Maloca: um show de restaurante
Inclinado, o telhado era representado pela aderência do cliente à experiência. Dignas de aclamações, as apresentações, dos pratos, passos e canções, desenvolviam, no rodízio, um influente presente. O espetáculo contratado poderia até ser musical, mas, no fim das contas, era a Maloca o grande show de restaurante.
Movimentado, o estabelecimento era alimentado pela habilidade em construir e reunir elos de pertencimento. A aposentada Elisabeth Vizani, de 66 anos, relembra a emoção que era se sentir parte da programação da churrascaria, mais especificamente, da noite do charme que, religiosamente, acontecia às segundas-feiras.
“Eu adorava. Fazia dança de salão no La Bohemia e ia toda semana, entre 1990 e 1994. Era como um jantar dançante, mas muito bem frequentado. O traje era esporte fino, então nas segundas íamos mais arrumados para o trabalho. Ficava lotado e olha que a Maloca tinha espaço. Só da aula de dança éramos uns 80”.
Raros, os momentos em que conseguia-se reunir a família por inteiro demandavam, de maneira inconsciente, um ambiente a altura. E quando o assunto envolvia comemorações, os corações já sabiam para onde se dirigir. Os apaixonados, então, nem se fala. Para o vigilante Ednesio Souza Silva, de 42 anos, noivar na Maloca foi um amuleto de sorte.
“Foi um dos poucos momentos em que as famílias saíram todas juntas. Fui eu, minha mãe, minha esposa, Fátima Barbosa, e a mãe dela. A gente até brinca porque nos conhecemos no antigo La Bohemia, que pegou fogo e noivamos no Maloca que também pegou fogo, então ficamos com medo do mesmo acontecer no cartório”, diz em tom de brincadeira.
Assim como Ednesio e Fátima, juntos há quase 20 anos, foi lá que uma outra dupla petropolitana decidiu renovar os votos. A grande diferença é que, já naquela época, a aposentada Marli Siqueira Medon e o marido, Antônio da Costa Medon, comemoravam suas bodas de prata. Hoje, são quase 48 anos juntos.
“Nós já éramos clientes de lá. Sempre gostamos da Maloca, então fizemos um churrasco para a família. Só para os íntimos. O que mais gostei foi estar com todos a minha volta: irmão, cunhada, sobrinhos. Até meu neto estava lá. Ele tinha um ano e um pouquinho. Hoje já é advogado e está cursando o magistrado porque quer ser juiz!”, conta Marli, de 69 anos.
Sede de momentos e acontecimentos
Com exceção dos registros fotográficos feitos mesa a mesa, uma vez vividos, os momentos na Maloca se tornavam inatingíveis. Armazenados, em casa ou na memória, o importante era não tornar os instantes distantes. A petropolitana Nadja Caiaffa, de 59 anos, relembra os dias em que prestou, ao lado do marido, serviços de fotografia ao restaurante.
“No fim de semana eu e meu marido, Antônio Corrêa, revelávamos umas cem fotos por dia. A churrascaria era muito movimentada. Todos os ônibus de turismo paravam para almoçar lá. A gente tirava as fotos, revelava – num laboratório que o Paulo Amorim montou para a gente nos fundos da Maloca – e as vendia com a capa do restaurante”.
Aberta de 1972 a 2001, por iniciativa do empreendedor Paulo Amorim, a churrascaria Maloca “funcionava por si só”. É o que diz o representante comercial Carlos Coutinho, de 54 anos. Sobrinho de Paulo, trabalhou ao lado do tio no estabelecimento por cerca de 16 anos. Do almoxarife, passou para o caixa e, dali, se tornou gerente.
“O Paulo era proprietário do terreno, tinha algumas peixarias aqui na cidade e teve a ideia de fazer uma churrascaria porque o rodízio era algo novo na cidade. Recebíamos desfiles e vários eventos, além de cantores como Alcione, Agnaldo Timóteo, Nelson Gonçalves. Chegamos a atender uma média de 250 pessoas por dia”.
Mais do que um simples rodízio de carne, estar na Maloca significava também desfrutar de um ambiente musical de qualidade. Segundo Carlos, houve casos de garçons, como o Geraldo, que se aventuravam e triunfavam. “ele tocava violão e cantava todas as quintas. Fazia sucesso. O pessoal gostava dele”.
Fruto do êxito provocado pelas atrações convidadas foi a criação do Maloquinha Piano Bar, anexo à edificação principal, do qual o aposentado Laerte Martins foi gerente. Aos 69 anos ele relembra o local, assim como os shows e nomes que mais atraíam a clientela que, diga-se de passagem, era colocada para dançar.
“No Maloquinha a garotada chegava como consequência, mas o que eu buscava era o público acima dos 30 anos. Era muita MPB, música para dançar coladinho, piano do Mora e voz/violão do Oscar Henrique. Produzi vários shows, entre eles, Leny Andrade, Angela Rô Rô e Carmem Costa. Reuníamos, em média, 250 pessoas. Era sucesso nas noites”.
Dinâmica, a Maloca abria as portas, ainda, a estrelas internacionais, como foi o caso da fadista portuguesa Maria Alcina. O locutor aposentado Paulo Márcio Bernardo da Silva, de 71 anos, resgata detalhes do dia em que foi mestre de cerimônia da apresentação da cantora: curiosidades que hoje lhe rendem algumas risadas.
“Cheguei lá achando que fosse a cantora brasileira Maria Alcina. Foi só quando cheguei na Maloca que me deparei com a fadista. Por sorte eu estava bem vestido! Me lembro também que durante o show ela deixou cair um anel de brilhantes. Guardei no bolso e, no fim da apresentação, lhe entreguei. Só sei que até mágico ela achou que eu fosse!”.
Incontestável, a qualidade da Maloca se manifestava pelo ecoar dos aplausos e pelo tilintar dos talheres: respostas espontâneas a um show de restaurante.