• Mas afinal, quem são e o que fazem os influenciadores digitais?

  • Continua após o anúncio
  • Continua após o anúncio
  • 10/09/2017 07:00

    O que significa ser bem-sucedido profissionalmente? Assumir o controle de sua carreira, adquirir status social e enriquecer já chegaram a ser consideradas as principais motivações dentro do mercado de trabalho. Entretanto, com o passar dos anos, o cenário profissional sofreu algumas alterações. De acordo com o Business Talented Group, além de buscar a flexibilidade no emprego, as pessoas agora almejam, principalmente, o reconhecimento por seu trabalho e a sensação de realização pessoal. Pensando nisso, surgiram grupos determinados a investir em suas paixões e a torná-las lucrativas sem a necessidade de sair de casa: os influenciadores digitais.

    Entende-se como influenciador digital aquele que, a partir do conteúdo que produz nas plataformas digitais, exerce algum tipo de impacto no público com que se relaciona. Seja por meio de vídeos publicados no YouTube ou através de postagens no Instagram, por exemplo, essas personalidades lidam com assuntos de seu interesse, expressando suas opiniões e conceitos. Considerados formadores de opinião, eles são alvo de diversas empresas que buscam alavancar o sucesso de suas marcas através de sua popularidade.

    Um exemplo disso é o petropolitano de 20 anos Pedro Gelli, proprietário do canal Gelli Clash, que conta com mais de três milhões de inscritos no YouTube. Lá, ele ensina estratégias voltadas para os jogos Clash of Clans e Clash Royale. Por ser popular entre os fãs do segmento, os próprios desenvolvedores dos jogos buscaram firmar uma parceria com ele. Assim, Pedro tem acesso privilegiado a determinadas novidades antes que sejam disponibilizadas ao público em troca de divulgação da empresa. O youtuber conta um pouco sobre sua trajetória na plataforma e sobre suas motivações no começo.

    “O que me motivou a criar um canal no YouTube foi ver outras pessoas fazendo vídeos. Gostei muito da ideia e achei que tivesse conhecimento suficiente acerca do tema porque já jogava Clash of Clans há dois anos. Comecei fazendo os vídeos sem nenhuma pretensão de que fosse se tornar um negócio lucrativo. Aos poucos as pessoas passaram a aderir ao canal por causa dos meus desenhos relacionados aos personagens, era algo diferente e que ninguém havia feito antes. Além disso, há um ano e oito meses, quando eu tinha cerca de 180 mil inscritos, os desenvolvedores entraram em contato comigo porque queriam expandir o jogo para o Brasil. Eles estão em busca da expansão global e viram no país uma oportunidade”.

    A publicidade feita indiretamente por meio das personalidades da Internet acaba sendo mais rentável do que comerciais veiculados na televisão devido a dois motivos: o público a que os produtos e serviços se destinam se encontra mais segmentado dentro dessas plataformas e as recomendações feitas pelos indivíduos são consideradas mais confiáveis do que as feitas por marcas. De acordo com uma pesquisa desenvolvida pela Rakuten Marketing International, 30% dos pais admitem estar dispostos a gastar mais em roupas para seus filhos caso elas tenham sido recomendadas por algum tipo de influenciador digital. Além disso, um estudo desenvolvido pela Sprout Social revelou que 74% dos consumidores orientam suas decisões de compra a partir de suas redes sociais.

    A psicóloga Fernanda Rigoni explica os fatores que contribuem para o desenvolvimento do vínculo de confiança e admiração que se forma entre o internauta e o influenciador. “O que vemos hoje através dos influenciadores digitais é uma nova tendência em que a aceleração da difusão de informações somada ao acompanhamento quase que imediato dos acontecimentos contribui para uma sensação de proximidade e intimidade como se conhecêssemos essas personalidades de nosso convívio social não-virtual. Desta forma, alimenta-se o que normalmente buscamos em nosso dia a dia: o reconhecimento de nossos valores em outros seres humanos, permitindo contemplar, entender e reforçar a nossa própria imagem”.

    Fernanda ressalta o fato de que devemos levar a subjetividade dos influenciadores em consideração e não nos deixarmos levar completamente por suas opiniões. Afinal, a exposição dos usuários a determinados conteúdos pode contribuir para a formação de um sentimento de solidão ou até mesmo de tristeza por perceberem que a realidade em que vivem não corresponde ao que é visto no mundo virtual. A partir de um estudo realizado pela Universidade de Pittsburgh, foi comprovado que internautas que visitavam plataformas digitais mais de 58 vezes por semana tinham quase três vezes mais chances de se sentirem solitários do que aqueles que as visitavam menos de nove vezes por semana.

    “A criação de padrões provenientes ou não de mídias aumenta a sensação de segurança, de conforto, preserva o sentimento de estarmos em grupo. Contudo, devemos considerar a subjetividade de cada um, pois padrões podem interferir na subjetividade do sujeito. Não podemos desconsiderar a responsabilidade do usuário enquanto autor de sua vida, responsável por escolher seus caminhos, ouvir seus desejos e não somente pensar em alcançar uma suposta felicidade plena”, diz Fernanda.

    Por serem capazes de influenciar os públicos a que se destinam, as personalidades da Internet também ajudam a moldar opiniões públicas. De acordo com Fernanda, ao mesmo tempo em que esse espaço pode ser usado a favor de pontos negativos como o desrespeito à diversidade e à falta de consciência reflexiva sobre o que se vende, os influenciadores podem influenciar seus públicos na construção de uma sociedade melhor. “Esse espaço pode ser utilizado para o desenvolvimento de valores reais, que permitam a convivência pacífica das diferenças e que possibilitem um espaço virtual sem uma perfeição ilusória, com diversas opções para todos os desejos e jeitos”, sinaliza a psicóloga.

    Pedro diz que busca preservar sua vida particular e destaca a importância de se levar em consideração os posicionamentos de cada um. “Tento preservar minha privacidade até onde posso e acho que moldar opiniões cabe principalmente aos pais das pessoas. Dou minha opinião em determinados tópicos e em outros não. Acho que política, por exemplo, é algo muito amplo. Fazer um comentário não vai abranger um verdadeiro entendimento acerca do que penso”.


    Últimas