• Maio: abolição, doenças e preconceito

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  • 25/05/2020 12:00

    Em finais do século XIX, o Brasil foi marcado por diversas mudanças no âmbito político, incluindo a abolição em maio de 1888, e a Proclamação da República em 1889. Mudanças efetivas e indispensáveis à modernização da Nação. Contudo, as marcas da escravidão permaneceram diante de uma lei assinada que não se preocupou com o futuro de tais homens, conforme tanto se especulou durante o processo abolicionista; escravos libertos e seus descentes continuaram à margem da sociedade, no contexto autoritário e excludente da Primeira República. 

    No presente artigo, vamos compreender de forma breve a relação da abolição em maio de 1888, das doenças que circulavam no Brasil no mesmo período, e o preconceito, que fincou raízes no mesmo século. Tudo isto em paralelo a uma reflexão sobre o nosso contexto atual, o nosso Brasil, democrático, em pandemia, e ainda preconceituoso.

    Para tal compreensão vamos nos limitar ao Rio de Janeiro, por ser nosso campo de conhecimento e também a província que possuía para cada 1,67 pessoas, um escravo, ou seja, a província que vem a formar uma forte elite carioca escravocrata no século XIX. É de extrema importância, que antes de tudo, se tenha em mente, que o processo e abolição no Brasil foi um árduo processo, que nosso espaço limitado não permite abordar em detalhes, por isso, levantaremos pontos significativos para nossa reflexão após a assinatura da Lei Áurea.

    Ao ser assinada no Brasil, a lei que enfim, decreta a liberdade de negros cativos, nada foi feito para que esses homens e mulheres fossem inseridos na sociedade. Nesse sentido, muitos deles, sem aparato, começam a circular pelas cidades ou procuram abrigos nos cortiços cariocas – conjuntos habitacionais com menor custo, formados, portanto, por imigrantes e ex-escravos, em sua maioria. 

    Sidney Chalhoub, em seu livro: Cidade febril: Cortiços e epidemias na corte imperial, narra que no dia 26 de janeiro de 1893, o Cortiço Cabeça de Porco, o mais celebre cortiço carioca do período, era destruído. O número de habitantes, de acordo com os jornais da época, girava em torno de dois mil. Três dias antes os moradores do cortiço foram informados da demolição do prédio. O prefeito Barata Ribeiro, junto com sua equipe, que incluía um médico e um inspetor de higiene, estavam embebidos do cientificismo de sua época, e tinham plena convicção de que os cortiços, ou seja, as aglomerações do século XIX, que incluíam negros, ex-escravos, e imigrantes, eram o foco de doenças como a febre amarela e a cólera. Indícios apontam que alguns moradores, pegaram tiras de madeira do cortiço demolido e subiram o morro que ficava atrás da construção, agora, em ruínas, e ali construíram casebres. Era o fim da era dos cortiços e o início do século das favelas.

    O fim dos cortiços está relacionado com uma política de higienização social, ou seja, afastar pessoas com o estereótipo do negro, ex-escravo, da sociedade, foram medidas tomadas para erradicar doenças como a febre amarela, que teve um grande surto em 1850, ou a cólera que foi uma grande epidemia a partir de 1855.

    Essa era a realidade do negro no Brasil após a abolição: liberto, porém, marginalizado diante de um cenário monstruoso de doenças que o criminaliza; sem emprego; sem moradia; por isso considerado vadio. Todo o contexto social em finais do século XIX, se estende pelo século XX e cria um grande problema social que ainda precisa ser pensado, repensado, debatido, questionado, no século XXI. A abolição foi uma grande conquista, mas junto dela não veio um pacote de medidas. Era uma liberdade tolhida e limitada.

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