Maria Intercedeu, o Milagre aconteceu!
Após as festas natalinas, inicia-se o Tempo Comum, em que revivemos os principais Mistérios da Salvação.
Hoje, a Liturgia propõe o Evangelho das Bodas de Caná (Jo 2, 1-11). Trata-se de um episódio narrado por João, testemunha ocular do acontecimento. Tal episódio foi colocado neste domingo, que se segue imediatamente ao tempo de Natal, porque, juntamente com a visita dos Magos do Oriente e com o Batismo de Jesus, forma a trilogia da Epifania, ou seja, da manifestação de Cristo. As Bodas de Caná constituem, de fato, “o início dos sinais” (Jo 2, 11), ou seja, o primeiro milagre realizado por Jesus, com o qual Ele manifestou em público a sua glória, suscitando a fé dos seus discípulos. Recordemos, brevemente, o que aconteceu durante aquela festa de núpcias em Caná da Galileia. Aconteceu que faltou o vinho, e Maria, Mãe de Jesus, levou o fato ao conhecimento de Jesus, seu Filho, que lhe respondeu, dizendo que ainda não tinha chegado a sua hora; mas, depois, ouviu a solicitação de Maria e, tendo mandado encher de água seis talhas de pedra, transformou a água em vinho, num vinho excelente, melhor que o anterior. Com este “sinal”, Jesus revela-se como o Esposo messiânico, que veio estabelecer com o seu povo a nova e eterna Aliança, segundo as palavras dos profetas: “Assim como a esposa faz a felicidade do seu marido, assim tu serás a alegria do teu Deus” (Is 62, 5). E o vinho é símbolo desta alegria de amor; mas ele faz alusão também ao sangue, que Jesus derramará no fim, para selar o seu pacto nupcial com a humanidade.
Acontece, em todo casamento, aquilo que ocorreu nas Bodas de Caná: começa no entusiasmo e na alegria; o vinho é o símbolo, precisamente, desta alegria e do amor recíproco que lhe é a causa. Mas este amor, e esta alegria – como o vinho de Caná – com o passar dos dias e dos anos, consome-se e começa a faltar; todo sentimento humano, exatamente porque humano, é recessivo, tende a consumir-se e a se exaurir; então, desaba sobre a família uma nuvem de tristeza e de desgosto; aos convidados para as bodas, que são os filhos, não se tem mais nada a oferecer, a não ser o próprio cansaço, a própria frieza recíproca e, muitas vezes, a própria amarga desilusão. Falhas cheias de água. O fogo, para o qual tinham vindo para se aquecer, vai apagando-se e todos procuram outros fogos fora dos muros da casa para aquecer o coração com um pouco de afeto.
Há remédio para esta triste perspectiva? Sim, o mesmo remédio que houve em Caná da Galileia: Convidar Jesus para as bodas! Se Ele for de casa, a Ele se poderá recorrer quando enfraquecerem o entusiasmo, a atração física, a novidade, enfim, o amor com que se tinha começado como namorados, porque, da água da “rotina”, ele saberá fazer brotar, pouco a pouco, um novo vinho melhor do que o primeiro, isto é, um novo tipo de amor conjugal, menos efervescente do que o da juventude, mas, mais profundo, mais duradouro, feito de compreensão, de conhecimento mútuo, de solidariedade, feito também de muita capacidade de se perdoar.
Convidar Jesus para o próprio matrimônio! Sim, isso significa reconhecer, desde o tempo de namoro, que o matrimônio não é uma questão privada entre um homem e uma mulher, em que a religião e o padre devem entrar somente para pingar sobre nós um pouco de água benta ou para lhe dar um pouco de prestígio exterior com órgão, flores e tapete; mas é uma vocação, um chamado para realizar, de certa forma, a própria vida e o próprio destino; vocação que vem de Deus, cuja norma e cuja força devem orientar a vida do casal.
Merecem ser destacadas as palavras de Maria: “Eles não têm mais vinho” (Jo 2, 3). Pede sem pedir, expondo uma necessidade. E, desse modo, ensina-nos a pedir.
Jesus respondeu-lhe: ”Que isso importa a mim e a ti, mulher? Ainda não chegou minha hora” (Jo 2, 4). Parece que Jesus vai negar à sua Mãe o que Ela lhe pede. Mas a Virgem, que conhece bem o coração do seu filho, comporta-se como se tivesse sido atendida e pede aos servos: ”Fazei o que Ele vos disser” (Jo 2, 5). A indicação de Maria “fazei o que Ele vos disser” conserva um valor sempre atual para os cristãos de todos os tempos. Pede confiança total e obediência à vontade de Deus.
Maria é uma Mãe atentíssima a todas as nossas necessidades, de uma solicitude que mãe alguma sobre a terra jamais teve ou terá. O milagre acontecerá, porque Maria, a Mãe de Jesus, intercedeu; só por isso!
Pergunta Santo Afonso Maria de Ligório: “Por que terão tamanha eficácia as súplicas de Maria diante de Deus? As orações dos santos são orações de servos, ao passo que as de Maria são orações de Mãe e, daí, procedem a sua eficácia e o seu caráter de autoridade; e como Jesus ama entranhadamente a sua Mãe, não pode Ela suplicar sem ser atendida. Em Caná, ninguém pede à Santíssima Virgem que interceda junto de seu Filho pelos consternados esposos. Mas o coração de Maria, que não pode deixar de se compadecer dos infelizes, impele-a a assumir, por iniciativa própria, o ofício de intercessora e a pedir ao Filho o milagre. Se a Senhora procedeu assim, sem que lhe tivessem dito nada, que teria feito se lhe tivessem pedido que interviesse?” Que não fará quando – tantas vezes ao longo do dia! – dizemos-lhe “rogai por nós”? Que não iremos conseguir, se recorrermos a Ela?
“Maria põe-se de permeio, entre o seu Filho e os homens, na realidade das suas privações, das suas indigências e dos seus sofrimentos. Maria faz-se de Medianeira, não como uma estranha, mas na posição de Mãe, consciente de que, como tal, pode – ou antes, tem o direito de – tornar presentes ao Filho as necessidades dos homens” (São João Paulo II).
Não deveríamos suplicar o socorro da Mãe de Deus, com mais frequência? Não deveríamos implorar-lhe, com outra confiança, sabendo que a Mãe nos conseguirá o que nos é mais necessário? Se conseguiu do seu Filho o vinho, que era dispensável, não haverá de remediar tantas necessidades urgentes como as que temos? Diz São Josemaria Escrivá: “Quero, Senhor, abandonar todos os meus cuidados nas tuas mãos generosas. A nossa Mãe – a tua Mãe! -, a estas horas, como em Caná, já fez soar aos teus ouvidos: – Não têm!… Eu creio em Ti, espero em Ti, amo-Te, Jesus: para mim, nada; para eles” (Forja, 807).
Jesus não nos nega nada; e concede-nos, de modo particular, tudo o que lhe pedimos, através de sua Mãe. Ela se encarrega de endireitar as nossas súplicas se estão um pouco tortas, tal como fazem as mães. Maria, continua dizendo a nós, seus filhos: “Fazei o que Ele vos disser”. Foram as últimas palavras de Nossa Senhora, registradas pelo Evangelho. E não poderiam ter sido melhores! Invoquemos a intercessão de Maria Santíssima, Medianeira de todas as Graças! (cf. Concílio Vaticano ll, Cap. Vlll, da Constituição Dogmática Lumen Gentium, cujo título é: A Bem-Aventurada Virgem Maria Mãe de Deus no Mistério de Cristo e da Igreja).
“Na festa de casamento, em Caná da Galileia, é importante o papel de Maria. O milagre acontece porque Maria intercede. Intervém para não decair a alegria de todos e para ajudar os esposos em sua dificuldade. Sensibilidade de mãe, de assumir, de se envolver com tudo o que é de seus filhos. Como é nossa mãe, está atenta às nossas necessidades, especialmente às espirituais. Se procedeu assim em Caná, sem lhe pedirem, o que não fará quando lhe dissermos: rogai por nós?
A indicação de Maria (“fazei tudo o que Ele vos disser”) conserva um valor sempre atual para os cristãos de todos os tempos. Pede confiança total e obediência à vontade de Deus.
O Evangelho de hoje é uma parábola da vida de cada um de nós. O milagre de Caná é mais do que um simples episódio. É um sinal, o início dos sinais de Jesus. Anuncia a nova aliança entre Deus e cada um de nós. Jesus celebrará, no Calvário, o verdadeiro “matrimônio” entre Deus e a humanidade. Na Cruz, dará o vinho necessário para que a festa não seja interrompida. Será o seu sangue derramado e doado por amor a nós.
Estejamos dispostos, como os serventes em Caná, e façamos tudo o que está ao nosso alcance. Rezar, ler o Evangelho, confessar-se, participar da Missa, lutar contra o pecado, procurar extirpar defeitos. E, como somos fracos, encomendamos e pedimos como pequeninos que somos: Mãe, ajudai-nos, socorrei-nos. Santa Maria, rogai por nós, pecadores, agora e na hora de nossa morte. Amém!” (cf. Livro de Manoel Augusto Santos, Deus Fala Conosco – Domingos do Tempo Comum – Ano C – Ed. Cultor de Livros).