• Médicos sem Fronteiras recrutam profissionais

  • 22/03/2019 14:50

    Moçambique, Iêmen, Iraque, Líbia, Angola, países que na maioria das vezes só entram nos noticiários quando passam por grandes tragédias, sejam em cenários de guerra, desastres naturais ou epidemias. Recebem muitas vezes ajuda humanitária de vários países, mas quando o grande evento passa ou a situação é estabilizada, novamente saem dos noticiários. Para alguns profissionais, porém, não há descanso: o trabalho de ajuda humanitária continua. Como é o caso dos projetos que são desenvolvidos pela organização internacional Médicos Sem Fronteiras.

    O médico pediatra Pedro Azzolini é um destes profissionais que atuam nas localidades onde há necessidades emergenciais de ajuda humanitária. A vontade de trabalhar na organização surgiu bem antes de ingressar na faculdade de medicina. Paulistano, ingressou no Médico sem Fronteiras em 2015. O primeiro projeto de que fez parte foi em Guiné Bissau, na África. Com o serviço de saúde extremamente fragilizado pela epidemia de Ebola que afetou o país entre os anos de 2014 e 2016, foi lá que Pedro teve o primeiro contato com pacientes infectados com Malária. 

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    Em 2016, o pediatra trabalhou em Angola, país que sofria com surto de febre amarela. E em 2017, no Iraque. Embora os projetos que estão sendo desenvolvidos nesses locais não sejam especificamente em zonas de conflito armado direto, são locais em que o MSF atua diretamente com refugiados. 

    Parecido com o que tem acontecido no Brasil. Em novembro do ano passado, uma equipe de 20 profissionais do MSF iniciou um projeto em Roraima, na cidade de Boa Vista. O trabalho é em atendimento à população de migrantes venezuelanos que têm atravessado a fronteira para se instalar no Brasil. Assim como Pedro atuou em outros países, isso também se replica no Brasil. Embora muitas pessoas ainda associem a ideia dos projetos do MSF apenas ao atendimento nas zonas de conflito, na prática a atuação vai muito além disso. 

    O pediatra explica que os médicos atuam nos mais diversos tipos de situações e crises. Hoje, o quadro mais agravado encontrado em alguns países atendidos pela organização é o da desnutrição. Quando chegou para trabalhar no primeiro projeto em Guiné, Pedro descobriu que o país tinha apenas um médico pediatra, na capital. A carência extrema de profissionais e recursos na área da saúde reforça vulnerabilidade social destes países. 

    “Na África, de um modo geral, o cenário mais grave é o da desnutrição. Cerca de 80% dos casos que atendemos são de pacientes com Malária. Crianças com desidratação, meningite ou pneumonia”, contou. São países que têm também altos índices de mortalidade infantil. 

    Além do atendimento imediato, esses profissionais deixam um legado. Por onde passam, oferecem treinamento para os médicos e profissionais locais. “Uma das partes mais importantes no trabalho do MSF é essa troca de informações que fazemos. Oferecemos os treinamentos, mas aprendemos muito com que passamos”.

    Para Pedro, o compromisso com a ajuda humanitária traz mais do que um crescimento profissional, mas é uma realização pessoal. “Nos projetos trabalhamos com casos que dificilmente teríamos contato aqui no Brasil. Lidamos com doenças que sequer têm casos aqui”. E lembrou da vez que tratou um menino com tétano, doença que dificilmente é encontrada no Brasil. “A taxa de mortalidade é de 50% dos casos. E no caso deste menino, ele já apresentava paralisia nos membros. Nós conseguimos tratá-lo, ele teve alta e foi pra casa. Um tempo depois, ele voltou no hospital para nos visitar, correndo”, contou. 

    A organização, criada em 1971, na França, reúne hoje mais de 45 mil profissionais de diversas áreas e nacionalidades atuando em 72 países nas situações mais extremas. Levando cuidados de saúde a pessoas afetas por conflitos armados, desastres naturais, epidemias, desnutrição ou sem nenhum acesso à assistência médica. 

    Médicos sem fronteiras tem inscrições abertas

    O Médico Sem Fronteiras vai além do trabalho, da escolha profissional. Ser dedicado e acreditar no potencial para mudança na vida de outras pessoas é fundamental para ser aceito e poder se juntar à organização. O recrutador do MSF, Vicente Brison, explica que há um rigoroso processo seletivo não só pelas qualificações profissionais, mas também pelo perfil dos candidatos. No ano passado, o escritório no Brasil recebeu 1.200 inscrições, e apenas 35 foram aceitas. 

    Em Petrópolis, a Faculdade de Medicina de Petrópolis/ Faculdade Arthur de Sá Earp Neto (FMP/Fase) incentiva o trabalho humanitário nos atendimentos. Além do trabalho que é feito na faculdade e nas unidades de saúde onde os alunos atuam, todo semestre é feita, entre outras atividades, uma palestra para apresentar o MSF. “O Médicos sem Fronteira é um trabalho desafiador, os profissionais atuam em locais de risco. Precisam ter, entre tantas coisas, o preparo psicológico. Na faculdade incentivamos o compromisso humanitário, e por isso incentivamos a participação dos alunos”, disse o coordenador do curso de medicina Paulo Sá.

    Todos os critérios de seleção, assim como detalhes sobre a inscrição, podem ser consultados no endereço no site do MSF. A organização é mantida por meio de doações. Hoje, cerca de 96% de todos os recursos provêm de doações individuais e da iniciativa privada.

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