Lula e a falácia da honestidade
Lula carrega consigo graves vícios de origem. Alguns, insuperáveis. Um deles o leva a acreditar em suas próprias inverdades. Vejam só, meteu na cabeça que “não tem neste país uma viva alma mais honesta” do que ele, “nem dentro da Polícia Federal, do Ministério Público, da Igreja Católica, da Evangélica e do sindicato”. “Pode ter igual, mas eu duvido”, proclamou em reunião com blogueiros amestrados na sede do instituto que leva seu nome.
Anda de tal forma convencido de sua honestidade, que deve acreditar que nunca soube de nada ou viu nada a respeito do Mensalão, do Petrolão e demais esquemas corruptos operados sob suas barbas. Senhor absoluto do PT, certamente admite que todos os recursos do partido caíram do céu por milagre, uma dinheirama incalculável que azeitou suas campanhas e de sua pupila.
Entende-se gênio, inteligência notável e sabedoria invulgar, características que o credenciaram a proferir conferências destinadas a plateias embevecidas com sua extraordinária cultura. E assim foi sendo generosamente remunerado por empreiteiras mergulhadas na corrupção que conduziu a maior estatal brasileira ao abismo do descrédito e da falência. Ao deixar a Presidência da República, pode acumular patrimônio de fazer inveja ao mais ilustre integrante da elite brasileira, que condena apenas para inglês ver. Foi-se o tempo da casinha modesta e da cachacinha metalúrgica no boteco da esquina, com um naco de jabá nordestino e cigarro ordinário. Agora, vinhos de safras excepcionais, harmonizados em banquetes exclusivos, com licores franceses e charutos cubanos de elevada seleção, em homenagem à meca ideológica de seu partido.
Quando eclodiu o escândalo da compra de votos, Lula declarou-se traído pelos delinquentes de seu partido, Dirceu, Delúbio, Genoíno e outros menos votados. Em seguida, como num passe de mágica – metamorfose ambulante, mudou de ideia e começou a sustentar a inexistência do Mensalão. O que o fez mudar de opinião? Ameaças, chantagem, rabo preso, como no caso do assassinato do prefeito Celso Daniel, cujo cadáver permanece insepulto? Há depoimentos confirmados de delatores que revelam como o pecuarista José Carlos Bumlai, amigo do peito de Lula, viabilizou alguns milhões de reais destinados a calar achacadores e abafar o rumoroso crime de Santo André.
No Petrolão, adotaram igual procedimento. Após alguma perplexidade, passaram a defender José Dirceu e Vaccari. Nenhum deles foi defenestrado, como aconteceu com Delúbio, mais tarde readmitido. Nem sequer Delcídio do Amaral, preso por determinação do Supremo, foi afastado do PT, embora não tenha recebido a esperada solidariedade da sigla. Todos são arquivos vivos e perigosos. E qualquer descuido pode ser fatal. Portanto, agora mais do que nunca, Lula aposta em suas falsas verdades, como imposição de uma realidade da qual procura desvencilhar-se com sofreguidão.
A indecência e ausência de castidade envolvem o antigo metalúrgico. Não há como explicar o enriquecimento de seus filhos e a vida de alto padrão que leva com sua família. Uma falácia sustentar que ninguém mais honesto do que o próprio. Trata-se de válvula de escape, pseudologia fantástica – mentira patológica, associada a uma espécie de autocomplacência, que o faz apresentar-se como vítima da Lava-Jato, pela ação dos investigadores que estariam fazendo tudo para colocar seu nome no bojo do escândalo.
A mendacidade em Lula já é doentia. Conveniente ou não, demanda tratamento médico.
paulofigueiredo@uol.com.br