• ‘Minha dor não é mimimi’, diz pai de vítima da covid à CPI da Covid

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  • 18/10/2021 14:59
    Por Davi Medeiros / Estadão

    O filho de Marco Antônio do Nascimento Silva, Hugo, faleceu de covid em 2020. Emocionado, o depoente disse ter sido doloroso ouvir o presidente Jair Bolsonaro perguntar “e daí” sobre as vítimas da doença. Quando o País ultrapassou a China na quantidade de mortos pelo coronavírus, no ano passado, o chefe do Executivo disse: “E daí? Sou Messias, mas não faço milagres”.

    Marco relatou ter sofrido com a hostilidade reservada pelo presidente às vítimas da covid. “Eu escutei no fundo do meu coração: ‘E daí que seu filho morreu?”, disse. “Acho que nós merecíamos um pedido de desculpas da maior autoridade do País”, completou.

    O depoente disse ter ouvido a frase de Bolsonaro apenas três dias após a morte de seu filho. Ele também esteve presente na praia de Copacabana em 11 de junho de 2020, dia em que apoiadores do presidente invadiram e hostilizaram um protesto que colocava cruzes na areia em memória das vítimas da doença. “Era muita dor, muita tristeza. Quando vi aquela cena (de um homem derrubando as cruzes), pensei: ‘será que esse cara não vê que está pisando na cova do meu filho?”

    “Não admito que outros pais achem isso normal, não é normal”, disse Marco. “Minha dor não é ‘mimimi'”.

    Com a voz embargada, Márcio narrou os últimos dias de vida de seu filho, quando ele começou a sentir cansaço e falta de ar. Ele disse ter acompanhado Hugo no hospital até o falecimento, e lembrou com pesar do dia em que teve de reconhecer o corpo do filho. “A última vez que o vi, ele estava dentro de um saco”.

    O depoente criticou a postura do presidente e a demora para a aquisição de vacinas. Segundo ele, o que dói não é apenas o luto, mas o que veio após a morte de Hugo: “o deboche, a irracionalidade das pessoas, inclusive de amigos”. “Eu daria a minha vida para o meu filho ter chances de ser vacinado”, disse.

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