• Maduro diz que ninguém se meteu no Brasil quando Bolsonaro contestou eleição

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  • 30/ago 15:58
    Por Redação, O Estado de S. Paulo / Estadão

    Em indireta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, disse que ninguém se meteu com o Brasil quando Jair Bolsonaro contestou o resultado da última eleição. Em discurso para apoiadores, ele afirmou ainda que os “gringos” não têm moral para se envolver nos assuntos de Caracas.

    “No Brasil, o então presidente Bolsonaro disse que haveria fraude na eleição. Enquanto presidente ele disse que, se perdesse, gritaria fraude”, afirmou Nicolás Maduro comparando a oposição na Venezuela ao que chamou de “extrema direita fascista”.

    “Bolsonaro não reconheceu o resultado, entrou com recurso no Tribunal Supremo, e a decisão foi que os resultados davam vitória ao presidente Lula. Palavra sagrada no Brasil. E quem se meteu com o Brasil?”, questionou. Ao que a plateia de apoiadores respondeu: “ninguém”.

    Acontece que o recurso do Partido Liberal (PL), de Bolsonaro, que pedia anulação dos votos de determinadas urnas por suposto “mau funcionamento” foi rejeitado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que aplicou multa de R$ 23 milhões por litigância de má fé. Essas informações, ele omitiu.

    Na Venezuela, por outro lado, o Conselho Nacional Eleitoral (CNE), órgão alinhado ao chavismo, declarou a vitória do ditador sem apresentar os dados das urnas, que nunca vieram à público, passado um mês da votação.

    Os opositores Edmundo González e María Corina Machado, por sua vez, publicaram as cópias de 80% das atas, que comprovariam a sua vitória. Nicolás Maduro então pediu Supremo Tribunal de Justiça (STJ), outra instituição cooptada pelo chavismo, que confirmasse os resultados. Como era esperado, a Corte certificou a contestada reeleição do ditador e determinou que a oposição fosse investigada.

    Na declaração, Nicolás Maduro confunde os tribunais ao sugerir de forma enganosa que o caso brasileiro seria similar ao venezuelano. Isso porque o TSE seria equivalente ao Conselho Nacional Eleitoral, não ao Supremo Tribunal de Justiça, correspondente no Brasil à Supremo Tribunal Federal (STF).

    Ao contrário de Maduro, o ex-presidente Bolsonaro não foi ao STF para recorrer do resultado das eleições.

    Aliados históricos, Lula tentou reabilitar Maduro quando voltou à presidência, no ano passado, mas eles passaram a trocar farpas desde que o chavista se lançou numa escalada autoritária para sufocar a oposição antes, durante e depois da votação. Diante das denúncias de fraude, o Brasil tem cobrado, em posição alinhada à Colômbia, que o órgão eleitoral da Venezuela, o CNE, divulgue os resultados de forma transparente (da mesma forma que o TSE faz no Brasil).

    Como isso não aconteceu, o País segue sem reconhecer os resultados. Lula chegou a dizer que a Venezuela tem um governo de “viés autoritário” – não uma ditadura -, e passou a sugerir que fossem realizadas novas eleições. A alternativa, no entanto, é rejeitada pelos dois lados.

    Antes das eleições, Nicolás Maduro atacou o sistema eleitoral brasileiro ao dizer, sem provas, que as urnas brasileiras não seriam auditáveis. A declaração levou o TSE a cancelar a missão com observadores que enviaria a Caracas.

    Desta vez, o ditador se voltou também contra os Estados Unidos e repetiu as alegações infundadas do ex-presidente Donald Trump sobre fraude na última eleição. “Trump denunciou que cometeram fraude nas eleições de 2020. E quem se meteu nisso?”, questionou aos apoiadores na plateia. ‘Donald Trump muito antes da eleição gritou “fraude”, fez como a direita aqui fez: “Se eu perder, não reconheço”‘.

    Ele seguiu apontando o sistema eleitoral americano como arcaico, em oposição ao venezuelano. E disparou: “Os gringos não têm moral para se meter nos assuntos eleitorais e políticos da Venezuela”.

    Os Estados Unidos, assim como a União Europeia e a maior parte dos países latino-americanos não reconhecem a decisão do STJ, que ratificou a vitória de Nicolás Maduro. Nesta quinta-feira, o chefe da diplomacia da UE, Josep Borrell, insistiu que o bloco não reconhece “legitimidade democrática” da eleição.

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