• Morre, aos 85 anos, Nélida Piñon, primeira mulher a presidir a Academia Brasileira de Letras em 100 anos

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  • 17/12/2022 17:27
    Por Aghata Paredes

    Morreu neste sábado (17), em Lisboa, Portugal, a escritora e acadêmica Nélida Piñon. Ocupante da Cadeira 30 da Academia Brasileira de Letras (ABL), eleita em 1989, na sucessão de Aurélio Buarque de Holanda, foi recebida em 3 de maio de 1990, pelo acadêmico Lêdo Ivo. Nélida foi a primeira mulher a presidir a entidade em 100 anos.

    Infância

    Filha de Lino Piñon Muiños, comerciante, e Olívia Cuiñas Piñon, seu nome é um anagrama do nome do avô, Daniel. Sua família é originária da Galícia, radicada no Brasil desde a década de 1920. Na infância, seus pais a estimularam para o universo dos livros. Aos dez anos foi para a Galícia, onde ficou dois anos. Essa vivência, mais tarde, seria o fio condutor de seu amor por duas pátrias: a Galícia e o Brasil.

    Trajetória acadêmica

    Formou-se em Jornalismo pela Faculdade de Filosofia da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Foi editora assistente da revista Cadernos Brasileiros (1966-67); membro do Conselho Consultivo da revista Tempo Brasileiro (1976-1993), da revista Impressões (1997), dos Cadernos Pedagógicos e Culturais (1993); membro do Conselho Editorial da revista Imagem Latino-Americana (Caracas, 1993), da Encyclopedia of Latin American Literature (Inglaterra, 1994), da Review: Latin American Literature and Arts (Nova York, desde junho de 1995); colunista semanal do jornal O Dia (Rio de Janeiro, desde 1995). Exerceu cargos no Conselho Consultivo de inúmeras entidades culturais do Rio de Janeiro. Inaugurou a cadeira de Criação Literária na Faculdade de Letras da UFRJ.

    Em 1990, candidatou-se à cátedra Henry King Stanford em Humanidades, da Universidade de Miami. Assumiu, como titular da cátedra, em 1991. A partir desse ano, ali realizou cursos anualmente, de janeiro a maio, participando de debates, encontros, e proferindo conferências. Em agosto de 1996, desligou-se temporariamente da cátedra, ao assumir interinamente a presidência da Academia Brasileira de Letras, na ausência de presidente Antonio Houaiss.

    Na Academia Brasileira de Letras, foi diretora do Arquivo (desde 1990); eleita primeira-secretária (26.6.1995) e secretária-geral (7.12.1995); presidente em exercício (ago.-dez. 1996). Foi eleita presidente da Academia em 5 de dezembro de 1996. Foi a primeira mulher, em 100 anos de existência da ABL, a integrar a Diretoria e ocupar a presidência da Casa de Machado de Assis, no ano do seu I Centenário.

    Estreia na Literatura

    Nelida fez sua estreia na Literatura com Guia-mapa de Gabriel Arcanjo, publicado em 1961, obra que trata sobre o pecado, perdão e sobre a relação dos mortais com Deus, através do diálogo entre a protagonista e seu anjo da guarda.

    Obras

    Guia-mapa de Gabriel Arcanjo, romance (1961); Madeira feita cruz, romance (1963); Tempo das frutas, contos (1966); Fundador, romance (1969); A casa da paixão, romance (1972); Sala de armas, contos (1973); Tebas do meu coração, romance (1974); A força do destino, romance (1977); O calor das coisas, contos (1989); A república dos sonhos, romance (1984); A doce canção de Caetana, romance (1987); O pão de cada dia, fragmentos (1994); A roda do vento, romance infanto-juvenil (1996); O cortejo do divino (L&PM, 1999), Até amanhã outra vez (1999), O presumível coração da América (2002), Vozes do deserto (2004), Aprendiz de Homero; ensaio (2008), Coração andarilho: memória (2009), Livro das Horas: memória (2012), A Camisa do Marido (2014), Filhos da América (2016), Uma furtiva lágrima (2019).

    Sua obra está traduzida para países como Alemanha, Itália, Espanha, União Soviética, Estados Unidos, Cuba e Nicarágua. Contos seus encontram-se publicados em centenas de revistas e fazem parte de antologias brasileiras e estrangeiras.

    Prêmios

    Prêmio Walmap, pelo romance Fundador (1970); Prêmio Mário de Andrade, pelo romance A casa da paixão (1973); Prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte e Prêmio Ficção Pen Clube pelo romance A República dos sonhos (1985); Prêmio José Geraldo Vieira, da União Brasileira de Escritores de São Paulo, pelo romance A doce canção de Caetana (1987); Prêmio Golfinho de Ouro, pelo Conjunto de Obras, conferido pelo Governo do Estado do Rio de Janeiro (1990); Prêmio Bienal Nestlé, pelo Conjunto de Obras (1991); Prêmio Internacional de Literatura Juan Rulfo, o mais importante da América Latina e do Caribe, concedido pela primeira vez a uma mulher e a um autor de língua portuguesa (1995).

    *Com informações da Academia Brasileira de Letras.

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