, a conscientização da população está entre as prioridades.
“A questão do lixo é fundamental. Precisamos de uma solução pra isso, envolver os moradores sobre o descarte irregular, sobre o impacto que isso tem e como fazer da forma correta. E nesse mirante, onde foi feito o encontro e é um ponto crítico do descarte irregular, precisamos de uma destinação melhor para a comunidade, um espaço para que as crianças e jovens aproveitem”, disse Raquel, destacando que outra demanda urgente é o início das obras na Rua Bartolomeu Sodré, onde pedras rolaram e destruíram parte da via.
“Estamos preocupados com o início das obras na Bartolomeu Sodré, pois o Estado assumiu, mas queremos saber quando vai iniciar. Nossa preocupação é sobre qual trabalho vão fazer. E outras questões ali do local, como iluminação pública. Estamos passando na escuridão há quatro meses”, denunciou Raquel, que mora na localidade a vida inteira.