• Lixo deprimente

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  • 14/01/2017 08:00

     Passear por Petrópolis neste começo de ano foi deprimente. Já é penoso lidar com ruas estreitas, automóveis engarrafados e rios que transbordam; com placas de sítios históricos vandalizadas e a pichação nas costas do Pedro II da praça, que jamais se consegue limpar; com monumentos sumidos, como o de Gago Coutinho na Praça da Liberdade e o do canteiro da estrada em Itaipava… E coisas de duvidoso gosto cravadas em nossas ruas, destoando da estatuária local, como a escultura branca fora da catedral e o busto que se diz Guerra Peixe; afora prédios despencados, casas comidas de umidade e o gramado da Câmara ocupado de forma vândala, não raro, por usuários de drogas… Não bastasse tudo isso, chega a explosão de lixo a céu aberto. A Locar, que fazia a coleta, virou o ano e parou o serviço, alegando débitos do governo anterior. O novo governo, às pressas, botou a Comdep na rua, em coleta de emergência. Quando esse texto sair, espera-se que a maior parte da lixarada tenha encontrado aterro, mas hoje, é grave a situação. Lixeiras e caçambas com avalanches de sacos plásticos, arrebentados por cães fuçadores de escória, cercados de mosquitos, ratos e mau cheiro. Diz a Prefeitura que a cidade gera 272 toneladas de lixo por dia. Imagine o absurdo de dias sem coleta. 

     Lixo é problema que vem se agravando. Nos anos 80, a média de produção de lixo por brasileiro era de meio quilo. Hoje, a média é superior a um quilo. São Paulo chega a 1,5 kg. No Japão, 2 kg. Quanto mais industrializada a cidade ou país, mais lixo produz. Mais embalagens plásticas e menos material biodegradável. E joga-se muita comida fora. Uma família de classe média desperdiça meio quilo de comida por dia, enquanto tantos famélicos reviram aterros de lixo para catar sobrevivência indigna. Há o problema do supremo egoísmo de atirar lixo pela janela do carro, e a suprema burrice de atirar lixo dentro dos rios. Conclusão. Produzimos muito lixo desnecessário, jogamos no lixo coisas que poderiam ser aproveitadas, e o lixo que produzimos e a forma com que o descartamos revelam nossa falta de solidariedade e nosso precário senso de humanidade. 

     Regras básicas nos ajudariam. Primeiro, criar consciência de que as coisas não desaparecem por encanto. Lixeira não é mágico sumidouro de detritos. Na natureza nada se perde, as coisas só mudam de estado ou de lugar. Apodrecem. Quando vai para o aterro sanitário, o lixo fica fermentando, dando gases tóxicos que vão às nuvens. E se o lixo é queimado, vira fumaça contaminada que vai às nuvens. Logo, nuvens de veneno, caindo em chuvas sobre nossas águas e nossas hortas. Ou seja, o lixo que produzimos sempre volta, em venenos que respiramos, bebemos e comemos. Faz-se imperativo de sobrevivência reduzir nossa produção diária de lixo. Para tanto, urge comprar menos, consumir menos, reciclando em casa mesmo tudo que pudermos. Só jogar fora o que for realmente inaproveitável. E depositar o lixo, adequadamente embalado, em corretas lixeiras. Papéis e plásticos aqui, orgânicos ali, vidros lá, pilhas e eletrônicos acolá. Ao poder público cabe recolher o lixo regularmente e descartar adequadamente o que for imprestável, promovendo a reciclagem de tudo que puder ser reaproveitado. E, da mesma forma que quando acampamos a boa educação exige recolher o lixo que produzimos, sem deixá-lo para o próximo, jamais – com todo respeito – um governo deveria deixar lixo para o governo seguinte.

    denilsoncdearaujo.blogspot.com

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