• Luto nacional

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  • 05/09/2018 12:30

    Tragédia. Irreparável perda. O mundo está perplexo com o incêndio que destruiu na noite do dia 02/09, o acervo do Museu Nacional, localizado na Quinta da Boavista, zona Norte do Rio de Janeiro. O descaso com o patrimônio histórico nacional levou à destruição desse acervo com mais de 20 milhões de itens. Não havia uma brigada contra incêndio e apenas quatro vigilantes faziam a guarda do Museu, quando o fogo se alastrou de forma incontrolável. A dor maior consiste na irreversibilidade dos danos. Dinheiro algum irá reconstruir peças e trabalhos perdidos. 

    A comunidade científica, pesquisadores, historiadores, professores, estudantes, amantes da cultura sentem-se enlutados como quem perde um ente querido. É uma dor de levar às lágrimas em função do que não se pode mais rever. E o mais triste é que tudo isso poderia ser evitado se houvesse mais respeito com a memória, com a história do país. 

    Setores como a educação e a cultura não recebem a devida atenção dos governantes. Os que lesaram e lesam os cofres públicos têm as suas parcelas de culpa nesse caos que vivemos. Essa ferida é muito profunda, imensurável. Parte da história da humanidade estava ali sem os cuidados merecidos. As instalações já demonstravam precariedades.  E a falta de sensibilidade das autoridades com as questões científicas e culturais contribui para que tragédias como essa aconteçam. O patrimônio histórico nacional precisa ser tratado com mais seriedade.

     Em 6 junho deste ano, o Museu Nacional completou 200 anos. Fundado por Dom João VI, em 1818, sob a denominação de Museu Real que, inicialmente, foi instalado no Campo de Santana, reunindo o acervo legado da antiga Casa de História Natural, popularmente chamada de “Casa dos Pássaros”. 

     Desde 1946, passou a ser administrado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), conta com 225 técnicos, cerca de 90 professores e mais de 500 alunos. Funciona hoje no palácio que foi residência da Família Real Portuguesa, entre 1816 a 1821. E, após a independência, que nesta semana se comemora, passou a ser a moradia da Família Imperial Brasileira até a Proclamação da República. Entre 1889 e 1891, sediou a primeira Assembleia Constituinte Republicana.  

    Em 1938, foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Por esses dados, fica explícita também a importância do prédio em si para a história da Nação. Reparar os danos da edificação talvez seja possível. Mas o trabalho de pesquisa que ali se reunia, muito se perdeu com as chamas, virou cinza…

    Como já se previa a possibilidade de uma tragédia como essa por falta de conservação, o reitor da universidade responsável pelo Museu buscava recursos para atender a tais necessidades. Em 2015, segundo ele, foi aprovado, no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDS), um investimento no valor de R$ 21 milhões. Desse dinheiro, cerca de 2,5 milhões seriam destinados a um sistema de combate a incêndio. Só que esse dinheiro não chegou a tempo de evitar tal tragédia.

    Esse é mais um fato que imprime duras lições a um povo sofrido por tanto descaso. Com se não bastassem as balas perdidas, as filas nos hospitais, as estradas esburacadas, o rombo da previdência, a precariedade do transporte coletivo, agora deparamos com a destruição do patrimônio público cultural.

    Para nós educadores, amantes da cultura, decretamos luto nacional pelo tempo que a nossa memória continuar sangrando…


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