Mais de mil palhaços no salão…
Saudades dos tempos da criança ingênua e dos jovens enamorados, adolescentes que se entrelaçavam aos confetes e serpentinas e simplesmente brincavam circulando pelos salões fantasiados ou não. A alegria era espontânea. O palhaço do qual falávamos era aquele do picadeiro sob a luz da ribalta a encantar a todos… Agora a fantasia e o canto são de lamento e quando muito para aplacar a dor e desapontamento.
Quando Zé Keti compôs a marcha rancho “Máscara Negra” ela era romântica e nos embalava em sonhos. Eram só risos e alegria… As marchinhas de carnaval falavam das jardineiras tristes, dos pierrôs e colombinas, da sinceridade de Aurora e do medo da canoa virar… Saudades de Emilinha, Marlene, Dircinha, Dalva de Oliveira e tantos que ainda povoam nossas lembranças… Memória regressiva? A Festa do Rei Momo se por um lado provoca melancolia para muitos renova a alegria de viver.
Eu gostava quando papai nos levava a Três Rios e o centro da cidade era tomado pelos automóveis de capotas arriadas com as meninas enfeitando seus capôs com a beleza plástica de suas faces e das melindrosas, baianas, coelhinhas, colombinas, odaliscas, havaianas, ciganas, gregas, bailarinas, piratas, feiticeiras, princesas e outras mais. As máscaras pediam passagem. A purpurina e as plumas começaram a surgir junto aos brocados e lamês… Despíamos das preocupações e dávamos lugar aos devaneios. De sexta até quarta-feira a ordem era se vestir de brilho e sambar na avenida.
Na verdade uns já se excediam e olhem que raros eram os que podiam usar lança-perfume enquanto outros cometiam excessos na bebida alcoólica. Hoje nem preciso dizer por que sabem o que ocorre. Bom seria se a alegria fosse sincera. Quem podia ia aos grandes clubes. Nós frequentávamos as matinés do CAER, Independência, CEBAT- Alberto Torres, mas, eu gostava mesmo dos desfiles de automóveis, das “Grandes Sociedades” e das Escolas de Samba com destaque para a “Unidos da Caixa D’Água” e do “Boca Negra,” (Índios). Ao final os rostos dos desfilantes estavam borrados, os corpos suados, as perucas desalinhadas, e os adereços em frangalhos, mas felizes. Muita coisa mudou.
A festa continua, mas, presa aos quesitos fantasia, enredo, evolução e suntuosidade. O axé e os rodopios de Ivete Sangalo, Daniela Mércuri, Elimar Santos, Armandinho, Carlinhos Brown, Mari Arantes, Cláudia Leite e Baby do Brasil, só para citar alguns, arrastam multidões. Aqui em Petrópolis não há carnaval. Quando muito um ou outro bloco perdido pelas ruas “batendo na lata” como cantavam as saudosas Gatas… O Rio de Janeiro ainda resiste por causa das grandes escolas, mesmo ante a crise se mantêm inarredáveis “Com dinheiro ou sem dinheiro eu brinco” como enfatizou a nossa Verde e Rosa.
O povo se une ora no Cordão do Bola Preta, Cacique de Ramos, Banda de Ipanema, Simpatia é quase amor, Bloco do Sargento Pimenta, Orquestra Voadora e etc… Saudades do Baile de Máscaras da Imperial Cidade, e dos desfiles da G.R.E.S. Independentes, Vinte e Quatro de Maio e Estrela do Oriente… Felizmente o Petropolitano, centenária agremiação presidida pelo médico e compositor Arnaldo Rippel cumprirá intensa programação carnavalesca com destaque para o “Baile Preto e Branco” animando e entretendo a todos nós. Na quarta-feira estaremos atentos ao período Quaresmal e alertas às contas com o leão… O ano cumprirá o seu destino. Haverá eleições e copa do mundo e o salve-se quem puder. Bom carnaval a todos.