• Lula e Zelenski esperaram esforço um do outro, e a paz saiu perdendo

  • Continua após o anúncio
  • Continua após o anúncio
  • 21/05/2023 12:43
    Por EDUARDO GAYER, ENVIADO ESPECIAL / Estadão

    Frustrou-se quem apostava na reunião bilateral do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, para discutir a guerra na cúpula do G-7 em Hiroshima, Japão. A verdade é que nenhum dos lados lançou mão de todos os seus esforços para viabilizar a agenda. As delegações que buscavam um horário comum sequer chegaram a tratar de um local para o esperado encontro. Com o fim da cúpula, quem saiu perdendo nessa foi a paz, supostamente almejada.

    O governo ucraniano informou ao brasileiro o interesse na bilateral ainda no sábado, 20, quando Zelenski chegou a Hiroshima poucas horas após confirmar sua presença na cúpula do G-7. No mesmo dia, o presidente da Ucrânia conseguiu se encontrar, por exemplo, com os premiês de Reino Unido, Itália, França e até mesmo da Índia, que é muito mais próxima de Moscou do que de Kiev. Mas não havia espaço na agenda do presidente do Brasil.

    Para o domingo, a equipe de Lula acenou com alguns horários disponíveis, mas aí era o ucraniano quem estava ocupado naqueles momentos. Não se discutiu em nenhum momento remanejar outras bilaterais marcadas anteriormente pelo Itamaraty. Sem a possibilidade de um encontro formal, nem um abraço rápido acompanhado por foto nas redes sociais, como feito com o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, aconteceu.

    Lula ficou sentado na plenária do G-7 enquanto outros líderes se levantavam para cumprimentar Zelenski. O presidente parece ter resistência ao estilo popstar do ucraniano, ex-comediante que tem rodado o mundo em busca de apoio e dinheiro para não sucumbir a Vladimir Putin. Não fez questão de encontrá-lo e não quer ser porta-voz da Ucrânia no Cone Sul. Mas perdeu a oportunidade de se aproximar do protagonismo sonhado na costura de um ainda distante pacto de paz entre os países em guerra.

    O interesse maior na reunião era de Zelenski, ao tentar ampliar seu leque de alianças para resistir à ofensiva russa. Mas tudo indica que ele percebeu a má vontade nos movimentos de Lula, que resistia a encontrá-lo diante da forte pressão internacional, sobretudo dos americanos, para fazê-lo. “Encontrei todos os líderes. Quase todos. Todos têm suas agendas próprias. Acho que é por isso que não pudemos encontrar o presidente do Brasil”, disse o ucraniano em coletiva de imprensa. Disse em tom de “me engana que eu gosto”.

    Para Lula, deixar o hotel em que passou a tarde em reuniões para se encontrar com Zelenski em outro lugar seria um movimento visto como “parte interessada” enquanto o Brasil quer manter o discurso de neutralidade.

    Para Zelenski, seria quase rastejar-se encontrar o brasileiro a qualquer custo, sob qualquer condição, algo incomum no xadrez delicado da política externa. Principalmente se fosse no hotel em que o petista está hospedado em Hiroshima – um local sem o aparato de segurança necessário para receber um chefe de governo em guerra.

    Torna-se imperativo um adulto na sala com distanciamento dos dois lados para diminuir as tensões globais.

    Últimas