• Mauricio de Sousa lança coleção em braile de gibis da menina cega Dorinha

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  • 13/03/2022 08:00
    Por Eliana Silva de Souza / Estadão

    Criador da Turma da Mônica, Mauricio de Sousa, de 86 anos, tem uma lista imensa de personagens, que encantam gerações de brasileiros. E cada revistinha das crianças do Bairro do Limoeiro traz historinhas para divertir crianças e adultos também. Em mais de 60 anos de carreira, Mauricio ultrapassou a marca de 400 personagens com sua assinatura. Entre esses, que figuram ao lado de Mônica, Magali, Cebolinha e Cascão, em 2004, surge Dorinha, uma garotinha com deficiência visual inspirada na educadora Dorina Nowill. Pois essa menina toda fashion, que usa uma bengalinha para se orientar e tem sempre ao seu lado o cão-guia Radar, une ainda mais os laços do cartunista com a Fundação Dorina Nowill sendo a estrela de uma coleção dedicada às crianças com dificuldade de visão.

    “Desde que comecei a criar personagens com alguma deficiência, fui me interessando em conhecer melhor essas histórias para não passar uma imagem errada tanto para a criança que vive essa realidade quanto para as que têm um desconhecimento sobre o assunto”, conta Mauricio em entrevista ao Estadão. No caso específico da Dorinha, conta o seu criador, ao ter a ideia da personagem cega, procurou conhecer Dorina Nowill, que tem uma “linda história de luta pelos deficientes visuais”. Na fundação que leva seu nome, como explica Mauricio, estão os melhores especialistas para nos orientar com precisão. “Assim, resolvi inclusive dar o nome de nossa personagem lembrando Dorina. Ficou Dorinha, que é mais fácil para a criança guardar. Dorinha, embora criança, veio com a sabedoria que ouvi de Dorina.”

    Nesse mundo dos quadrinhos, Mauricio de Sousa é referência, por isso mesmo, tudo o que faz e cria tem amplo alcance. Colocar nos gibis personagens que espelham as diferenças é algo que tem valor social e pode contribuir de alguma forma para melhorar as relações humanas. “Cada personagem que criei como a Dorinha (cega), o Luca (cadeirante), o André (autista), a Tati (síndrome de Down), o Humberto (mudo) e até um com distrofia muscular, que é o Edu, foram formatados através de muita pesquisa com acompanhamento de especialistas e vivência”, diz o artista. Segundo ele, “a criança começa a entender como esses personagens vivem e é incrível como elas começam a passar essas informações aos pais. Entender as diferenças é base para uma convivência e inclusão”.

    EMPATIA. Este novo projeto, Dorinha pelo Brasil – Inclusão Sem Barreiras, que vai ser lançado no dia 25, apesar de ser direcionado para as crianças cegas, será também um momento de proporcionar uma conexão das que enxergam com esse mundo desconhecido. “Imagine uma criança que não pode ver. Uma criança que gosta de brincar, de fazer amizades, de poder estudar e se divertir. Se outras crianças não entenderem como ajudá-la a fazer tudo isso, não vai haver interação”, reflete Mauricio. Para o autor, a empatia que esses livros podem gerar é fantástica. “Crianças que veem podem ‘brincar’ com cegas e entender a comunicação de maneira mais sensível. Podem fechar os olhos e tocar, por curiosidade, numa experiência que é um ensinamento de que podemos muito apesar das dificuldades.”

    “Dorinha é uma personagem forte, curiosa, elegante e bem antenada no que está acontecendo, ou seja, a deficiência não a limita. Essas características a aproximam do público e gera identificação com os pequenos”, acrescenta Alexandre Munck, superintendente executivo da Fundação Dorina Nowill para Cegos, sobre a personagem.

    Essa não é a primeira parceria entre Mauricio de Sousa e a Fundação Dorina Nowill. Em 2019, como explica o desenhista, foi editado um livro para a instituição. Como ele mesmo conta, “a obra se chama Como Dorinha Vê o Mundo e já foi nesse processo que, além da leitura em braile, apresentei ilustrações com pontos em relevo para se sentir o desenho”. Para alegria do criativo autor, seu empenho deu certo, “funcionou muito bem e as crianças cegas ou com um alto grau de deficiência visual tiveram mais um estímulo para a leitura”, comemora. “Então tivemos essa nova ideia de produzir uma coleção e ampliar o alcance da novidade. Não vai parar por aí”, avisa o mestre.

    Tudo que surge agora certamente é reflexo da luta da educadora Dorina Nowill (1919-2010), incansável na busca por melhorar as condições de vida das pessoas com deficiência visual. Quando Mauricio de Sousa criou a Dorinha, claro que precisava saber o que a pessoa que o inspirou acharia da personagem. “Ela adorou, claro!”, revela. “Descrevi para ela a imagem, mas principalmente o jeitinho dela com a bengalinha e de como seria amável com a turminha da Mônica. Ela pediu para que não usasse o termo ‘deficiente visual’, mas a palavra ‘cega’ mesmo que é como uma criança entende a situação”, conta Mauricio.

    A COLEÇÃO. Alexandre Munck explica como o produto chegará às crianças, já afirmando que a coleção é totalmente acessível. “Isso significa que o livro será impresso em tinta-braile, ou seja, no alfabeto tradicional e no braile. Do mesmo modo, algumas imagens poderão ser vistas e sentidas.” Mas ele complementa informando que o projeto, no entanto, não se limita apenas ao braile. “As histórias também estão disponíveis na versão falada, com audiodescrição das imagens e em audiobook.”

    Com a perspectiva de chegar a diversos pontos do País, Munck destaca, porém, que os livros não estão à venda para o público em geral, o que não chega a ser uma má notícia, pelo contrário. De acordo com suas informações, a coleção “será distribuída gratuitamente para bibliotecas, escolas públicas e organizações sociais de todo o Brasil”, com distribuição feita pela própria Fundação.

    “A coleção proporciona uma troca de experiências única para o desenvolvimento das crianças”, acredita Munck, que afirma ser um produto que vai permitir “que as crianças que veem descubram particularidades da vida da criança cega – como o braile, por exemplo, até hoje único meio de alfabetizar uma criança com deficiência visual – ao mesmo tempo, proporciona à criança cega ou com baixa visão a oportunidade de se sentir acolhida, incluída e parte de alguma coisa”. Será um instrumento para mostrar aos pequenos que as diferenças fazem parte da sociedade e que o respeito é fundamental.

    As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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