
Morte súbita no esporte pode não ser fatalidade
Com as duas mortes súbitas na corrida de rua, ocorridas recentemente em corredores jovens, tenho que voltar a esse assunto e reforçar os alertas. O esporte em si não mata. O que mata são os excessos, uso de drogas, doenças não diagnosticadas corretamente e/ou que não tenha sido dada a devida importância. Embora a Morte Súbita na corrida de rua pareça baixo, 0,58 a 2,00, e Paradas Cardíacas entre 1,01 a 2,60 por 100.000 corredores (Araújo 2020), é um fato que causa muita dor nos amigos e familiares, além de muita repercussão nas redes sociais, como está sendo o caso.
Quando morre um corredor não faltam comentários maldosos das pessoas “do contra”. Fazem comentários sem fundamento na literatura e nas estatísticas. Vale ressaltar que a maioria das mortes podem ser evitadas com exames médicos de rotina, como perfil de laboratório (sangue, fezes, urina), eletrocardiograma, Raio X do Tórax, Holter 24 horas, Ecocardiograma com visão das carótidas e teste Ergométrico até a exaustão. “Testes Sub-Máximos deixam de diagnosticar até 39% das desordens cardíacas” (Cooper 1987). Por isso é importante fazer teste de esforço com médico cardiologista do esporte. Os protocolos são diferentes para sedentários e atletas.
Além dessas precauções, ainda tem a questão da SUPOSTA SUPERAÇÃO quando ultrapassa o senso de responsabilidade. Cruzar a linha de chegada se arrastando, trôpego a qualquer custo, colocando a própria vida em risco, não chamo isso de superação. Na maratona de São Paulo 26/01/25, morreu um corredor de 52 anos inscrito na prova de 10 km. Em Petrópolis, no ano passado, uma corredora de 42 anos faleceu após sofrer mal súbito no circuito de lazer.
Agora em junho, duas mortes no Sul em corredores (as) jovens. Estudos mostram que na faixa etária acima de 45 anos, a doença arterial coronariana é mais prevalente. Nos mais jovens são as causas estruturais e doenças congênitas, sendo a mais comum a cardiomiopatia hipertrófica, Mathews SC et al. (2012). Estatisticamente, as mortes acontecem no terço final das provas onde corredores (as) estão mais desgastados e ao mesmo tempo tentando superação. Fica aí um alerta para os organizadores sobre posicionamento estratégico das equipes de socorro. Uma só equipe me parece pouco para provas de grande porte.
Outra. Os regulamentos apenas sugerem que os inscritos estejam em perfeitas condições de saúde. Não estaria na hora exigir atestado médico? Aos corredores (as), exames médicos de rotina custa menos que celulares, relógio com GPS, tênis de última geração e o que se gasta com inscrição de certas corridas. Faça exames médicos de rotina! A vida é uma corrida que ninguém quer chegar primeiro.
**Literatura Sugerida: 1) MATHEWS,Simon. et all. Mortaly. Among Marathon Runners in The United Satates, 2000-2009. The American Journal of Medicine (2012). 2) DE ARAÚJO, Oscar Antonio Santos Targino; TENÓRIO, Mario Cesar Carvalho. Morte súbita e parada cardíaca em corredores de maratona: taxas de incidência e causas. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício, (2020).