• Moradora de Petrópolis lança livro que aborda a decisão de não ter filhos e os desafios sociais da não parentalidade

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  • 20/mar 08:35
    Por Redação/Tribuna de Petrópolis I Foto: Yara Araujo

    O Brasil tem vivenciado uma queda expressiva na taxa de fecundidade. De acordo com o Observatório Nacional da Família, a média de filhos caiu de 2,32 por mulher em 2000 para 1,57 em 2023, com previsão de chegar a 1,47 até 2030. E a escolha de não ter filhos, que é cercada por pressões sociais, inspirou a jornalista Amanda Dantas a escrever o livro “Sem filhos, sem culpa! Uma análise sobre a decisão de não ter filhos”.

    Publicado pela Editora Appris, a obra aprofunda esse debate em uma sociedade que ainda valoriza amplamente a maternidade. O lançamento, aberto ao público, acontece no dia 22 de março, das 17h às 20h, no Cozy Restaurante – Cozinha Afetiva, em Itaipava.

    Doutoranda em Psicologia pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) e mestre em Psicologia pela Universidade Católica de Petrópolis (UCP), a carioca e moradora de Petrópolis Amanda Dantas analisa, com base em ampla revisão de literatura e entrevistas, os fatores que influenciam homens e mulheres a optarem pela não parentalidade. Entre os aspectos abordados na obra, se destacam o impacto da independência financeira e da ascensão feminina no mercado de trabalho, o papel da rede de apoio (ou a falta dela) e as pressões sociais enfrentadas por aqueles que optam por não ter filhos.

    “A sociedade construiu a ideia de que crescer, casar e ter filhos é a única forma de alcançar a felicidade e a plenitude. Eu discordo. Não quero ter filhos, tenho muitos amigos que também não querem, e quis entender a fundo os processos decisórios por trás dessa escolha. Meu objetivo com essa obra não é criar um novo imperativo de que não ter filhos é o certo, mas sim abrir espaço para que as pessoas possam decidir livremente qual caminho seguir, sem culpa e sem julgamentos, incluindo os homens nessa conversa”, afirma Amanda, também participante do Fórum do Campo Lacaniano Região Serrana do Rio de Janeiro.

    O livro inicia contextualizando o leitor sobre as mudanças sociais e culturais que vêm influenciando os modelos familiares nas últimas décadas. Em seguida, se aprofunda na análise dos processos decisórios, destacando a interação entre fatores psicológicos e sociais na escolha pela não parentalidade. Para isso, são apresentadas entrevistas com homens e mulheres que tomaram essa decisão, revelando as complexidades e nuances envolvidas nesse caminho.

    “As histórias pessoais vão além de narrativas individuais e se conectam a questões sociais mais amplas, como o impacto do gênero nas expectativas da sociedade. Enquanto os homens enfrentam menos cobranças sobre a paternidade, as mulheres costumam lidar com um julgamento mais severo, sendo frequentemente questionadas sobre sua realização pessoal e futuro”, explica Amanda.

    O marcador social de raça também merece destaque nesse debate. As mulheres com mais probabilidade de adiar a maternidade são solteiras, brancas, moradoras de áreas urbanas, metropolitanas e da Região Sudeste do país, motivadas por aumentar o tempo dedicado aos estudos e em alcançar estabilidade profissional. Já as mulheres negras enfrentam desafios adicionais relacionados ao racismo e à desigualdade social. “Uma das entrevistadas expressou seu temor diante da maternidade, destacando o perigo constante enfrentado por pessoas negras na sociedade. Suas reflexões evidenciam como o racismo estrutural afeta não apenas a experiência cotidiana, mas também as decisões reprodutivas, criando um ambiente de insegurança e preocupação extras”, completa a autora.

    Com uma abordagem acessível e fundamentada, “Sem filhos, sem culpa” é uma leitura essencial para quem deseja refletir sobre liberdade de escolha, autonomia e os novos caminhos das relações familiares. Ele não é apenas uma análise acadêmica; é um convite à reflexão sobre as diversas formas de viver em uma sociedade que valoriza a diversidade e a liberdade de escolha. A obra propõe uma discussão necessária e urgente sobre o direito de decidir, livre de culpas e julgamentos, o rumo de nossas vidas.

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