Maratona de jogos apresenta sua conta e já irrita treinadores em São Paulo
Idealizada pela Federação Paulista de Futebol (FPF) e aprovada pelos dirigentes que comandam os clubes de São Paulo, com aval dos próprios jogadores, a intensa rotina de cumprir partidas oficiais em curtos espaços de tempo já provoca reclamação dos treinadores dos grandes clubes. Em alguns casos, essa insatisfação tem uma relação direta com tropeços ou campanhas ruins, mas o fato é que, com essa avalanche de confrontos, os atletas começam a acusar desgaste físico e o risco de baixas no elenco se torna mais evidente.
Após o empate diante do Racing, na quarta-feira, pela Copa Libertadores, o técnico são-paulino Hernán Crespo decidiu se manifestar sobre a maratona de partidas a que os clubes estão sendo expostos para ajustar o calendário após a paralisação das atividades esportivas por causa da pandemia da covid-19. A FPF diz que o Campeonato Paulista tem de acabar no próximo dia 23.
“Estou muito preocupado com o calendário. Representamos a Federação Paulista e a Confederação Brasileira de Futebol. A federação é que decide o calendário estadual, mas é importante que se comece a pensar em seus representantes na Copa Libertadores também”, cobrou o treinador, que, neste domingo, tem pela frente o Mirassol, fora de casa, pela 12.ª e última rodada de fase de classificação do Estadual.
Outro profissional de São Paulo que deixou claro o seu descontentamento foi o técnico português Abel Ferreira, do Palmeiras. Líder do Grupo A com 100% de aproveitamento nos três jogos da Libertadores, o time paulista corre o risco de não se classificar para o mata-mata do torneio regional. A reclamação aconteceu após vitória sobre o Defensa y Justicia na última terça-feira, na Argentina, mas sendo feita com frequência.
“Quando a própria organização (FPF) não quer saber do Paulista, nós vamos ter de priorizar a Libertadores. Vamos fazer nosso melhor no Estadual. Se der para ganhar, ganhamos. Se não der, seguimos em frente como vamos fazendo, dando nosso melhor a cada jogo. Temos 24 horas para preparar cada partida”, disse o português. “Já falamos o que significa o Paulista para nós. Eu sei que muita gente fala do nosso planejamento, da nossa organização, mas nós não controlamos a pandemia. Não temos culpa de ter de fazer dois jogos a cada três dias”.
Em recente entrevista ao Estadão, o preparador físico Carlinhos Neves comentou que mesmo com o avanço da medicina esportiva só um rodízio pode amenizar o desgaste dos atletas diante do calendário de jogos com intervalos de 48 horas. “Estamos falando de um tempo em que tudo é monitorado. Temos o mapeamento de quanto ele corre, a velocidade de arranque, a desaceleração, quem tem mais facilidade de recuperação de lesões. Tudo é passado em forma de gráfico para que o treinador fique ciente do estado do atleta. Mesmo assim, o rodízio é necessário”.
Mas se a reclamação dos treinadores se justifica, vale lembrar também que tudo foi definido e aprovado com a retomada dos jogos após a paralisação em função da pandemia. Representantes da FPF, como o ex-jogador Mauro Silva, conversaram com os líderes dos times em São Paulo e eles toparam a maratona. Rinaldo Martorelli, presidente do Sindicato dos Atletas de São Paulo (Sapesp), afirmou que os jogadores foram consultados sobre o calendário e concordaram em participar. A conta parece alta.
Também exposto a essa maratona de partidas, o Corinthians sofreu oscilações. Classificado às quartas de final do Estadual, o time do técnico Vagner Mancini corre o risco de cair na fase de grupos da Copa Sul-Americana. “Temos de recorrer ao rodízio de jogadores em função das competições. Não tem outro jeito”, disse o treinador, que tem usado muitos garotos da base porque também os veteranos não estão dando conta de jogar bem.
NA VILA – O Santos corre perigo tanto no Paulistão quanto na Libertadores. O baixo rendimento do time custou até a saída do técnico argentino Ariel Holán, que pediu demissão após derrota para o Corinthians na Vila Belmiro. Quem tem a tarefa de conduzir a equipe diante desse cenário é o interino Marcelo Fernandes até que outro treinador seja contratado. “Os jogadores sabem da dificuldade e em um momento como esse temos de buscar a superação”, disse.
Só para ter uma ideia do aperto no calendário, contando a partir do dia 18 de abril, data do confronto com o Botafogo-SP e do duelo desta quinta-feira diante do Santos, o Palmeiras vai entrar em campo nove vezes. No mesmo período, os santistas vão cumprir oito partidas.
Também levando em conta o dia 18 de abril, os corintianos completam nesta quinta-feira, contra o Sport Huancayo, no Peru, o seu sexto compromisso. O São Paulo, tendo como ponto de partida o jogo contra o Sporting Cristal, em 20 de abril, até o empate com o Racing, entrou em campo em seis oportunidades. Isso sem contar os deslocamento, as viagens, a falta de tempo para treinar, o descanso dos atletas.