• Momentos históricos vividos na cidade

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  • 16/mar 12:00
    Por Aghata Paredes

    No ano de 1842, um capítulo importante começou a ser escrito na história de Petrópolis com a chegada de 1.500 famílias de colonos alemães. Na implantação e desenvolvimento da cidade imperial, eles eram exemplos de determinação e sempre respeitaram as condições naturais da região. Com destreza, aliaram cuidado e perfeição nas tarefas que executaram no passado, inúmeras e quase sempre minuciosas. Caminhando pelas ruas de Petrópolis, até hoje, é possível identificar esses trabalhos, nos rendilhados em madeira nas varandas e no modelo do calçamento em paralelepípedos das ruas.

    O responsável por sua vinda, segundo registros históricos, foi quem planejou a cidade de Petrópolis. Koeler, em fevereiro e março de 1838, contratou imigrantes germânicos vindos do navio Justine para trabalhar na manutenção e conservação da Estrada da Estrela (Calçada de Pedras). Ao final da obra, algumas famílias se fixaram na região do Itamarati. Além de Koeler e sua família, mudaram-se para cá também seus auxiliares. A maioria de origem germânica. Alguns deles foram Theodoro Marx, o arquiteto que projetou a Casa dos Semanários, hoje Palácio Grão-Pará, João Meyer, Cristóvão Schaeffer, Teodoro Grote e muitos outros. No Virginie, outro navio aportado no Rio de Janeiro, em 13 de junho de 1845, chegaram 161 pessoas a Petrópolis. Na mesma época existiam na região diversos reinos como o da Prússia, da Baviera, de Würtenberg e outros. A maioria dos colonos era da região de Hunsrück, na Renânia-Palatinato, onde existia uma integração de culturas. 

    Naquela época, Koeler promoveu o assentamento dos colonos em terras agrupadas em Quarteirões e os nomeou de acordo com a sua origem: Bingen, Castelânea (Kastellaun), Ingelheim, Mosela (Mosel), Nassau, Palatinato Superior, Palatinato Inferior, Renânia Central, Renânia Inferior, Siméria (Simmern) e Westfália. Além disso, planejou também duas vilas (Imperial e Theresa).

    Em 16 de março de 1843, o Imperador Dom Pedro II assinou um decreto que marcaria o início da urbanização da cidade. O Major Koeler foi encarregado de fundar o Palácio de Petrópolis, a Vila Imperial, uma igreja em homenagem a São Pedro de Alcântara, além de um cemitério.

    O projeto inicial de Koeler mudou quando ele desistiu dos direitos sobre a Fazenda do Córrego Seco, oferecendo as terras da Quitandinha aos colonizadores. D. Pedro II adquiriu as fazendas do Velasco e Itamarati, cedendo-as gratuitamente aos colonos e povoadores.

    Mais tarde, a cidade viu o surgimento de sua primeira cervejaria em 1853, iniciando um legado cervejeiro que se estende até os dias atuais. A Cervejaria Bohemia, fundada por Henrique Kremer, colono alemão, tornou-se emblemática na produção cervejeira nacional.

    Foto: Museu Imperial/Ibram/MTur

    Em 1858, segundo registros históricos, a cidade possuía 6 fábricas de cerveja. A cervejaria Bohemia, que já havia sido chamada de Imperial Fábrica de Cerveja Nacional de Henrique Leiden & Cia e, depois, de Imperial Fábrica de Cerveja Nacional de Henrique Kremer, mais tarde, em 1898, ganhou o nome de Cervejaria Bohemia. 

    Petrópolis experimentou um breve período como capital do estado em 1894, mas a facilidade de acesso a Niterói levou à transferência das sessões do governo para lá. No entanto, a cidade continuou a prosperar, tornando-se referência cultural e educacional com a criação da Editora Vozes, associada à chegada dos franciscanos. Além disso, o recenseamento de 1920 mostrou que o coeficiente de analfabetismo da antiga capital da república era de 28%, o que colocou Petrópolis, na época, como a cidade mais culta do Brasil.

    Foto: Acervo/Editora Vozes

    A história da cidade também está intrinsecamente ligada ao desenvolvimento do transporte. A Estrada Rio-Petrópolis, inaugurada em 1926, e a primeira rodovia asfaltada do Brasil, a Washington Luiz, que liga Petrópolis ao Rio de Janeiro, marcaram avanços significativos.

    Em 1932, a cidade foi pioneira ao sediar as competições de automóveis, iniciando uma tradição esportiva que se fortaleceu com o passar dos anos. Na ocasião, o Automóvel Club do Brasil, com o apoio da Prefeitura Municipal, realizou a prova “Subida da Montanha”, disputada na Estrada Rio-Petrópolis, no trecho entre Meriti e Quitandinha. Essa primeira competição teve como vencedor o piloto alemão Hans von Stuck. Em 1936, foi realizada a primeira corrida em ruas do centro da cidade, tendo como vencedor Manoel de Teffé. Mais tarde, a prova foi vencida por Julio de Morais (1933). Em 1937 e 1943, por Manoel de Teffé, e em 1944, 1945 e 1946,  por Chico Landi, Catarino Andreatta e Gino Bianco, respectivamente.

    Na esfera cultural, a cidade foi cenário para a criação de jornais, cinemas e escolas de música.

    Inaugurado em 1897, oito anos após a Proclamação da República no país, o Teatro Cassino foi o primeiro cinema da cidade, na Avenida Quinze de Novembro, atual Rua do Imperador. Depois dele, veio o Cinema Petrópolis (1914), onde funciona o Edifício Profissional atualmente; o Teatro Capitólio (1918), na Rua do Imperador; o Cine Santa Cecília (1929); o Cine Glória (década de 40), na Rua Barão de Tefé; Cine Esperanto (década de 60); o Cinemiragem, na Rua Silva Jardim; o Minicinema, na galeria do Edifício Pellegrini; e o Cine Dom Pedro (Theatro Dom Pedro). A cidade chegou a ter onze salas de cinema, incluindo projetos de sétima arte que levavam os petropolitanos às praças públicas. Como Capital Estadual do Canto Coral, Petrópolis passou a abrigar grupos de destaque, como os Canarinhos de Petrópolis, Meninas dos Canarinhos de Petrópolis, Coral da Universidade Católica de Petrópolis, Coral de Petrópolis, Jovens Princesas de Petrópolis, entre outros.

    Já a Escola de Música Santa Cecília, de Paulo Carneiro, surgiu na cidade para oferecer aulas gratuitas para crianças carentes, e logo conquistou seu lugar como uma tradição musical no município. Conforme aponta Joaquim Eloy, em artigo disponível no Instituto Histórico de Petrópolis (IHP), o espaço passou a ser presença obrigatória em toda a vida cultural e festiva de Petrópolis, não só pelo ensino como pela orquestra, participante efetiva de todas as festividades públicas e particulares.

    Foto: Divulgação

    A cidade acompanhou avanços marcantes, como a primeira transmissão de rádio em 1922, com o discurso do então presidente da República, Epitácio Pessoa; a inauguração da primeira rodovia asfaltada (1928), e a criação do Museu Imperial em 1943. Além disso, em 1953, surgiram as Faculdades Católicas Petropolitanas, com fins humanísticos, contribuindo para o âmbito educacional na cidade.

    Petrópolis também acompanhou o surgimento do hotel, planejado com 400 apartamentos e a capacidade de hospedar 600 pessoas, que representaria uma das mais significativas fontes de emprego para a cidade. Em 1944, esse antigo hotel-cassino no Quitandinha foi oficialmente inaugurado, tornando-se um dos maiores monumentos arquitetônicos da cidade e sendo considerado o maior do gênero em toda a América Latina.

    Os primeiros jornais sobre esporte no Brasil também surgiram em Petrópolis. Em 1926, o Jornal Sportivo e o Vida Esportiva mantiveram os veranistas e os habitantes locais atualizados com as últimas notícias esportivas. Na primeira década, o Derby Petropolitano, que ficava em Corrêas, era um símbolo de prestígio, porém, gradualmente, cedeu lugar à popularidade carioca com o surgimento de clubes como Cascatinha e Internacional. Posteriormente, alguns times como Rio Branco, Carangola, Serrano e Tupinambás também se estabeleceram na cidade. No entanto, o apogeu do esporte em Petrópolis, especialmente em termos de estruturação em várias localidades, ocorreu na década de 50.

    Foto: Museu Imperial/Ibram/MTur

    Os anos seguintes testemunharam a evolução contínua de Petrópolis. A cidade ganhou reconhecimento como Cidade Imperial em 1981 e passou por projetos de revitalização do Centro Histórico em 1999. Nos anos 2000, técnicos do Museu Imperial descobriram, nos telhados do Museu Imperial, uma ripa de madeira onde estavam escritos os nomes dos operários Peter Schmitz e Jacob Simon Bechtlufft, que ali deixaram suas assinaturas em 1847. Eles faziam parte do primeiro grupo de imigrantes alemães que chegou à cidade.

    *Fontes: Instituto Histórico de Petrópolis, Arquivo Tribuna de Petrópolis e Acervo Museu Imperial.

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