• Lojista diz que deixa infectados trabalharem e reacende polêmica sobre profilaxia

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  • 01/04/2021 20:41
    Por Redação/ Tribuna de Petrópolis

    O que começou com a tentativa de reivindicar a reabertura do comércio não essencial em Petrópolis se transformou em um ringue de luta que envolveu um empresário da Rua Teresa, dois vereadores e até um médico. As redes sociais foram só confusão e gritaria nesta quarta e quinta-feira (1º).

    Sem a eficácia comprovada e desaconselhada para o tratamento da covid-19 pela própria fabricante, a ivermectina acabou virando combustível para colocar mais lenha na fogueira entre quem é favor e contra o tratamento precoce.

    A declaração sincerona que causou a discórdia

    De um lado do ringue, está o empresário Nelson Baptista, proprietário da loja Oxigênio, na Rua Teresa. Ele defendeu o tratamento precoce, em entrevista. Baptista disse que distribuía a ivermectina aos funcionários e foi além: alegou que permitia que contaminados pelo novo Coronavírus continuassem trabalhando.

    Do outro lado do ringue, está o médico Diogo Antunes Macedo, que foi coordenador da Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) do Centro. Diogo publicou vídeo alertando sobre o aumento de casos de covid-19 e criticando a postura de quem defende o tratamento precoce. Na mesma linha, o vereador Yuri Moura (PSOL) fez uma representação contra o empresário no Ministério Público do Trabalho denunciando o risco a que expôs os funcionários.

    Separa a pipoca e senta que lá vem história

    Apresentados os lados, é só se acomodar no sofá e conferir um resumo da timeline das redes sociais para acompanhar o barraco. Sim: o show de ofensas foi todo feito em postagens públicas no Facebook e no Instagram.

    Tudo começou na tarde desta quarta-feira (31), quando empresários queriam se reunir com o prefeito interino para reivindicar a reabertura do comércio não essencial e deram de cara com o portão trancado. Em meio ao fuzuê, o empresário Nelson Baptista concedeu uma entrevista ao site Giro Serra afirmando que comprou ivermectina para medicar seus funcionários.

    “O covid veio para ficar, nós todos vamos pegar covid. Não tenha dúvidas. Mas tem que fazer o tratamento precoce. Lá na minha empresa eu pago ivermectina para todos os meus funcionários. E já teve caso de funcionários que pegaram covid e foram tratados às minhas custas, e não faltaram um dia se quer de trabalho. Porquê? Porque estavam se sentindo bem. Porque estavam sendo medicados”.

    A declaração polêmica viralizou inclusive na imprensa nacional, sendo publicada em veículos como UOL e o site do jornalista Sidney Rezende, apresentador da CNN Brasil.

    Caso vai parar no Ministério Público do Trabalho

    Após a declaração do empresário viralizar, o vereador Yuri Moura (PSOL) entrou com representação no Ministério Público do Trabalho contra a ação do empresário. “Não existe tratamento precoce. É muita irresponsabilidade vender um falso remédio ao povo. Isso diminui o engajamento social e a dedicação de todos com as medidas de proteção”, disse Moura.

    O desabafo do médico: “turma canalha” que “faz carreata em vez de pedir vacina”

    O grupo de empresários pedia ao prefeito interino Hingo Hammes (DEM) que o governo provisório voltasse atrás com o decreto que fechava algumas atividades, autorizando a reabertura das lojas. O evento contou com a presença do vereador Octávio Sampaio (PSL), entusiasta do tratamento precoce e profilático contra a covid-19.

    Octávio Sampaio foi o autor de indicação, aprovada pela Câmara, que pede o uso da ivermectina pelo SUS. O parlamentar bolsonarista, que diz usar o remédio regularmente como medida de prevenção, postou um vídeo nas redes sociais tomando o medicamento. Octávio também lidera em Petrópolis o movimento contra medidas restritivas e a favor do tratamento precoce contra a covid-19. No último sábado, o grupo fez uma carreata pelas ruas da cidade defendendo essa pauta.

    Em meio a esse cenário, o médico Diogo Antunes Macedo fez um desabafo nas suas redes sociais sobre a situação atual do município. No vídeo, o médico critica a postura de quem está saindo e se reunindo em churrascos sem necessidade.

    “Ou a gente fecha a cidade de vez e tudo, ou não sei o que vai acontecer. Porque as pessoas vão morrer em casa sem assistência. E a culpa, de novo, é de vocês. E de todos vocês que estão fazendo isso errado. Vocês que fazem carreata na rua ao invés de pedir vacina pra todo mundo, porque é a única saída. Vai pra rua pra pedir tratamento precoce. Vocês, essa turminha canalha, safada. Que nós estamos cansados dessa gente nojenta. Estamos com mais de 300 mil mortos e as pessoas vão pra rua pra pedir tudo aberto. Isso é uma insanidade isso é uma canalhice com o ser humano”.

    O desabafo do médico também viralizou nas redes sociais. E, se sentindo “parte” na discussão, o vereador Octávio Sampaio não deixou por menos: gravou mais um vídeo em resposta ao médico.

    “Olhem esse vídeo, é esse tipo de médico que vai atender você na UPA. Vai receitar o quê? Você vai chegar lá com sintoma de covid. Ele vai te dar o quê? Ah, se você sentir febre toma uma dipirona, se piorar volta pra cá. Volta pra cá pra quê? Para ser entubado, morrer? É esse tipo de sujeito que critica o tratamento precoce e chama a gente de que defende o tratamento precoce de canalha”.

    Chama o Geppetto! Após o caldo entornar, empresário diz que era tudo… fake news

    Após a grande repercussão negativa do seu depoimento na entrevista, Nelson Baptista divulgou uma nota, em tom muito diferente do calor da aglomeração na frente do Palácio Sérgio Fadel, dizendo que… mentiu. Isso mesmo: mentiu na entrevista.

    “Na ânsia de tentar resolver o problema em que o empresariado local se encontra, e no desespero de ver as lojas fechadas e em risco de falência, acabou fornecendo “inverdades” sobre a situação exposta”.

    Nelson esclareceu na nota que “em 2020, no primeiro fechamento total do comércio, a empresa de Nelson reduziu o quadro de funcionários e hoje conta apenas com uma colaboradora – que, há seis meses, positivou para covid, mas que recebeu todo atendimento médico na rede pública e permaneceu em casa pelo tempo recomendado: 14 dias”, diz a nota.

    Ele afirmou ainda que nem sequer ofereceu ivermectina para algum colaborador. E se desculpou pelas palavras equivocadas, que ele classifica que foram ditas no “calor da emoção”, provocado pelo momento de protesto.

    Afinal: pode isso, OMS?

    De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a resposta é não. Nesta quarta-feira, a organização recomendou o não uso da ivermectina para o tratamento precoce contra a covid-19. Até o momento, não há nenhum estudo científico e médico que comprove a eficácia do medicamento no tratamento precoce ou no combate aos sintomas da covid.

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