• MP denuncia Augusto Melo no Caso Vai de Bet e sugere indenização de R$ 40 mi ao Corinthians

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  • 10/jul 22:20
    Por Bruno Accorsi, Leonardo Catto e Rodrigo Sampaio / Estadão

    O presidente afastado do Corinthians, Augusto Melo, foi denunciado pelo Ministério Público, nesta quinta-feira, por lavagem de dinheiro, associação criminosa e furto qualificado, crimes aos quais foi associado na conclusão do inquérito conduzido pela Polícia Civil para apurar o Caso Vai de Bet. Se a denúncia for acatada por juiz, Melo vira réu. No documento, o MP pede que, em caso de condenação, os responsáveis indenizem o clube alvinegro em R$ 40 milhões.

    Procurada pelo Estadão, a defesa do dirigente, liderada pelo advogado Ricardo Jorge, mantém o discurso que adotou desde a conclusão da investigação, a qual considera frágil e cujas fontes questiona. Em nota, classifica o “oferecimento de denúncia como desfecho natural” e carente de “clareza e objetividade”.

    “Não há uma descrição cronológica coesa dos fatos que permita compreender, de forma técnica e precisa, qual seria a conduta delituosa imputada ao presidente. A peça acusatória, portanto, não surpreende nem inova em relação ao que já se esperava. Trata-se de uma narrativa genérica e pouco fundamentada, o que compromete o pleno exercício da ampla defesa e do contraditório”, diz o texto.

    A mesma denúncia foi oferecida a Marcelo Mariano e Sérgio Moura, ex-diretor administrativo e ex-superintendente de marketing corintianos, respectivamente, assim como ao empresário Alex Cassundé, apresentado como intermediário do contrato com a casa de apostas.

    “Os elementos coletados no curso da investigação indicam que os denunciados Augusto Pereira de Melo, Marcelo Mariano dos Santo, Sérgio Lara Muzel de Moura e Alex Fernando André se concertaram de maneira estável e com identidade de propósitos, visando a prática de crimes de furto, mediante a subtração de 36 (trinta e seis) parcelas de R$ 700.000,00, bem como a lavagem dos valores decorrentes da subtração, com a utilização de empresas de fachada, tudo a permitir a dissimulação da origem e propriedade dos valores, de modo a dificultar o rastreamento desse dinheiro”, diz o MP, com base no inquérito.

    Ex-diretor jurídico do clube, Yun Ki Lee estava entre os indiciados, por omissão e negligência em relação ao contrato, mas o MP recomenda que os autos em seu nome sejam arquivados e não oferece denúncia. O entendimento é de que “pairam dúvidas se ele se omitiu dolosamente para a consecução dos objetivos da associação delitiva ou se agiu com descuidado na sua recente função, de rigor, sem prejuízo do que dispõe o art. 18 do CPP”.

    Victor Henrique de Shimada e Ulisses de Souza Jorge, donos de empresas envolvidas no suposto esquema de lavagem de dinheiro, também foram denunciados. A reportagem aguarda a manifestação das defesas dos denunciados.

    Ulisses é dono da UJ Football, destino final de R$ 1,4 milhão desviado da intermediação do acordo com a Vai de Bet. A agência de jogadores é apontada como braço do Primeiro Comando da Capital (PCC) por Vinícius Gritzbach, delator assassinado a tiros em novembro 2024, no Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo.

    Shimada, por sua vez, é o único sócio da Victory Trading Intermediação de Negócios, Cobranças e Tecnologia Ltda, última empresa pela qual o valor passou antes do repasse a UJ Football. Ele foi preso em janeiro deste ano e ficou detido por cerca de duas semanas, por crimes de furto qualificado e lavagem de dinheiro, conforme relatado pela Polícia Civil no inquérito finalizado em junho.

    O MP pede que, em caso de condenação dos acusados, o Corinthians se indenizado em no mínimo R$ 40 milhões, valor que soma a quantia subtraída do acordo com a Vai de Bet ao valor da multa da rescisão com a PixBet, patrocinadora do clube até a proposta da nova casa de apostas.

    “Toda trama criminosa aqui narrada gerou um prejuízo que ultrapassa R$ 40.000.000,00 (quarenta milhões de reais). Para tanto, soma-se os valores subtraídos com o valor da rescisão com a antiga patrocinadora. De início, por meio do contrato de intermediação simulado, visando a furtar o dinheiro que já havia aportado nos cofres do SCCP, o valor subtraído totaliza R$ 1.400.000,00”, diz o texto.

    “Ocorre que a assunção de compromissos com a VaideBet ocasionou a rescisão do contrato com a PixBet (Pix Star Brasilian N.V.), antiga patrocinadora. A multa rescisória foi de R$ 38.892.857,14, sendo título executivo extrajudicial”, conclui.

    ENTENDA O CASO VAI DE BET

    Primeiro contrato da gestão Augusto Melo, o acordo de R$ 360 milhões da Vai de Bet com o Corinthians, rescindido unilateralmente pela casa de aposta em junho de 2024, previa o pagamento de 7% do montante líquido de cada parcela à intermediadora Rede Media Social Ltda. Ou seja, R$ 700 mil por mês ao longo de três anos, resultando em R$ 25,2 milhões ao fim do contrato.

    Citada no contrato como intermediadora do negócio, a Rede Media Social Ltda. tem CNPJ no nome de Alex Cassundé, antigo membro da equipe de comunicação do presidente Augusto Melo.

    A rescisão por parte da Vai de Bet ocorreu após vir à tona repasses de parte da comissão pela Rede Media Social Ltda à Neoway Soluções Integradas em Serviços Ltda, suposta empresa “laranja” cujo CNPJ está em nome de Edna Oliveira dos Santos, mulher de origem humilde de Peruíbe, no litoral paulista.

    A Polícia Civil, por meio da Departamento de Polícia de Proteção à Cidadania (DPPC), concluiu que a Rede Social Media Ltda usou uma rede de empresas fantasmas para fazer R$ 1 milhão chegar à conta bancária da UJ Football Talent Intermediação, apontada como braço do PCC. O clube nega ter contrato com a empresa.

    ENTENDA O CAMINHO FEITO PELO DINHEIRO NA REDE DE EMPRESAS LARANJAS:

    Rede Social Media design Ltda: pertence a Alex Cassundé, um dos alvos da investigação. Atuou na campanha presidencial de Augusto melo como consultora de marketing e, depois, foi escolhida para intermediar o negócio com a Vai de Bet. Recebeu dois depósitos de R$ 700 mil feitos pelo Corinthians, nos dias 18 e 21 de março.

    Neoway Soluções Integradas em Serviços e Soluções Ltda: Recebeu, da Rede Social Media, parte do R$ 1,4 milhão. Foram dois pagamentos, nos dias 21 e 26 de março. A empresa foi usada como “laranja” para dissimular o destinatário final do dinheiro r nome de Edna Oliveira dos Santos, uma empregada doméstica que vive em Peruíbe. De acordo com a investigação, a Newoay integra um “grupo criminoso” ao lado de oturos CNPJs: a ACJ Platform, a Thabs Soluções Integradas e a Carvalho Distribuidora.

    Wave intermediações e tecnologia Ltda: Também apontada como empresa fantasma, foi o terceiro destino no caminho do dinheiro subtraído dos cofres do Corinthians. Registrou uma movimentação de R$ 13 milhões entre os dias 26 de março e 28 à empresa Victory Trading Intermediação de Negócios, Cobranças e Tecnologia Ltda, outra investigada no caso.

    UJ Football Talent: De acordo com delação de Antônio Vinícius Lopes Gritzbach, assassinado no Aeroporto de Guarulhos em novembro do ano passado, é o braço do PCC no futebol. Recebeu R$ 874.250,00 da Wave e mais R$ 200 da Newoay, enviados à ela pela Victory Trading.

    À polícia, Cassundé afirmou que sua ligação com o clube se deu por meio de Marcelo Mariano e o ex-superintendente de marketing Sérgio Moura, que deixou o clube no ano passado. O dono da Rede Media Social negou ter atuado efetivamente como intermediário do acordo, apesar do nome de sua empresa estar no contrato.

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