• Mônica faz 60 anos e Mauricio de Sousa revela planos para inspirar novas gerações

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  • 24/03/2023 08:31
    Por Maria Fernanda Rodrigues / Estadão

    Há 60 anos, uma menina cruzou o caminho do Cebolinha em sua tirinha publicada na Folha da Manhã. “Sai da flente, menina! Deixe um equiliblista passar!”, ele ordenou. No quadro seguinte, o garoto aparece caindo sentado no chão, depois de ter levado uma coelhada na cabeça. Nascia, ali, a Mônica, uma personagem forte e determinada, que inspiraria muitas gerações de crianças e seguiria caindo nas provocações do amigo gibi após gibi, e nos filmes, desenhos, peças, etc.

    No aniversário de 60 anos da primeira aparição da personagem (foi no dia 3 de março de 1963), a Mauricio de Sousa Produções anunciou ontem, 23, uma série de ações que serão desenvolvidas nos próximos 12 meses. As datas ainda não foram divulgadas, mas haverá comemoração na Bienal do Livro do Rio e publicações temáticas até casas da Mônica para as crianças brincarem em shoppings, espaços instagramáveis, uma tira gigante em algum prédio de São Paulo, peça de teatro, talvez a estreia do novo live-action da Turma da Mônica Jovem, e uma exposição na Casa das Rosas com Sansões estilizados por diversos artistas.

    E por falar no coelhinho, uma versão gigante dele será “arremessada” pela Mônica em alguns locais, como o Conjunto Nacional. A ideia é que essas ações sejam levadas para outras cidades.

    Quem conta as novidades é Mônica, a filha de Mauricio de Sousa que inspirou a personagem e, de alguma forma, foi inspirada por ela. No estúdio supercolorido e repleto de personagens, brinquedos e produtos licenciados, que é um local de trabalho e também um museu, e onde dois cachorrinhos, um Bidu real e a Penha, andam por ali, Mônica e Mauricio conversaram com o Estadão sobre a história da turminha, sobre a ABL e sobre o que a Mônica tem a dizer ainda hoje.

    ORIGEM

    Mauricio de Sousa conta que não “criou” a Mônica. “Quando eu vi tinha uma menininha arrastando um coelho quase maior que ela, de palha, que eu comprei numa feira em Mogi das Cruzes. Ela levantava, puxava, ameaçava usar de alguma maneira, principalmente contra a irmãzinha que era muito chata para ela.”

    Sua filha tinha entre 2 e 3 anos, mas seu temperamento já era marcante. “Firme e forte”, na definição do pai. “Então eu não inventei nada. Olhei de lado e copiei o que estava acontecendo na minha sala de trabalho: as criançada brincando nos meus pés, uma comendo melancia, outra com o coelho.” Os personagens foram, assim, surgindo – dessa observação do que ocorria ao seu redor e do amor aos filhos. “Fiz tudo sempre com muito carinho, e vieram os personagens mais famosos e longevos”, completa o desenhista de 87 anos.

    Em casa, foi feito um trabalho para separar as coisas e mostrar que os personagens teriam uma história de vida e as crianças, outra. “Meu pai cuidou de afastar as filhas dos personagens, para eu não me achar tudo aquilo, para eu não brigar na rua”, conta hoje Mônica, aos 62 anos.

    Mas uma hora ela misturou tudo. “Eu devia ter uns 6 anos, achei que eu era forte como a Mônica e fui brigar com uma menina que era três vezes maior. Levei uma bela surra e até desmaiei naquele dia”, conta ela rindo.

    A personagem foi amadurecendo. Cresceu para acompanhar as outras crianças das histórias. E parou, desde então, nos 7 anos. Ao longo dessas seis décadas – o sucesso foi imediato -, ela inspirou meninas e deu seu recado aos meninos.

    “Ela brincava de igual para igual com os meninos, tinha os sonhos dela desde sempre e se gostava. Para mim, o mais importante da obra do meu pai é que as meninas têm autoestima.”

    Mônica, a filha e empresária, reconhece que a personagem a inspirou, assim como a história de sua família, na qual as mulheres sempre foram e fizeram o que quiseram. “Ela briga, e eu brigo até hoje pelo que acredito. Não fisicamente. Ok, talvez em casa, com minhas irmãs. A Mariângela era o meu Cebolinha”, relembra.

    Mas ela diz que, mesmo se reconhecendo um pouco, não acreditava que pudesse existir uma criança daquele jeito até nascer sua filha Maria Carolina. “Ela, sim, era briguenta e batia em outras crianças”, conta, com carinho, e diz que sente muito orgulho de ser a filha que deu origem a essa personagem tão importante.

    Nem sempre, porém, foi legal ser a Mônica. Na adolescência não foi. “Nessa fase você não quer que todo mundo saiba como você é, quer se esconder. E como todos liam a Turma da Mônica já achavam que eu estava pronta ali, que sabiam quem eu era.” Ela conta uma passagem em que um namorado reclamou de alguma coisa e o pai falou: “Você já lia o gibi antes de namorar, então não reclama”. Mauricio dá um sorriso maroto.

    IMORTAL

    O cartunista acaba de se candidatar a uma vaga na Academia Brasileira de Letras. “Eu quero estar com gente, com gente culta. Quero sentar ao lado de pessoas interessantes e ouvi-las para aprender sempre mais”, justifica. A curiosidade é o que o move, ele diz. Tem uma viagem marcada para o Japão, onde vai lançar mangás. Tem um convite para ir a Moçambique fazer revistinhas especiais. Incansável? “Não, mas uma boa noite de sono resolve”, responde, rindo, e ri mais alto ainda quando a palavra aposentadoria é mencionada.

    Mauricio de Sousa costuma ser cobrado por um personagem gay. “Estou encostado na parede aguardando o momento em que a sociedade no geral não vai estranhar, se afastar ou se sentir mal lendo uma coisa que sempre leu.”

    Do que as crianças de hoje precisam? “Primeiro de tudo, leitura. E também arte. A curiosidade da criança é linda e maravilhosa. Precisamos cercá-las de livros, gibis, filmes e tudo que trouxer novidades visuais e filosóficas e mensagens fortes para marcar a cabecinha delas e ajudá-las a serem felizes”, ele responde.

    E o que gostariam que elas aprendessem com a Mônica? “Que meninos e meninas podem estar juntos, com muito carinho, respeito e cuidado, brincando de igual para igual”, comenta Mônica. “E se gostando”, finaliza Mauricio.

    As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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