• Vacinação lenta em outros municípios faz cidade do Rio imunizar moradores de fora: 10,75% do total

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  • 14/06/2021 14:01
    Por Roberta Jansen / Estadão

    A designer carioca Denise, de 56 anos, mora em São Paulo desde o início de 2020, mas se vacinou contra a covid-19 na quarta-feira, no Jardim Botânico, zona sul do Rio. Naquele momento, o calendário de vacinação da cidade estava mais de um mês à frente do da capital paulista e Denise já tinha a viagem programada para visitar a mãe. Outras 14,7 mil (0,43%) pessoas que vivem no Estado de São Paulo fizeram como a designer.

    No total, segundo dados da Secretaria Municipal de Saúde do Rio, 3.400.526 indivíduos já se vacinaram na capital carioca. Desse número, 10,71% vieram de outras cidades. A maioria do próprio Estado, 8,22%, e os demais das outras unidades da federação.

    São Paulo só perde para Minas. Foram 16,1 mil (0,47%) moradores do Estado vizinho que também resolveram se vacinar no Rio. “A espera (pela vacina) é muito angustiante; várias pessoas estão fazendo isso”, explicou Denise. “Vários amigos cariocas que vivem em São Paulo, mas que têm família no Rio, acabaram se vacinando por aqui mesmo.”

    Não se trata exatamente de um turismo de vacina, como já está acontecendo nos Estados Unidos e em alguns outros países onde a imunização está mais avançada. Na maioria dos casos, são pessoas que circulam na cidade por motivos de trabalho ou familiares.

    Para o secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz, não há motivo para coibir esse movimento. “Não é o que a gente recomenda. O ideal é que as pessoas se vacinem perto de suas casas”, ressaltou o especialista em saúde pública.

    “Mas não estamos cobrando nenhum comprovante de residência. A nossa migração não é muito alta, está na faixa dos 10%, a maioria vinda dos municípios vizinhos. Se por acaso tivermos uma migração muito maior, podemos pedir uma compensação (de doses) ao Ministério da Saúde.”

    A ideia, segundo o secretário, é justamente não burocratizar o processo de vacinação. No Rio, basta apresentar o CPF para se vacinar. Até a semana que vem, a cidade já estará imunizando pessoas de 50 anos sem comorbidades – com o adiantamento do calendário anunciado ontem pelo governador João Doria (PSDB), o mesmo deve ocorrer em São Paulo.

    No Rio, a secretaria também adiantou a imunização de profissionais de saúde, o que não foi feito em todas as cidades. No caso dos professores, no entanto, o posto de saúde exige a apresentação de certificado profissional.

    “Eu moro em São Paulo há três anos, mas sou carioca”, explicou o professor Diógenes da Silva Severino, de 31 anos. “Mesmo morando em São Paulo, tenho um trabalho de abrangência nacional, atendo escolas no Rio, em Minas, no Rio Grande do Sul. Por isso, consegui ser vacinado no Rio. Até ontem, pelo menos, ia demorar muito mais em São Paulo. Mas agora acho até que já adiantaram o calendário por lá também.”

    Segundo Severino, de modo geral, o processo de vacinação na capital paulista é mais burocrático do que no Rio. “Em São Paulo, tem de fazer cadastro num site, tem QR code…. No Rio, é tudo bem mais simples.”

    Urgência

    Segundo o secretário de Saúde, o município está trabalhando no limite da falta de doses para dar mais agilidade ao processo. “A vacina chegou, a gente aplica. Não temos praticamente nada em estoque, só as segundas doses”, afirmou. “Estamos tratando a questão com o sentimento de urgência que merece.”

    Especialista em saúde pública e integrante do comitê de combate à covid-19 da UFRJ, Chrystina Barros não vê maiores problemas no intercâmbio. “Como o Rio já conseguiu avançar bem na cobertura dos idosos, dos mais vulneráveis, não vejo problema em vacinar pessoas que já circulam por aqui por motivos familiares ou econômicos”, afirmou. “Elas não estão disputando recursos com os idosos, não há falta de vacina para os mais vulneráveis.”

    “A gente vai ouvindo as histórias das novas cepas circulando, das pessoas que já tinham tomado a primeira dose e se infectaram, dos que estavam para tomar a vacina e morreram e vai dando muita angústia”, justificou a designer Denise. “Vai dando aquele medo horrível de morrer na praia.”

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