Luxo de segunda mão ganha impulso
Logo no início da pandemia, a empresária Gabrielle Carvalho, 34 anos, e duas amigas criaram um bazar para desapegar de peças sem uso no guarda-roupas, com a ideia de abrir espaço para novos itens e recuperar uma parcela do que haviam investido nos antigos “looks”. Diante do interesse das pessoas pelos itens, as amigas decidiram abrir o brechó “Vende, Amiga!”, focado em itens do setor premium e de luxo.
O que começou como um grupo de WhatsApp, agora, se prepara para inaugurar um ponto físico de vendas de itens de segunda mão. “Nossos principais clientes são os jovens que gostam de moda e querem consumir itens de luxo, mas com um preço acessível.” Enquanto não encontra um endereço, a empresária usa o próprio apartamento como “showroom” das peças.
Assim como Gabrielle, outros empreendedores viram no aumento da procura por itens usados uma oportunidade de negócio. Desde o começo de 2021, 6,7 mil lojas que comercializam esses itens foram abertas no País, segundo aponta um levantamento do Sebrae, que considera o pequeno varejo de diversos produtos de segunda mão – dos brechós aos sebos, além de antiquários -, sem a subtração das lojas desse ramo que fecharam as portas em igual período.
Mesmo com todo o segundo semestre de 2022 a ser contabilizado, o número novas lojas neste modelo de negócio é quase igual às aberturas dos dois anos completos anteriores (2019 e 2020): 7,1 mil unidades, uma diferença de só 6%.
Um dos motivos para a expansão de lojas de itens de segunda mão é o aumento dos preços no País, o que reduziu o poder de compra dos brasileiros. Com o orçamento das famílias apertado por dois anos de inflação elevada, o comércio desses produtos segue aquecido no Brasil.
Conforme o Índice de Preços ao Consumidor Amplo, o acumulado de 12 meses da inflação foi de 9,6%, apesar da deflação dos últimos dois meses. Em julho deste ano – dado mais recente disponível -, a variação acumulada da inflação para as roupas chegou a 18,16%, quase o dobro do índice geral para o período.
RENDA EXTRA
Ao mesmo tempo que a alta dos preços tornou menos acessíveis muitos produtos e serviços, levando as pessoas a rever o padrão de consumo, os brasileiros, que na média perderam renda no último ano, viram nos produtos sem uso em casa uma forma de levantar dinheiro extra.
“Nós começamos entre amigas, vendendo para arrecadar dinheiro e comprar outras peças, mas acabou se transformando em um negócio”, afirma Gabrielle. “Como as marcas de luxo têm feito reajustes altos nos preços, comprar um item no brechó é a única forma de consumir esse tipo de produto para muitas pessoas.”
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.