Mas, o que foi isso, Helinho?
Hábito antigo, ontem, desci até o portão de minha residência e recolhi na caixa de correspondência os dois jornais da terra, que assino, e aos quais sou dedicado leitor e colaborador desde que me entendo por gente.
A surpresa foi imensa e muito triste: vi, aqui na Tribuna, a notícia do falecimento e sepultamento do meu querido amigo Hélio Santos Júnior, o Helinho.
– Mas, o que foi isso, Helinho? – foi a minha indagação ao tempo chuvoso e úmido divisado diante da janela da sala. O tempo respondeu, pelo ostentar de uma tristeza cinzenta de manhã sem sol em tímida luz adornada de nuvens carregadas.
Senti, no coração entristecido, a presença viva do Helinho, desabrochando de sua bondade infinita e seu amor pela vida, uma gargalhada forte e sonora, do seu feitio. Senti o ósculo de presença sempre com ele, na saudação a quantos amava e homenageava. Consegui recordar nossos momentos de patinação no rinque Marowil, suas atuações soberbas nas partidas de hóquei sobre patins, a sua cabeça-quente de vencedor vibrante na magia do desfilar talento de esportista nos limites de uma quadra aquecida de entusiasmo.
Telefonava para mim sempre que assumia uma responsabilidade, pedindo apoio, jamais negado. Assim, nos campeonatos e torneios que patrocinava e organizava, quando reunia seus amigos e dedicados hoqueístas do presente e do passado, ele como centro da atividade nos últimos tempos de sua vida. Montava competições, solenidades nos centros das quadras, falava com entusiasmo contagiante e pedia – sempre e sempre – ao Poder Público – a retomada do rinque Marowil, na Praça da Liberdade, para a patinação e o hóquei-sobre-patins.
Helinho cultivava um projeto interessante, que o tornaria um escritor, o estudo e levantamento da rua Nilo Peçanha, seu epicentro de uma infância feliz e cheia das peraltices próprias de vivas inteligências. Como a sua privilegiada criatividade e sedutora garra para o viver rodopiando, sob patins, pelas aleias da vida que sabia viver com ardor. Tive o privilégio de colaborar com ele no levantamento de conteúdos históricos do belo recanto de nosso Centro Histórico.
Filho de Hélio Santos, também desportista e hoqueísta, porém de pouca patinação mas de uma visão extraordinária de gol, que tornava aquele pequenino ser humano no terror dos goleiros e das defesas. Helinho (no diminuto carinhoso, porque filho do Hélio) herdou do pai a paixão pelo esporte e foi dos maiores praticantes da eletrizante modalidade esportiva. Apenas com uma diferença: Helinho era exímio e equilibrado patinador.
E volto à pergunta inicial: – Mas o que foi isso, Helinho?
E ele responde, do Infinito, que seu coração precioso resolveu buscar novos amores nas sendas do Paraíso, onde já desfruta de um rinque portentoso e patina, e gira, e corre, e remete aquela bolinha bem ao fundo das traves, chegando, finalmente, a maior das vitórias reservadas somente a quem só praticou o bem e lutou pelas boas causas.
Sentiremos muito a sua falta, querido irmão de ideais Hélio Santos Júnior!