Moradores da Posse e Areal enfrentam problemas com o transporte público
Milhares de moradores do Brejal, no distrito da Posse, que abrange as localidades de Nuvens, Albertos e Jurity, estão enfrentando sérios problemas com o transporte público, como já foi divulgado diversas vezes na Tribuna. Os ônibus da empresa que atende à região, por estarem em péssimo estado de conservação, apresentam problemas mecânicos e não são substituídos por outros carros. Com isso, passageiros ficam por várias horas aguardando alguma providência e acabam perdendo dias de trabalho, ficando ilhados nas suas comunidades, sem ter alternativa de transporte. Além disso, já houve casos de coletivos que perderam o freio e quase sofreram acidentes. O itinerário, entre a Praça 29 de Junho e o Brejal, é uma estrada muito íngreme e de curvas sinuosas, o que torna a viagem muito perigosa.
Celina Marchiori, de 43 anos, mora na Jurity e trabalha em Itaipava. A vendedora precisa acordar quatro horas antes para não correr o risco de ficar a pé e levar uma advertência. “Na empresa eles não toleram atraso. Eu já cheguei tarde seis vezes. Graças a Deus a gerente sabe onde moro, conhece a minha realidade e já relevou várias vezes. No entanto, não é todo emprego que vai ser assim. Se eu tiver um compromisso inadiável tenho que sair de casa muito antes para no caso de um carro desses quebrar eu poder pegar outro. Mas o meu maior medo é que o outro também quebre”, disse Celina.
Fernanda Fonseca, de 33 anos, mora nos Albertos e trabalha no bairro de Corrêas. Ela gasta quatro horas para chegar ao trabalho. Uma hora esperando ônibus e mais três dentro de três diferentes ônibus que ela precisa pegar até Corrêas. “Se a gente tivesse um transporte eficiente eu não precisaria acordar tão cedo para pegar o ônibus. Eu chego antes no ponto para não correr o risco de descer o Brejal em pé. Se o carro perder o freio nós vamos todos ladeira abaixo. A estrada é perigosíssima, cheia de curvas e barrancos sem fim. Quando será que vão tomar uma providência? Quando acontecer uma tragédia? Aí não terá volta. Espero que resolvam esse caos o quanto antes!”, disse indignada.
O pior é que o Brejal fica a uma certa distância do centro da Posse e o ônibus gasta cerca de uma hora para chegar ao destino. Como o transporte é deficiente, quem não tem carro, moto ou não consegue uma carona com amigo sofre quase que diariamente, numa rotina de muita espera para conseguir embarcar em algum coletivo que esteja funcionando. É assim a vida de Rosana Carius, 50 anos, que trabalha como empregada doméstica em vários bairros e localidades da Posse e precisa do ônibus quatro dias por semana. “Meus patrões já sabem: se eu marcar e não aparecer é porque não teve ônibus. Não tenho mais agenda. Eu faço o serviço por ordem. Minha caderneta está toda rabiscada, porque marco um dia e vou no outro. E assim vai. Infelizmente dependo desses ônibus velhos para poder trabalhar”, disse Rosa, como é conhecida. A doméstica disse ainda que se conseguisse uma casa em outro bairro da Posse que conta com transporte público eficiente se mudaria. “Se eu tivesse ônibus na porta de casa, qualquer lugar estava bom”, completou.
Cidade vizinha sofre com a mesma empresa de ônibus
Não é só no Brejal, em Petrópolis, que a população é vítima de um sistema de transporte ineficiente. No município de Areal a situação é semelhante. A empresa que atende a toda cidade hoje faz parte da Transportadora São Pedro de Alcântara, da Posse.
Na última quarta-feira, um coletivo que fazia a linha Vila Dantas x Centro, da Viação Expresso Areal, perdeu o freio e caiu em uma ribanceira com vários passageiros dentro. “O motorista estava manobrando e foi engatar a marcha a ré quando percebeu que não tinha freio. O ônibus caiu pelo buraco e todos ficaram assustados”, disse um homem que preferiu não se identificar.
O pintor Daniel Oliveira, que mora na Vila Adelaide e trabalha no Centro de Areal, passou por situações muito perigosas com seu filho. Há algumas semanas o pintor teve que pular do ônibus com o filho de 4 anos no colo, porque o ônibus não tinha freio para parar no ponto. “Eu tive que descer com o ônibus em movimento e o meu filho no colo. A minha esposa também pulou comigo. Eu entendo que o motorista não tem culpa, mas alguém tem que tomar alguma providência. Meu amigo estava nesse ônibus que caiu na Vila Dantas. Ele contou que foi assustador”, completou.
Daniel comprou uma bicicleta para trabalhar, com medo de viajar de ônibus. “Eu arrumei uma bicicleta e estou trabalhando nela. Não vou me arriscar mais. Prefiro pedalar na BR-040 do que viajar num ônibus desses”, completou.
De acordo com moradores de Areal, os vários ônibus quebram diariamente e é certo que a cada dia falta ônibus em alguma localidade. “Teve um dia que colocaram uma Kombi escolar para levar dezenas de passageiros, porque o ônibus quebrou”, disse Fernando Vieira, de 32 anos, que mora no bairro Delícia.
Segundo usuários do sistema de transporte coletivo da cidade, o problema é recorrente. “Já tem muito tempo que isso acontece. Nós sempre reclamamos, mas ninguém toma providência nenhuma. E se morresse alguém nesse acidente da Vila Dantas?” indagou um morador que preferiu não ser identificado.
Sobre o caso do Brejal, a Tribuna entrou em contato com a Companhia Petropolitana de Trânsito e Transportes (CPTrans) e também com o Sindicato das Empresas de Transporte da cidade (Setranspetro). Pelo telefone, nossos repórteres não conseguiram sucesso no contato com a empresa. Até o fechamento desta reportagem não obtivemos uma resposta.
Já quanto à Expresso Areal Transporte e Turismo, que também não foi localizada por meio do telefone, a Tribuna questionou a Secretaria de Transportes do município. No entanto, até o fechamento desta reportagem não obteve uma resposta.