Mahashivaratri: A grande noite de Shiva

O Mundo Religioso (197)

No grande e rico mundo das tradições religiosas da Índia, há algumas divindades cujos cultos têm maior destaque, embora possam ser bem diversos entre si. As mais expressivas são as tradições religiosas em torno das divindades Vishnu e Shiva, que podem aparecer e ser cultuados de muitas formas. E dentro desta multiplicidade de tradições, há também muitos festivais religiosos centrados nesta ou naquela divindade. Um dia que se destaca é o festival chamado de Mahashivaratri, literalmente a grande (maha) noite (ratri) de Shiva. Esta divindade é tradicionalmente ligada a três elementos mais marcantes: por um lado é a divindade da criação, por isso da sexualidade, da procriação, da fertilidade, por outro lado é a divindade da destruição, da morte, do fim. Estes dois elementos não são contrapostos, dado que na cosmologia hindu a existência é entendida como cíclica e então morte e nascimento estão ligados. Ao lado destes duas características, Shiva é também o asceta divino e invocado pelos ascetas. A tradição de meditação Ioga é especialmente ligada a Shiva. Esta ligação, aparentemente contraditória em relação aos dois elementos anteriores, advém entretanto da compreensão de que a meditação e a ascese (jejum, mortificações) são caminhos pelos quais se consegue a destruição da ignorância. Destruindo-se a ignorância, abre-se o caminho para o verdadeiro conhecimento, a iluminação espiritual e com isso a salvação. O festival Mahashivaratri, de grande importância em toda a Índia, é celebrado na 13ª noite do mês Phalguna, que é o 12º mês (o último) do calendário lunar hindu (final de fevereiro ou começo de março de nosso calendário gregoriano). É comum que se possa passar esta noite em jejum e orações dedicados a Shiva, pedindo-se especialmente o perdão (a destruição) dos erros cometidos no ano que se encerra, desde a última celebração deste festival. No dia que se segue (o 14º do mês), é costume que se visite algum templo de Shiva e se faça rituais e oferendas diante dos Linga (ou Lingam, que são pedras alongadas e arredondadas, vistas especialmente como símbolos desta divindade). Estes rituais podem consistir tanto em que se derrame água, leite, mel, iogurte, manteiga sobre os Linga, ou então que se os enfeite com folhas de uma árvore sagrada. Aqueles que fieis que não têm a possibilidade de visitar algum templo de Shiva, não deixam de fazer seus rituais domésticos, pedindo igualmente a destruição da ignorância (dos erros) e tornando mais propício o caminho da salvação.