Manifesto marca pacto de não agressão para 2022
O manifesto divulgado por um grupo de seis possíveis candidatos à Presidência em defesa da democracia, da Constituição de 1988 e contra o autoritarismo, marca um pacto de não agressão e já é tratado como embrião de uma aliança ampla de centro, embora o caminho até sua confirmação seja longo e repleto de obstáculos. Com exceção de Ciro Gomes (PDT), os demais signatários do texto publicado na quarta-feira já mantinham conversas reservadas bilaterais sobre a necessidade de se criar uma terceira via para quebrar a polarização entre o presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente Lula na disputa pelo Planalto em 2022.
Os presidenciáveis do centro direita à centro esquerda seguem conectados em um grupo de WhatsApp chamado “Polo Democrático”. Embora não tenha assinado o documento, o ex-ministro da Justiça Sérgio Moro também participa do grupo. Na definição do governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), o manifesto é o “primeiro passo” na construção de uma aliança para as eleições de 2022.
“Isso não significa convergência absoluta, algo que não temos nem no nosso partido. Mas percebo a disposição de uma diálogo permanente sobre outros temas”, afirmou o tucano, signatário do documento ao lado do governador paulista, João Doria, também do PSDB, de Luiz Henrique Mandetta (DEM), de João Amoêdo (Novo), de Ciro e do apresentador Luciano Huck, ainda sem partido.
Segundo Leite, caso seja lançada mais de uma candidatura contra a polarização, a expectativa é de um enfrentamento no “plano das ideias”. A lógica do “pacto de não agressão” foi confirmada reservadamente ao jornal O Estado de S. Paulo por pelo menos outros três dirigentes dos partidos envolvidos.
Um dos interlocutores de Huck, que ainda não se coloca abertamente como candidato, o presidente do Cidadania, Roberto Freire, define o manifesto como “fato inédito” na história da República. “É o primeiro passo na construção de um campo democrático que vai da direita, com Amoêdo, à esquerda, com Ciro. Se serão um ou dois candidatos, não vamos definir agora”, disse, destacando a ausência de Lula, excluído das articulações propositadamente.
“O manifesto integra seis visões e personagens da política brasileira, tomando como eixo central os valores democráticos do País e a proteção do seu povo”, afirmou Doria, que preferiu cautela ao analisar o futuro do grupo. “Existem diferenças ideológicas, mas o manifesto pode ser uma semente. Ainda é cedo, mas a lógica é buscar convergências”, declarou Amoedo.
Ex-ministro da Saúde, Mandetta foi o idealizador da carta e quem acionou os demais “presidenciáveis”. A articulação final em torno do texto foi rápida e começou na terça-feira. “Nem foi ventilada a hipótese de chamar o Lula. Foi uma opção contra duas opções polarizadas”, disse o ex-presidente do Novo.
O primeiro obstáculo para consolidar essa aliança embrionária, porém, está em sua própria composição. O presidente do PDT, Carlos Lupi, não dá sinais de que a legenda aceite abrir mão de ter Ciro Gomes na disputa eleitoral. “Não descartamos nada para sair dessa polarização. Nosso principal adversário é o Bolsonaro. Todas as forças que derrotá-lo precisam conversar”, afirmou. Segundo ele, entretanto, é Ciro quem deve “liderar esse campo”.
‘Sinal’
Em reserva, líderes de DEM, PSDB e do próprio PDT concordam que Ciro dificilmente fará parte de uma aliança, mas avaliam que a assinatura dele foi um sinal importante de que a disputa de 2022 terá uma bandeira branca no chamado “centro democrático”.
Outro impasse está na agenda comum. “O problema é que até hoje ninguém se dispôs a construir um programa de centro moderado”, disse o vice-presidente da Câmara, Marcelo Ramos (PL-AM). “Quando houver esse programa, teremos condições de apontar um caminho fora da polarização.”
Além disso, os signatários terão de disputar outros partidos desse mesmo espectro ideológico com o próprio Bolsonaro, que acaba de fazer mudanças no Ministério para consolidar o apoio do Centrão. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.