Lula diz que ficou feliz com ‘química’ com Trump e espera acabar com mal-estar
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta quarta-feira, 24, que o breve encontro que teve com o americano Donald Trump ontem nos bastidores da Assembleia-Geral da ONU tem o potencial de por fim ao mal-estar nas relações entre os dois países e se surpreendeu positivamente com a reação amistosa de Trump ao encontrá-lo.
Em entrevista coletiva em Nova York, o petista disse estar aberto a falar sobre qualquer assunto com Trump, desde que a soberania do País não seja afetada, em uma referência velada à condenação criminal do ex-presidente Jair Bolsonaro, que motivou as recentes sanções e tarifas americanas ao País.
Lula sinalizou estar disposto também a negociar investimentos americanos na exploração e no processamento de minerais de terras raras, um ponto fraco da economia americana, hoje dependente quase exclusivamente da China.
O Brasil tem uma das maiores reservas mundiais desses minerais, mas todo o refino e processamento desses materiais é feito na Ásia. As terras raras hoje são essenciais para a indústria de defesa, carros elétricos e inteligência artificial.
‘Pintou uma química mesmo’
Na entrevista, Lula contou que foi surpreendido com a postura de Trump. “Já estive outras vezes ali e nao encontrei sempre com presidentes. Já estava saindo, ia pegar minhas papeletas e ia embora, quando Trump veio para meu lado com uma cara muito simpática e agradável”, contou, “Acho que pintou uma química mesmo.”
Questionado se teme alguma saia-justa provocada por Trump, como ocorreu recentemente no Salão Oval com os presidentes da Ucrânia, Volodmir Zelenski, e da África do Sul, Cyril Ramaphosa, Lula disse esperar respeito.
“Vou tratar com respeito que merece o presidente dos EUA e ele certamente merece o presidente do Brasil. São dois homens de 80 anos. Não existe espaço para brincadeira, existe espaço para conversar sobre os conflitos”, disse.
‘Fim do mal-estar’
Lula disse também que há muito o que conversar com Trump e muitos interesses em comum para Brasil e EUA. ” Fiquei muito feliz quando ele disse que será possível conversar. É o que eu quero e o que ele quer também”, afirmou.
“Eu volto para o Brasil satisfeito, otimista a Brasil e EUA fazerem uma reunião o mais rápido possível e acabar com o mal-estar que existe hoje na relação entre Brasil e EUA”, acrescentou.
O petista disse na entrevista que tanto o povo brasileiro quanto o americano esperam uma boa relação entre os dois países. Por isso, segundo ele, os problemas que afetam a relação bilateral hoje podem ser discutidos diretamente com Trump.
“Estou convencido que algumas decisões do presidente Trump se devem à (má) qualidade da informação que ele teve a respeito do Brasil e acho que ele pode mudar de decisão”, disse o presidente. “Espero que possamos voltar à harmonia e quimicamente estáveis.”
Elogios de Trump
Durante seu discurso na Assembleia-Geral, enquanto fazia algumas críticas ao Brasil, Trump mencionou de improviso seu encontro com Lula.
“Ele me parece um homem muito legal. Ele gostou de mim, eu gostei dele”, disse Trump. “Tivemos uma boa química. E eu não faço negócios com pessoas que eu não gosto.”
Em julho, Trump impôs ao Brasil 50% de tarifas nas importações do País e as atribuiu ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, de quem é aliado.
O governo americano também impôs desde então sanções ao ministro do STF Alexandre de Moraes e seus familiares, além de outros membros do governo federal e do Judiciário.
O ex-presidente foi condenado na semana passada pelo STF a 27 anos e 3 meses de prisão por crimes de golpe de Estado, tentativa de abolição violenta do Estado democrático, dano qualificado, organização criminosa armada e deterioração de patrimônio tombado.
Lula na ONU
A entrevista é a última agenda do presidente nos Estados Unidos. Ele deve retornar para Brasília nesta noite.
Participaram da reunião também a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e o embaixador do Brasil na ONU, Sergio Danese.
Nos últimos três dias, Lula se reuniu com os presidentes da Ucrânia, Volodmir Zelenski, e do Peru, Dina Boluarte, além de abrir a Assembleia-Geral da ONU e participar de reuniões sobre as mudanças climáticas e a questão palestina.