• Mãe, Madona, Madre, Pacha Mama, Matriz: Primeira Divindade

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  • 15/05/2023 15:02
    Por Íris Boff – a convite de seu irmão, Leonardo Boff

    A maternidade já não tem  mais como outrora  um atrativo fascinante,  porque vem despida de Mistérios, manipulada, programada e, às vezes, artificialmente produzida.

    Quem pode livrar o homem moderno da astúcia e independência  feminina que o dispensa das alegrias da paternidade ou compra, vende e negocia seu poder de procriar?

    Contudo, sua força criadora e regeneradora não esgota o Mistério que a cerca. Por isso, a Maternidade não se limita só  a seu sexo, mas ao seu psiquismo e à sua profundidade. 

    A maternidade  nos aproxima e nos familiariza com  os segredos e os mistérios da vida.

    A Mulher-Mãe foi outrora a primeira Divindade da Humanidade, reverenciada como Deusa, Sacerdotisa, Maga, Xamã, Bruxa. Por sua intimidade com o Sagrado  não precisa inventar nenhuma religião, mas precisa “maternalizar a humanidade”, órfã de sentido.

    Pela evolução da natureza, o feminino precede ao masculino. O  homem é fundamentalmente um feminino ‘inventado’ para disseminar genes. O poder genético do homem pode ser sacrificado. Poucos homens são suficientes para fecundar muitas mulheres. Para reconstruir a humanidade é preciso de  mais tempo, mais cuidado e muito mais mulheres.

    Um ditado indiano revela : Quando o pai diz: “meu filho” é uma ato de fé .Quando a mãe diz: “meu filho” é um conhecimento seguro.

    Para exercer o controle desse conhecimento, a monogamia foi um bem-sucedido arranjo do Patriarcado. Foi preciso também cercar a mulher no limite de sua propriedade, criar uma rede de regras e obrigações que cerceasse sua liberdade, uma religião à imagem e conveniência do Patriarcado, uma ética que favorecesse o poder e o controle do homem sobre a mulher, sobre a natureza, sobre o conhecimento, sobre a propriedade  e sobre sua  descendência. Mas perdeu algo tão essencial quanto  o cuidado e a ternura, valores dos quais as mulheres são as principais portadoras.

    Exilada de sua natureza mais genuína, transformada pelo medo, reprimida por sua própria vergonha de ser mulher, ela foi  acreditando neste ônus imposto pelo homem. Essa infame inverdade foi aceita e consentida por ela como verdade,  a fim de  sobreviver à  tortura, à fogueira da Inquisição ou ao fogo do inferno.

    Assim, geração após geração, essa falsa identidade, desvinculada de sua própria raiz, é a herança enraizada na cultura patriarcal que ainda é dominante.

    O retorno ao Feminino Sagrado é uma forma de expurgar o lixo que polui nossas consciências. Besuntar, amolecer, desenferrujar e reatar os elos gastos e rompidos que forma a grande corrente de mulheres, se faz com uma espiritualidade nem masculina nem feminina mas andrógena, feminina-masculina, forte para romper limites e quebrar tabus, limpar para incluir a diversidade religiosa e  lúcida para re-interpretar  nossas teologias.

    Essa é a forma mais justa e necessária para resgatar e purificar nossas Mães e toda a geração de mulheres que nos antecederam. Perdoá-las por nos ter feito engolir essa indigesta castração. Sermos Mães de nós mesmas e carregá-las no nosso coração reconciliado como elas nos carregaram  um dia, amorosamente, nos  seus braços. Esse é o desafio e a verdadeira missão de toda mulher nos tempos atuais.

    Iris Boff é mãe de sete filhos homens, feminista, pedagoga, poeta e escritora.

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