• Ministério Público considera gravíssima a situação de abandono na Vila Felipe

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  • Visita técnica foi realizada nesta quarta-feira na localidade

    06/07/2022 20:28
    Por João Vitor Brum

    A comunidade Vila Felipe, uma das mais afetadas pelas chuvas do início do ano, recebeu uma visita técnica do Ministério Público e de especialistas, nesta quarta-feira (06). Guiados pelos moradores as equipes identificaram os pontos mais sensíveis e que mais precisam de intervenções. De acordo com os próprios moradores, pelo menos 42 pessoas morreram na Vila Felipe na tragédia. A procuradora de Justiça do MPRJ, Denise Tarin, considerou a situação do bairro “gravíssima” ao fim da visita.

    Pelo menos 50 moradores acompanharam a visita do MP. O encontro na comunidade faz parte de uma série de, pelo menos, oito visitas que devem ser realizadas pelo MPRJ em bairros afetados pelas chuvas, para que ações mais efetivas possam ser cobradas do poder público. Além da Vila Felipe, a procuradoria já esteve na Rua 24 de Maio, no Caxambu e na Rua do Túnel. Após conhecer grande parte dos pontos atingidos, a procuradora Denise Tarin destacou que o local precisa receber intervenções urgentes.

    (Foto: João Vitor Brum)

    “Sem sombra de dúvidas, fiquei muito apreensiva (na Vila Felipe) com a quantidade de casas que estão destruídas e causando ameaças para as casas abaixo. Isso é pra ontem. Essas demolições administrativas são algo emergencial. Os moradores ainda estão em risco e essa é a preocupação. Sei que temos muitas comunidades afetadas, sabemos que tem muita gente trabalhando, mas a preocupação do Programa Segurança Humana do MPRJ é justamente essa prevenção para essas próximas chuvas do verão, que já estão aí”, disse a procuradora do MP. 

    Em praticamente toda a extensão da Rua Jacinto Rabello, uma das principais do bairro, pontos com casas destruídas foram apontados pelos moradores. Apenas na Servidão João Bonifácio Pacheco, pelo menos 20 casas foram destruídas e os destroços continuam no local. 

    Nesta quarta-feira, pouco antes do MP chegar, caminhões da Comdep começaram a realizar a retirada dos entulhos, de acordo com relatos dos moradores que acompanharam a visita. Um terreno próximo às servidões atingidas pelas chuvas é utilizado como bota-fora, mas o fluxo de veículos pesados no local é motivo de preocupação.

    (Foto: João Vitor Brum)

    “Esse alto fluxo de caminhões que vimos hoje (não sei se nos dias anteriores foi o mesmo número de caminhões – segundo relato de moradores, não é habitual), mas hoje o número de caminhões me preocupou porque nós estávamos caminhando em uma rua interditada”, pontuou a procuradora Denise Tarin.

    Além disso, os corrimões das servidões e postes receberam pintura da Comdep também minutos antes da chegada dos técnicos e da procuradora do MP – em alguns locais, tampas das latas de tinta foram deixadas para trás, na calçada. Durante a visita, um morador esbarrou em um dos corrimões e chegou a sujar a roupa com a tinta fresca, que tinha acabado de ser passada, mas não tinha nenhum tipo de aviso. 

    (Foto: João Vitor Brum)

    Moradores dizem que ações só começaram depois de muito apelo da comunidade

    Para quem foi atingido pelas chuvas e visita constantemente a comunidade, as ações só foram iniciadas após cobrança dos moradores e a intervenção do Ministério Público, já que o município sabia da visita realizada nesta quarta.

    “Fizemos vídeos, chamamos as pessoas. Nisso, começaram a vir aqui, procurar saber, mas não resolveram nada. Então resolvemos procurar o Ministério Público para pedir ajuda e tentar ter alguma esperança nesse momento, porque continuamos vulneráveis. É uma hipocrisia vir aqui hoje de manhã agir como se estivessem fazendo algo, tirar foto e colocar em rede social, porque nada está acontecendo aqui desde fevereiro”, desabafou Elizângela Lopes, que teve sua casa interditada no dia 15 de fevereiro e, agora, mora pelo Aluguel Social.

    (Foto: João Vitor Brum)

    Elizângela é autônoma e trabalhava no andar superior de sua casa, então além de ficar sem residência, ficou sem emprego. No dia da chuva, ela estava em casa com o filho de dois anos, mas os dois não se feriram. Porém, familiares e vizinhos morreram na enxurrada. Para ela, o urgente nesse momento é iniciar as obras.

    “O que precisamos urgentemente é do início das obras. Não tem uma placa de obra, um orçamento, ninguém fala nada pra gente. Será que vão esperar chegar mais uma tragédia para resolver?”, indagou a moradora.

    (Foto: João Vitor Brum)

    Vila Felipe deve ter plano emergencial de redução de risco

    No fim da visita, a procuradora do Ministério Público destacou que a Vila Felipe precisa de um plano próprio para reduzir os riscos de desastres da comunidade, que deve contar, além de ações do poder público e orientações técnicas, com a participação da população.

    “Nós precisamos de um plano emergencial de redução de risco de desastres para a Vila Felipe, especialmente pra cá. A comunidade precisa ser sensibilizada, temos que ter campanhas. Os moradores têm que compreender que o lixo é uma ameaça, e, dentro desse sentido, essa mobilização não é só a preocupação pelos deslizamentos, é também a questão da autoproteção, do que os moradores podem fazer para minimizar as ameaças. É uma questão do poder público primeiramente, mas também uma parceria com os moradores”, concluiu a promotora.

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